É urgente que o futebol português se livre de tribalismos autistas e comunique no sentido de encontrar o melhor caminho comum
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A presença de André Villas-Boas no velório de Manuel Fernandes não devia ser, mas é um sinal dos tempos. E é um bom sinal. Porque tem de ser normal que o presidente do FC Porto preste a devida homenagem pessoal e institucional a um dos maiores símbolos de um rival histórico como o Sporting, claro, mas também pelo que pode significar em termos do que são as relações entre os grandes clubes portugueses e não só.
Porque é urgente que o futebol português se livre de tribalismos autistas e comunique no sentido de encontrar o melhor caminho comum para recuperar a credibilidade e competitividade internacional. Há dias, no Congresso Future Stage, organizado pelo Braga, o CEO da Eredivisie, Jan de Jong, fez uma apresentação que todos os clubes portugueses deviam ter ouvido, explicando o caminho que os Países Baixos fizeram para ultrapassar Portugal no ranking da UEFA. E tudo começou pela consciencialização de que o futebol neerlandês só podia crescer em conjunto, com mais do que dois ou três clubes a pontuarem para o ranking. Era preciso aproveitar a oportunidade dada pela Liga Conferência para pontuar e, para isso, os clubes médios tinham de aumentar sua competitividade. Claro que, por cá, ideias como a partilha de uma percentagem considerável das receitas da UEFA dos clubes mais fortes com os restantes soa a uma utopia. A criação de uma empresa em parceria com um gigante do entretenimento como é a Disney para a comercialização centralizada dos direitos televisivos soa a ficção. E, no entanto, olha-se para o ranking, vê-se os Países Baixos a crescer enquanto Portugal encolhe, e restam poucas dúvidas sobre qual é o caminho certo. Não é, certamente, a fixação de cada clube no respetivo umbigo, como se não fizesse parte de um ecossistema comum aos restantes. André Villas-Boas deu o mote para que as relações entre clubes se normalizem, primeiro, e passem ao estágio seguinte logo a seguir, que o tema é urgente. Será sempre um desafio convencer as respetivas tribos de que falar com o vizinho do lado não é um sinal de fraqueza, mas como dizia alguém, um líder leva as pessoas para onde elas querem ir; um grande líder leva as pessoas para onde elas não querem necessariamente ir, mas para onde devem estar. E o futebol português precisa de grandes líderes para sobreviver numa Europa que não espera por ninguém.