PLANETA FUTEBOL - Uma opinião de Luís Freitas Lobo
Corpo do artigo
1- Um estádio pintado de vermelho perante a jogada mais temida logo no início do jogo. Os olhos esbugalhados de medo quando a bola entrou (num passe longo de Pote) no tal espaço da profundidade para Gyokeres correr com ela desde a esquerda. Os defesas a tentar fechar todos os espaços, mas, de repente, já estava Trincão (o bigode mais vagabundo criativo do campeonato) solto no meio a rematar cruzado. Golo!
O Benfica não resistira a querer entrar a dizer que aquela era a sua casa e tinha que mandar nela a atacar desde o primeiro momento. Mal perdeu a bola, deu a oportunidade ao Sporting do contra-ataque sonhado, a face leonina ofensivamente mais perigosa.
Procurar a criação de espaços com movimentos que embora esperados rompem a previsibilidade pela forma como ora se ligam com o recuo de Trincão, ora se lançam com os passes de Pote tendo os laterais em apoio (sem perder a visão nas costas) e dos médios-centro de duelos “comedores de bola e metros”, Hjulmand-Debast.
Um primeiro tempo competente onde se sentiu mais seguro até que o Benfica desencaixou as marcações na segunda parte.
2- O Benfica estava obrigado a jogar no território tático leonino. Ter bola e combinar em ataque organizado posicional num espaço de 30 metros com o Sporting, no limite, a fechar a 5 com linhas juntas.
Neste cenário, o talento individual conta muito e o drama começa quando os jogadores mais diferenciados não engatam a jogada (passe, movimento, remate) no momento certo.
Akturkoglu a procurar diagonais de desequilíbrio, Di María a querer inventar por dentro. O melhor: o elo de ligação num ponta-de-lança, Pavlidis, com visão de apoios para colar a organização e circulação de bola quando recuava uns metros e a recebia no meio de costas.
Enquanto Gyokeres parecia jogar montado numa cobra desde a esquerda, Di María tentava ganhar o jogo sozinho a cada bola que se aproximava dele, tanto o podendo levar a ser heroico como precipitado. A entrada de Schjelderup inverteu essa ordem (desencaixou marcações) e deu uma lógica mais coletiva ao talento que continuava a ser a carta mais alta a lançar no jogo.
Foi assim que, além da noção de jogo de equipa, Pavlidis a lançou num rasgo em que serpenteou como “monstro com pés de bailarino” na área sportinguista até dar o golo do empate num jogo que, nessa altura, era dominado pelo Benfica a encostar cada vez mais atrás o onze leonino.
3- Todos no processo atacante continuado do Benfica queriam a bola para soltá-la a um-dois toques, mas nem sempre viam a linha de passe aberta para o fazer.
Aproveitar toda a largura do campo para tentar fazer dançar a organização defensiva verde que se afundava na segunda parte sem conseguir voltar a mostrar ao adversário o contra-ataque que ele temia mais. Quando juntou Belotti e Pavlidis, ainda enjaulou mais o posicionamento defensivo verde, que nem a entrada de Quenda voltou a conseguir soltar.
4- Este Sporting entrega-se à sua ideia de jogo com sentido dos aventureiros do ataque rápido. O poder de decisão exigia também controlar as emoções e isso obrigou o bloco a juntar-se numa longa segunda parte atrás da linha da bola chefiado por um médio que devora todo o jogo nos duelos, recuperações e controlo: Hjulmand, o poder tático personificado num jogador que agarrou o meio-campo pelos colarinhos e nunca o deixou fugir do seu controlo.
Tal sentiu-se mesmo quando Morita entrou numa fase em que Debast estabilizava melhor a equipa. Seja quem tiver ao lado, a base de todas as formas de vida táticas deste Sporting (em todos os jogos) tem os pilares nas duas pernas de Hjulmand.
Não se trata de maior sofisticação tática, mas sim de melhor funcionamento da equipa em três fatores decisivos: posição, pressão, passe.
Um triângulo de vida que tanto funciona para atacar (com profundidade) como para defender (mesmo recuando). Depois do golo, o instinto de sobrevivência. Superioridade estratégica porque os jogadores sabem quando têm de segurar.
O duplo Pavlidis e a resposta defensiva