Wild aconselha Maria Martins: "Cuidado com a combinação entre estrada e pista"
Wild afastou-se das competições oficiais no final de 2021, depois de Tóquio'2020 e da despedida dos Mundiais, a que agora regressa, mas como comentadora televisiva para o seu país.
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A neerlandesa Kirsten Wild, retirada do ciclismo desde 2021, depois de 20 medalhas em Campeonatos do Mundo, deixa elogios ao "grande talento" que é Maria Martins, mas também um conselho, em apenas uma de muitas ligações a Portugal.
"É um grande talento, mas tem de ter cuidado com a combinação entre estrada e a pista. É muito importante ter um bom equilíbrio entre as duas, é o conselho que lhe deixo", diz, em entrevista à Lusa, a antiga ciclista neerlandesa, à margem dos Mundiais de pista, a decorrer até domingo em Saint-Quentin-en-Yvelines, França.
Wild, de 39 anos, deixou o pelotão, de estrada e de pista, no final de 2021, contando com um currículo para lá de invejável: 18 medalhas em Mundiais de pista, nove das quais de ouro, mais duas medalhas em campeonatos do mundo de estrada, a que se somam outras 18 medalhas em Europeus.
A neerlandesa esticou a carreira até aos Jogos Olímpicos Tóquio'2020 - adiados em um ano devido à pandemia de covid-19 -, os terceiros da carreira, e por uma boa razão, uma vez que somou bronze no omnium, numa corrida em que "Tata" Martins foi sétima, na estreia portuguesa na pista em Jogos Olímpicos.
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A jovem da Moçarria, Santarém, cruzou-se com ela por diversas vezes, uma delas numa das muitas fotos de pódio em Mundiais de Wild, que foi ouro no scratch em Berlim, em 2020, no lugar mais alto de um pódio em que Martins sorria, conseguindo um inédito metal para uma pistard portuguesa em Campeonatos do Mundo de elite, e a neerlandesa parecia viver apenas mais um ouro.
As ligações a Portugal de uma das mais reconhecíveis ciclistas do pelotão feminino, profissional entre 2004 e 2021, com mais de 100 vitórias na estrada, vão mais fundo do que a competição com "Tata" Martins, que na sexta-feira conseguiu o segundo bronze em Mundiais no concurso olímpico do omnium.
"Eu forcei a seleção a ir a Anadia [para o Velódromo Nacional], para a preparação olímpica para Paris'2020. O plano era a Suíça, mas disse que queria muito Anadia. Devo lá ter estado uma dezena de vezes", conta.
Tanto que conheceu Ivo Oliveira - que enquanto a neerlandesa falava dava voltas na pista -, "desde que ele era um miúdo, lá nos estágios em Portugal". "A cada dia ficava mais alto", conta, falando ainda da "roleta" de lhe acertar no nome, bem como do seu irmão gémeo, Rui.
De resto, Sangalhos, e também Anadia, só colhem elogios de Wild, por serem "muito calmos, com muitas estradas, uma bela pista e muito boa comida, além de café bom e barato", com a ciclista a recordar, mais tarde, o leitão nas imediações do Velódromo.
"Só não gosto dos cães. Há muitos cães nas casas, ladram e é um bocado assustador", brinca.
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Wild afastou-se das competições oficiais no final de 2021, depois de Tóquio'2020 e da despedida dos Mundiais, a que agora regressa, mas como comentadora televisiva para o seu país, confessando que é "muito bom estar de volta, mas também um pouco estranho".
"Não é que queira competir, estou feliz por me ter retirado. Mas é estranho, as ciclistas com quem competia continuam ali, na mesma. Parece que saltei fora do comboio e agora estou a vê-lo continuar", reflete, em declarações à Lusa.
Recuperada de alguns problemas físicos que a afetavam, devido à prática desportiva ao mais alto nível, procurou "um novo ritmo", depois de 20 anos devotada à carreira, e divide o tempo entre ser professora de educação física e a atividade como treinadora de camadas jovens, além de "outras coisas", como o comentário.
Ensinar e competir "são coisas completamente diferentes", até porque estar num processo educativo "é sobre as crianças e a educação", ao contrário da carreira, em que se fala "sobre os próprios".
Ter sido três vezes atleta olímpica, medalha de bronze e uma das estrelas do ciclismo do seu país, uma potência da modalidade no século XXI, é agora pouco mais do que "um facto engraçado" na atividade como professora.
"Ensinar não é sobre mim. Como ciclista, é possível conversar só sobre mim mesma, como estou a fazer agora", atira, sorridente.