Opinião do jornalista Carlos Flórido
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Por definição ou feitio, não gosto do termo que uso em título. É triste tradição nossa escrever ou dizer “luso-qualquer coisa” para deixar críticas, sejam ou não diretas. Pedro Pichardo, que deveria estar nos nossos corações integrado na galeria de melhores atletas portugueses de sempre, nunca figurou ao lado de Carlos Lopes, que já igualou nas medalhas em Jogos, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro ou Nelson Évora. São os nossos campeões olímpicos e o último deles tem alguma responsabilidade nos estigmas em relação a Pichardo, embora este tenha as maiores culpas.
A naturalização de Pichardo, muito discutida, nunca o deveria ter sido. Tornou-se português em meio ano, um tempo recorde, mas por uma questão de interesse nacional, ponto final. Sem isso não teríamos um ouro e prata olímpicos, nem o recorde de quatro medalhas nos Jogos de Tóquio’20, que em Paris podemos igualar.
Mas Pichardo, que escolheu Portugal como seu país depois de fugir de Cuba, falhou depois em vários aspetos. Ao contrário de Francis Obikwelu, que colocava a mão no coração quando ouvia a palavra Portugal e recusou de pronto quando a Espanha o convidou, nos anos do vale-tudo em naturalizações, o saltador vive escondido no seu mundo familiar, criando uma bolha que faz dele um quase desconhecido. É curioso, essa “bolha” devia ser vista como positiva, pois a um atleta de alta competição o que se pede é recato e concentração no treino, mas neste caso, e tirando o orgulho que Pinhal Novo e Palmela sempre revelam, por o terem a viver lá, é prejudicial aos Pichardos. E as polémicas com o Benfica não vieram ajudar.
É provável que o estigma do luso-cubano nunca desapareça, por mais que Pichardo ganhe, e isso faz pena. Gostaria de o ver, como Pepe, Deco, Obikwelu ou o saudoso Quintana, a ser tratado como um dos maiores portugueses da história. Ainda vai a tempo, mas depende dele. E não do que salta.