PASSE DE LETRA - Um artigo de opinião de Miguel Pedro
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O empate em Alvalade deixou-nos de coração cheio. Por um lado, por afastar, de certa forma, os fantasmas das goleadas recentes que, como referi na minha anterior crónica, começavam a ser um verdadeiro trauma. Por outro lado, porque foi um jogo em que a equipa, no seu todo, foi, ao mesmo tempo, estoica e inteligente, o que nos dá a esperança de um final de temporada positivo, na procura pelo lugar no pódio.
É certo que o início do jogo foi duro: o Sporting entrou com tudo e, tendo excelentes executantes, rápidos e com grande técnica, encostou um pouco os arsenalistas às cordas. Mas estes foram estoicos, resistentes e guerreiros, como já demonstraram várias vezes ao longo da época. Defenderam, agarraram e resistiram ao primeiro impacto, que foi duro. Depois veio a inteligência. Tinha escrito, no meu texto da semana passada, sobre a ideia dos milagreiros, enquanto recurso para sairmos de Alvalade com um resultado positivo. Para um materialista e ateu (ou, no mínimo, agnóstico) como eu, os milagres residem no interior das próprias pessoas: são estas que conseguem feitos extraordinários e não necessitam da intervenção de entidades sobrenaturais para o efeito. Um dos mecanismos de que os humanos dispõem para alcançar objetivos é o uso da inteligência. Ou, nas palavras de Howard Gardner, psicólogo da Universidade de Harvard, o uso de “Inteligências Múltiplas”. Para ele, a inteligência não é algo único e mensurável apenas por testes de QI, mas sim um conjunto de diferentes habilidades: a inteligência lógico-matemática, a linguística, a espacial (dimensional), a corporal (dos bailarinos e dos atletas), a interpessoal (emocional) e outras. E foi o uso combinado de algumas destas inteligências que levou ao empate de Alvalade.
Carvalhal soube, na segunda parte, ler o jogo e acalmar os ímpetos do adversário, controlando os aspetos emocionais dos jogadores e, num misto de inteligência lógica (a do xadrez) e espacial (a dos arquitetos e engenheiros), foi ocupando os espaços do relvado, retirando o protagonismo aos jogadores do Sporting e entregando-o aos do Braga. Até que um jogador, de nome Patrão, assumiu todo o protagonismo, passando do anonimato dos sub-19 ao estrelato (ainda que efémero) das primeiras páginas dos jornais. No final, Carvalhal entregou todo o mérito aos jogadores, como teria de ser, e não se esqueceu de mencionar Custódio (treinador da equipa B), Wender ( dos sub-23) e Pedro Pires (dos sub-19). Um por todos e todos por um…