Hoje, a Seleção Nacional ganha quase sempre, mas o passado foi negro. Era sempre azar ou éramos roubados, como no Festival da Eurovisão
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Cresci no meio de muitas vitórias morais da Seleção Nacional. Ninguém como Portugal vencia moralmente os jogos, embora os perdesse efetivamente. Quase sempre era azar.
Aquilo incomodava-me muito, a sério, tal como me perturbava que no Festival da Eurovisão fôssemos sempre "roubados", porque, que diabo!, havia lá melhor canção do que a Desfolhada, da Simone de Oliveira, ou da Tourada, do Fernando Tordo?
Vingava-me destas injustiças nos jogos de futebol, na rua adjacente à fábrica de conservas Aguiar Pedroso (sim, havia muitas conserveiras em Leça da Palmeira, hoje acho que não há nenhuma), fazíamos jogos "Portugal-Espanha"; eu, que normalmente era o dono da bola, vestia sempre o papel de um jogador português, normalmente era o Jaime Graça. E, ali sim, não havia uma única derrota nossa, ganhávamos sempre, à custa de muita canelada, muita porradinha, muita pedrada. Não havia cartões, nem VAR, o que, bem vistas as coisas, era uma vantagem, uma saudável anarquia.
Lembro-me de ter a primeira grande alegria da Seleção era uma criança, a 20 de novembro de 1974, estava Portugal a viver uma efervescente e feliz época revolucionária, caminhando a passos largos para a liberdade. Portugal jogou em Wembley contra a poderosa Inglaterra, que nos ganhava sempre, nem que fosse a fazer batota (1966).
Com um meio campo de rasteirinhos (João Alves, Octávio Machado, Adelino Teixeira e Vítor Martins), os portugueses calaram os ingleses (0-0), que tinham dito dias antes que iam arrasar. Um grande Vítor Damas, o melhor guarda-redes de sempre do futebol luso, deu uma grande ajuda.
Acho que Portugal começou a acreditar a partir daí que não tinha de entrar derrotado. Ah, o selecionador era um tal José Maria Pedroto...
Hoje, Portugal ganha quase sempre. Portanto, temos que ter mais paciência quando tem dificuldades para vencer. É melhor do que as falecidas vitórias morais...