CARA E COROA - Um artigo de opinião de Jorge Maia
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A maioria dos portistas não queria ver Pinto da Costa deixar a presidência do FC Porto com uma derrota eleitoral. Arrisco mesmo a dizer, sem grande medo de me enganar, que até André Villas-Boas teria preferido chegar à presidência de outra forma, que não fosse substituído aquele que recorrentemente chama de Presidente dos Presidentes. 42 anos é muito tempo, mas os portistas não esquecem o que o clube era quando Pinto da Costa chegou à presidência e naquilo em que se transformou nas quatro décadas seguintes. Não esquecem os anos que passaram a temer atravessar a ponte sobre o Douro, nem a forma como passaram a atravessar oceanos para celebrar títulos internacionais. Os portistas queriam que Pinto da Costa saísse por uma porta tão grande como as que abriu ao clube, mas cansaram-se de esperar que ele abrisse essa porta e os poupasse à necessidade de o empurrar por sentirem o clube a perder o fôlego para acompanhar o ritmo dos rivais. Acaba uma história com 42 anos, começa uma nova, com André Villas-Boas.
Ontem, quase 30 mil portistas votaram nas eleições mais participadas de sempre no clube, dobrando o anterior recorde naquela que foi uma demonstração de vitalidade associativa e, mais do que isso, uma lição de democracia no mês em que ela se festeja. Depois do dano tremendo que a Assembleia Geral de 13 de novembro provocou na imagem do FC Porto, o civismo que marcou o ato eleitoral de ontem, com milhares de adeptos portistas lado a lado em filas intermináveis sem qualquer vestígio de perturbação, apesar das diferenças de opinião que eventualmente os separavam, é, desde logo, uma vitória para todos os portistas que provaram que uma mão-cheia de arruaceiros não os representam. Por outro lado, se a mobilização recorde para este ato eleitoral reforça a legitimidade do presidente eleito, também lhe aumenta a exigência. André Villas-Boas ganhou as eleições, mas o verdadeiro desafio começa agora, sob o peso da gigantesca herança deixada por Pinto da Costa e da responsabilidade que este enorme voto de confiança dos sócios significa. Recuperar o clube financeiramente, mantê-lo competitivo no plano desportivo, reforçar o ecletismo e criar as infraestruturas para cumprir a promessa da aposta na formação é um caderno de encargos exigente. André Villas-Boas tem quatro anos para mostrar aos sócios que fizeram a escolha certa ontem.