PASSE DE LETRA - Um artigo de opinião de Miguel Pedro
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Em 2009, a conferência de Imprensa de Jorge Jesus, então treinador do Braga, após uma derrota na Luz com o Benfica, ficou famosa. Quando lhe perguntaram quando é que o Braga conseguiria ser campeão, respondeu: “Se calhar, só na Playstation é que se resolve isso…”. A frase foi o culminar das críticas do então treinador bracarense à arbitragem totalmente escandalosa de um tal Paulo Batista, que, de forma ostensiva e manifesta, prejudicou sistematicamente o Braga, numa arbitragem vergonhosa que ficou na história pelas piores razões.
Desde 2009, as coisas mudaram e melhoraram muito: houve - e continua a haver - um esforço da Liga e do Conselho de Arbitragem para proporcionar aos árbitros as melhores condições de treino, de remuneração, de formação, etc. Introduziram-se novas tecnologias para suprir as deficiências da perceção humana e ajudar os árbitros nos juízos dos lances mais relevantes, como os golos, os foras-de-jogo, as grandes penalidades ou as expulsões. Mas, apesar disso, há coisas que nunca mudam. A cotovelada de Otamendi a Zalazar, que foi expressiva, ostensiva, manifesta e violenta, não mereceu qualquer reparo disciplinar, nem pelo árbitro de campo, nem pelo VAR, apesar de toda a panóplia de tecnologia de que dispõe. Como explicar isso? Tenho para mim que a explicação se encontra na cor da camisola: há camisolas que funcionam como atenuantes disciplinares para os comportamentos dos jogadores que as vestem. Isso já era assim há muito tempo e não mudou. Um jogador que envergue uma camisola de um dos três ditos grandes (também designados por alguns como “eucaliptos”) tem atenuantes disciplinares. E isso até se percebe, pois os árbitros, que são comuns mortais, com famílias e que precisam de sustento, têm um maior medo (inconsciente) de errar quando têm de ajuizar um comportamento de um jogador de um dos ditos grandes (ou “eucaliptos”).