PLANETA DO FUTEBOL - Uma análise de Luís Freitas Lobo
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Um erro individual, o aninhar de Otamendi num atraso falhado, no último suspiro do jogo a castigar uma exibição em que a equipa arrastou um total vazio de ideias. A jogada mais improvável no golo do empate do Santa Clara, após tanto tempo só com dez jogadores frente aos movimentos fantasmagóricos do onze encarnado. O sintoma mais claro desta sentença coletiva está até as bancadas, no final, aplaudirem Otamendi (o erro individual que deu o golo) e assobiarem a equipa (a exibição deprimente que deu o empate).
O erro individual de Otamendi deu o golo. A exibição deprimente de toda a equipa é que deu o empate
O regresso do Benfica nacional em casa tivera a resposta na proporção tática indicada do jogo da equipa grande contra equipa média/pequena: um sistema de dois pontas-de-lança. Esta versão já aparecera no início da época, mas a necessidade de maior controlo a meio-campo nos jogos de Champions levara então a outra resposta, com a proporção tática do terceiro médio de pressão adiantado. É uma opção menos ofensiva, mas taticamente mais equilibrada. A opção contra o Santa Clara é mais ofensiva na presença no centro do ataque, mas é taticamente mais desequilibrada porque perde a cola dos três médios para jogar com o meio-campo “a dois”.
A falta de área de construção
Não existe zona de construção e promove o protagonismo do “médio maratonista” no corredor interior.: Ríos. Com essa excessiva exposição espacial, esbate-se o seu valor porque lhe exigem além do que é (um n.º 8 de apoios-duelos). Não é criativo, nem organizador. É um bom “médio de equipa”, mas não lhe peçam que a arrume por si só.Desta forma, num 4x4x2 clássico sem zona de criação a meio-campo, fica com dois n.º 9, mas sem jogo criativo, nem jogadores com esses traços que criem lances para eles.
O nulo ao intervalo, em superioridade numérica, exigia que Lage mudasse. Mexeu nas peças sem mexer na estrutura. Ou seja, meteu o terceiro médio criativo que se pedia, mas encostou-o a uma faixa, a direita. A falta de criação interior manteve-se num 4x4x2 clássico, onde a única ténue diferença a espaços era ser mais Pavlidis a recuar e jogar atrás de Ivanovic.
Sem nunca mexer no sistema
Lage falou, antes do jogo, que a combinação entre os dois precisa de crescer e que isso não é só treino, mas até colocá-los juntos na mesa para falarem mais um com o outro, sobre movimentos interligados. É verdade, mas o vazio de criatividade da equipa é muito mais profundo. É tático, do onze. Por isso chocou sempre contra a “linha de 5” do Santa Clara e só fez o golo numa bola parada. Lance isolado num problema global (ausência coletiva de ideias e movimentos criativos).
Sudakov entrou pela primeira vez. Vinte minutos encostado à faixa esquerda a ver a equipa a correr por dentro sem criação. Bastou ir uma vez dentro, conduzindo a bola até fazer um belo passe de rutura, para mostrar como a equipa precisa de um criativo no centro desde o meio-campo. É demasiado evidente.