PLANETA DO FUTEBOL - Uma análise de Luís Freitas Lobo
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1 - Completada a primeira fase do Mundial de Clubes, está feita a divisão da Europa com a América do Sul brasileira (caíram as argentinas) com três intrusos de “outros mundos” que vão desafiar esse domínio. O Monterrey da loucura do futebol mexicano, o Al Hilal do faraónico futebol saudita e o incrível Inter Miami com estrelas vindas de outro tempo guiadas por Luiz Suárez e Messi.
Neste universo paralelo, os “rayados” de Monterrey vão tentar, contra o B. Dortmund, o que nunca conseguiram na sua história: em 14 vezes, vencer um clube europeu. A equipa de Domènec Torrent tem a arma da organização defensiva, com o “caudillo” espanhol Sérgio Ramos, 39 anos, e o baixinho Oliver Torres ainda a fazer mexer a bola no meio-campo, mas sente, claramente, mais dificuldades para criar ofensivamente (que pede os melhores Ocampos, na mudança de velocidade na frente, e Canales, para pegar no jogo mais criativo, aos 34 anos).
2 - Os europeus continuam a olhar para as equipas brasileiras com demasiada ternura. Isto é, por mais que elas cresçam competitivamente, sentem que a qualquer momento podem puxar dos maiores galões táticos e físicos. A verdade é que quando a componente da organização se une à qualidade técnica, o desafio fica diferente.
É nesse contexto que emerge Filipe Luís como o novo treinador brasileiro do futuro. Ele tem as bases do treino (e visão de jogo) europeias, apanhadas como jogador e adjunto (tendo apontado todos os treinos de Jesus). Este Flamengo é a imagem dessa evolução.
A forma como Jorginho (todo feito pelas regras táticas europeias) organiza jogo naquele meio-campo (com o chileno Pulgar ao lado) mostra como a equipa conhece o coração do jogo fora do conceitos dos “meias” (aquele tipo de jogador que nem é médio nem avançado que o brasileiro tanto cultivou a jogar solto em torno do avançado-centro). Ou seja, este Flamengo tem meio-campo com um treinador brasileiro de cultura europeia. Vê-se nos falsos alas a jogar por dentro (Arrascaeta) e na velocidade que procura meter na profundidade desde a faixa (com Gonzalo Plata ou Bruno Henrique).
3 - No fundo, vendo o traço tático do Palmeiras de Abel e o Botafogo de Renato Paiva (que se defrontam), a equipa mais brasileira a jogar é o Fluminense. Notam-se todos os desequilíbrios pós-perda da bola provocados pela forma como quer atacar. Renato Gaúcho vive a pensar no momento ofensivo, sujeitando o defensivo a ser uma compensação nas costas.
O jogo é todo pensado por Martinelli e vive dos arranques de Arias, um colombiano de ziguezagues no ataque, onde German Cano (37 anos) joga de cor em busca de adivinhar onde a bola vai cair. O confronto que irá ter com o Inter, desafia todos os equilíbrios táticos que o Calcio lhe vai atirar para cima.