Tour perdeu 5 a 7% de telespectadores nos principais mercados e 30% em Espanha durante a primeira semana. Domínio de Pogacar é apontado, mas não justifica tudo
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O domínio de Tadej Pogacar é apontado como razão aparente para uma descida das audiências televisivas da Volta a França a nível global, embora os primeiros números apurados, referentes à semana inicial da corrida, não se possam resumir a essa explicação, pois o primeiro dia de descanso até tinha o irlandês Ben Healy vestido de amarelo. A quebra de interesse, grave em alguns dos principais mercados, poderá estar relacionada com o esloveno, mas associada ao facto de este ser o quarto ano consecutivo em que discute o triunfo com o dinamarquês Jonas Vingegaard, de outro país de pequena dimensão.
Segundo um trabalho feito pela plataforma americana “The Outerline” para a publicação neerlandesa “Wielerflits”, a primeira semana do Tour registou quebras de audiências entre 5 e 7% nos principais países da modalidade – França, Itália, Países Baixos e Bélgica – comparativamente à média dos cinco anos anteriores. Em Espanha a descida foi de 30% e nos Estados Unidos a audiência está reduzida às dezenas de milhares, após ter atingido os milhões nos anos de Lance Armstrong.
Na segunda semana da corrida a tendência do número de telespectadores era para estabilizar, com uma recuperação significativa em França e uma subida assinalável na Alemanha, que passou ter Florian Lipowitz numa inesperada terceira posição.
As audiências de cada país, como se percebe pelos exemplos de Armstrong e do jovem da Red Bull-Bora, têm uma relação direta com o desempenho e nacionalidade dos corredores. Há um ano, a RTP2 bateu recordes e chegou a ultrapassar RTP1 e TVI durante o período da tarde, graças ao quarto lugar final de João Almeida. Este ano essa tendência repetia-se, até a queda e posterior desistência do caldense da UAE Emirates, à nona etapa, representar um abalo.
À previsibilidade do duelo que se eterniza e à falta de corredores de referência nos maiores países também se poderá ter somado um erro da organização, que colocou etapas sem grande interesse competitivo nos primeiros fins de semana, mas há que esperar por números finais para se poder responder à pergunta do milhão: o Tour perdeu interesse?
Netflix: fiasco por culpa própria
Criada com enorme expectativa, a série da Netflix sobre o Tour, no “Coração do Pelotão”, terminou este ano, à terceira temporada, devido a fracas audiências.
Mas neste caso, e segundo vários especialistas, o fiasco teve culpas próprias: ao seguir os guiões da série de Fórmula 1, com duelos e intrigas, a plataforma esqueceu os valores que destacam o ciclismo – esforço, sofrimento, dedicação e companheirismo –, afastando o público alvo.