Uma opinião de Nuno Correia da Silva, administrador de empresas
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O debate sobre a venda de bebidas alcoólicas nos estádios voltou à agenda mediática e ainda bem.
O futebol é mais do que um jogo, é uma experiência que deve ser aproveitada e potenciada. Cada vez mais a ida ao estádio é, também, um grande ponto de encontro. Ponto de encontro de famílias, de amigos ou apenas de adeptos.
Claro que a imperial/fino deve fazer parte do jogo, como a bifana, o prego ou cachorro. Mas, em Portugal não é permitido vender álcool nos estádios, com a excepção das zonas “VIP”
Os 90 minutos do jogo, propriamente dito, são uma pequena parte da expectativa do adepto. A ida ao jogo é muito mais do que isso, é um momento de partilha, de confronto de opiniões (tantas vezes saudavelmente acaloradas), de discutir as estratégias, opções do treinador, as decisões da Direcção, ou seja, de viver, sentir e participar na vida do clube. Imaginar estas múltiplas relações acompanhadas de um copo de água é bizarro, não faz sentido.
Claro que a imperial/fino deve fazer parte do jogo, como a bifana, o prego ou cachorro. Mas, em Portugal não é permitido vender álcool nos estádios, com a exceção das zonas “VIP”.
Confesso que se tivesse poder de decisão num clube, classificaria todo o estádio como zona VIP.
É muito pouco democrático e acarreta uma discriminação negativa que não se encaixa no espírito do futebol.
Os defensores da proibição alegam que os adeptos têm de estar sóbrios, mas esquecem-se que o resultado é o oposto, como não podem beber durante o jogo, bebem enormes quantidades antes de entrar no estádio. É obvio que é isto que acontece, o resultado da proibição é absolutamente perverso face aos seus propósitos.
Nos países onde é permitida a venda de cerveja durante os jogos, não há mais violência ou desacatos, pelo contrário. Os jogos nos Países Baixos ou na Alemanha são experiências fantásticas, onde os adeptos vão cedo para os estádios, sabendo que poderão conviver, assistir a espetáculos que antecedem o jogo, onde podem jantar em família ou em grupo de amigos, onde podem celebrar, com álcool, moderadamente, mas não com água.
A ideia de que o adepto é um perigo em potência e que tem de ser controlado não encaixa na nossa cultura, tem de ser convicta e fortemente combatida.