"Vocês não têm hipótese", diziam ao treinador que voltou e fez o que ninguém acreditava
Pedro Nuno conquistou, com o Illiabum, o primeiro título de treinador em Portugal. Foi 72 vezes internacional e iniciou-se como técnico no México e no Canadá. Regressou a Portugal a alcançou um feito histórico.
Corpo do artigo
De discurso descontraído, mas considerado "duro e exigente" pelos atletas, o técnico de 46 anos falou a O JOGO da histórica conquista para o emblema de Ílhavo, da crença que existia no balneário, do estado do basquetebol português e sobre os planos que tem para o futuro, depois de ter decidido regressar a Portugal, pois fez-se treinador no México e no Canadá.
Como foi a festa?
-Longa e difícil [risos]. Foi uma grande alegria para todos. Para mim, que é o meu primeiro título em Portugal, e para os jogadores, tendo em conta a idade de alguns deles. Estamos muito felizes.
No domingo, disse que o Illiabum conseguiu o que ninguém acreditava. Porque é que ninguém acreditava?
-As pessoas com quem eu falava diziam-me: "vocês não têm hipótese" ou "aquela equipa tem o jogador tal, tem mais um estrangeiro do que vocês". A nossa seriedade e a nossa ambição é que nos permitiram ganhar.
Acreditaram sempre?
-Claro, se não ficávamos em Ílhavo! O que íamos fazer a Braga se não acreditássemos? Gastar gasóleo ao clube? Não valia a pena...
Mas mais a partir do sorteio?
-O sorteio foi excelente, mas as pessoas não se podem esquecer de que eliminámos a Oliveirense, que está em segundo no campeonato, nos oitavos de final e em três prolongamentos. A seguir veio o CAB, quarto classificado, depois o Galitos... Por fim, ganhámos ao Benfica, que está em primeiro. Ou seja, não foi um percurso fácil, ninguém nos deu nada, nós merecemos o que conquistámos.
Como geriu o esforço de fazer três jogos em quatro dias na final a 8?
-Foi jogar até rebentar, alguns já nem podiam, mas foi um esforço que mereceu um final feliz.
Há cinco anos que nenhuma equipa, além de Benfica ou FC Porto, ganhava um título no basquetebol nacional...
-É um domínio que acontece porque os grandes clubes fazem a diferença. Eles têm outras condições. Para ganhar, há que fazer tudo muito bem. Eles estão bem. Quando dizem que "o Benfica tem o orçamento x, o FC Porto o orçamento y", eles é que estão bem. Quem está mal são os outros, que têm de arranjar formas de se aproximarem.
Como se proporcionou o regresso a Portugal?
-Voltei por razões familiares e para tentar abrir portas na Europa. Em termos familiares, 30 horas de voo era imenso tempo. Estar perto era uma necessidade, não foi por uma questão financeira.
Quando estava fora, acompanhava o basquetebol português?
-Sempre. Quando saí daqui havia um declínio. Do ano passado para este ano houve uma melhoria na qualidade das equipas. O basquetebol português está a crescer. Devagar, mas a crescer. O passo para crescer mais era o profissionalismo, que é muito difícil para os salários que se pagam. As pessoas podem aceitar ser profissionais, têm é de abdicar de muito, mas eu percebo que as pessoas queiram uma segurança.
Pensa voltar a emigrar?
-Fiz a minha carreira maioritariamente fora, é o meu segundo ano a treinar o Illiabum e tem corrido bem. Da primeira vez [n.d.r.: 2013/14] só perdemos na final da Proliga contra o FC Porto. Esta época também, para o que me pediram e para aquilo a que eu me propus, que era ganhar algo... Voltei pela família, mesmo sabendo que vinha para um nível mais baixo, mas aceitei a pensar em dar um salto para a Europa, já que seria mais próximo.
Jogador e treinador
"Estava para voltar a jogar e dois dias depois fui para o México"
Nascido na Figueira da Foz e formado na Ovarense, Pedro Nuno, internacional por 72 vezes, foi o primeiro a assinar um contrato profissional no estrangeiro. Aos 40 anos, esteve para voltar a jogar, no Illiabum, mas, dois dias depois de ter assinado, recebeu uma chamada do técnico Pep Clarós. "Já não joguei, fui com ele para o México", conta. Nos Pioneros, ganhou a Liga Américas. A dupla ainda trabalhou no Canadá, nos Halifax Rainmen, com o qual ganhou a Divisão Atlântico, mas toda a equipa acabou banida, por ter falhado à negra da final da liga canadiana, alegando falta de segurança.