REMATE DE PRIMEIRA - Um artigo de opinião de Alcides Freire, diretor adjunto do jornal O JOGO
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1 As expectativas não marcam golos, mas marcam uma posição. Nos últimos anos, o Sporting criou a imagem de que sabia o que fazia no mercado de transferências, ora vendendo bem, ora - em especial - revelando uma pontaria que durante muito tempo não se associou ao clube de Alvalade. Janeiro de 2025 pode não ser suficiente para escurecer o brilhantismo de outras investidas - além de factualmente injusto -, mas não está a ajudar uma estrutura em vias de perder Hugo Viana para o Manchester City e que, entretanto, viu Rúben Amorim abandonar o comboio, a meio da viagem para um provável bicampeonato.
Tudo isto vem a propósito da contratação de um lateral-direito que a mudança de esquema tático - por força da chegada de Rui Borges, depois do enorme falhanço (outro!) que foi João Pereira - tornou prioritário. O que aconteceu com Alberto Costa e Andrés García não é fácil de explicar. O lateral do Vitória chegou a confidenciar em Guimarães que estaria a caminho do Sporting; o presidente do Levante confirmou, ao vivo e em direto, a existência de uma proposta leonina. Nem um, nem tão pouco o outro acabaram em Alvalade, com o português a “sucumbir” perante a certeira investida da Juventus e o espanhol a ser “vítima” de uma espécie de operação-relâmpago do Aston Villa. A realidade chocou de frente com a expectativa. E um choque frontal é, potencialmente, mais dado a deixar marcas profundas numa estrutura que parecia infalível. Ainda que, no passado, nem sempre tivesse acertado. Mas, os sucessos foram sendo tão claros que ofuscaram os falhanços, como Fresneda. O mesmo Fresneda que chegou para um esquema tático que o colocava em desvantagem perante quase todos e a quem foi dada guia de marcha quando parecia poder lutar de igual para igual. Agora, imagine-se, é visto como potencial solução interna para o problema criado por Alberto Costa e Andrés García. Ironia. Irónico, como irónico se transformou o papel de Schjelderup no Benfica, quando num ápice passou de um “agarrem-me que eu vou-me embora” para estrela da companhia.
2 O mercado de transferências no Vitória de Guimarães pode ser visto como um caso de sucesso. Exceto se analisado por um adepto. Especialmente se se tratar de um fervoroso adepto , a quem pouco mais interessa do que aquilo que se passa dentro das quatro linhas. Alberto Costa na Juventus, num negócio que pode chegar aos 12,5 milhões de euros, de Manu Silva a rumar à Premier League - onde o dinheiro não parece nunca ser um problema - são dois desses casos de sucesso que deixam adeptos e sócios de braço dado com a insatisfação, mas feliz a quem faz as contas no final de cada mês. E se a esta dupla juntarmos as notícias sobre Kaio César e Nuno Santos, podemos até imaginar a máquina de calcular a “fumegar” na secretária de António Miguel Cardoso. E voltamos à ironia. Porque, ironicamente, o que parecia ter tudo para ser uma época ímpar na história recente do Vitória enfrenta agora a dura realidade de já ter perdido dois dos melhores jogadores - e ainda poder perder mais até 31 de janeiro - e de na passada semana ter apresentado o terceiro treinador na época. Porque, afinal, como acontece aos melhores, a primeira escolha foi um erro de casting.