Lateral-esquerdo de 34 anos foi para Hemer, pequena cidade alemã, jogar e trabalhar na área que escolheu, a fisioterapia
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Numa cidade com cerca de 38 mil habitantes, Bosko, a mulher Jugoslava, e os dois filhos encontraram estabilidade. Além disso, o lateral até pôde continuar a jogar, embora na competitiva... IV Divisão.
Bosko Bjelanovic está na Alemanha há quase um ano, depois de ter passado mais de 20 em Portugal, tendo deixado o país para poder exercer a profissão que escolheu, a fisioterapia, com melhores condições e de forma mais bem remunerada.
Na cidade de Hemer, que fica a cerca de 20 minutos de Dortmund e a uma hora de Colónia, vive com a mulher, de nome Jugoslava, também de origem sérvia, tal como ele, e os dois filhos, Jana, de sete anos, que nasceu no Porto, e Milan, de dois, cujo parto decorreu em Loures.
"A nossa adaptação foi muito melhor do que esperava, fiquei até surpreendido com as pessoas. Temos aquela ideia de que os alemães são pessoas frias e pouco sociáveis, mas aqui, não sei se por ser uma cidade pequena, são amáveis e estão sempre dispostos a ajudar naquilo que é preciso", conta Bosko que, na cidade, além de exercer fisioterapia, também continua a jogar andebol, no HTV Hemer, da IV Divisão.
"O meu empresário, Manuel Garcez, um português que trabalha na Alemanha, falou com o clube e eles, por sua vez, falaram com um dos patrocinadores, que é uma cadeia de fisioterapias. Mostraram-se interessados, vim fazer algum tempo de experiência na clínica, tive de fazer um teste de alemão, sendo que eu já tinha algumas bases porque tinha feito um curso em Lisboa, e comecei a trabalhar", relata o luso-sérvio a OJOGO. "No clube, o HTV Hemer, fui também aceite muito bem. É da IV Divisão, mas, apesar de não ser um escalão profissional, tem equipas de grande qualidade", assegura Bosko, fazendo depois uma comparação: "Esta IV Divisão tem equipas que jogavam facilmente na I Divisão portuguesa. Não lutavam para o título, mas lutavam para o quarto/quinto lugar, não ficariam muito abaixo disso. Na verdade até eu fiquei surpreendido, era uma quarta divisão...".
Por outro lado, há um aspeto em que clubes da IV Divisão alemã são até superiores aos da primeira em Portugal. "Temos cerca de 500/700 pessoas a ver todos os jogos, depois há o convívio com os patrocinadores, temos um espaço VIP. Nesse aspeto, é muito melhor do que na I Divisão em Portugal. No Sporting, por exemplo, isso só acontecia nos Jogos da Liga dos Campeões", assegura o meia-distância, dizendo que "na Alemanha o desporto é visto como entretenimento, com as pessoas a chegarem cerca de uma hora antes para ficarem a conversar umas com as outras, a beber uma cerveja, a comer qualquer coisa, depois há o jogo, e a seguir o tal convívio no nosso camarote VIP ou no bar do clube".
Vibrou muito com a Seleção Nacional
Com 85 internacionalizações por Portugal, 68 A (61 golos), o lateral-esquerdo viveu com grande satisfação a participação da equipa das Quinas no Campeonato da Europa. "Foi espetacular! Portugal, finalmente, está a colher os frutos do excelente lote de jovens jogadores que tem, a que se juntam alguns mais experientes", responde.
"Acho que o grande investimento que o Sporting fez, há alguns anos, ao trazer jogadores de alto gabarito internacional, fez com que outras equipas tivessem de investir também, o que deu mais qualidade ao campeonato nacional, permitindo mais jogos de alto nível.
Acredito que foi mesmo isto que faltou para que as gerações anteriores dessem um salto parecido", prossegue Bosko, que deixa elogios ao técnico com quem trabalhou há mais de 20 anos, nos juniores do FC Porto: "O Paulo Jorge fez um excelente trabalho ao juntar as ideias de jogo dele a algumas de outros treinadores dos clubes onde os jogadores da seleção atuavam, como foi o caso da utilização do 7x6, que é uma arma letal do FC Porto. Além disso, a rotatividade dos atletas foi feita de uma forma muito inteligente, fazendo com que não houvesse nenhuma grande sobrecarga sobre nenhum jogador, o que neste tipo de competições pode ocorrer facilmente devido ao elevado número de jogos em tão pequeno período de tempo".
A finalizar este tema, o luso-sérvio admite: "Fiquei extremamente contente pela nossa seleção, pelo nosso país e pelos meus colegas e amigos que estão lá e só espero que esta tenha sido a primeira de muitas e grandes participações."
Coronavírus estragou as férias
"Fui só uma vez a Portugal, uma visita de curta duração. Era para vir agora, mas, com o "corona", fiquei com medo e vamos adiar a viagem, com muita tristeza nossa", conta Bosko Bjelanovic, revelando-se sempre um homem prudente. "É melhor esperar um pouco e evitar qualquer tipo de desconforto, e penso mais nos meus pais, que são mais de risco do que em nós", explica, revelando que os pais "continuam a viver na mesma casa, na Senhora da Hora", nos arredores do Porto.
Adora Portugal, mas não regressa
Bosko chegou a Portugal, com os pais, tendo 11 anos, acompanhado de dois militares capacetes azuis que estavam estacionados no enclave da Sérvia (Krajina), dentro da Croácia. Estabeleceram-se em Coimbra, mas a mãe, Dusanka, partiu com os filhos, ficando o pai, Rajko. Voltaram anos mais tarde, aquando da limpeza étnica do enclave sérvio e dos bombardeamentos da NATO sobre Belgrado. "Aos 14 anos, pela mão do professor Magalhães, fui para o FC Porto", conta Bosko. "Fiz lá a formação, nos juvenis e juniores, depois fui emprestado ao Espinho, regressando dois anos depois, eu e o Filipe Mota".
Dos dragões, o lateral-esquerdo mudou-se para o Sporting, onde ficou três anos, depois um ano Madeira SAD, a seguir dois no Águas Santas e, por fim, mais cinco no Sporting. "Não me estou a ver a voltar, sabemos como a fisioterapia anda em Portugal, não lhe é dada a importância que merece", diz o jogador de 34 anos. "Se continuo a gostar? Adoro Portugal, é um país que sempre vou adorar; tenho saudades. Para além dos meus pais, irmão (Milos) e da família, também tenho amigos, com quem falo por telefone, mas não é a mesma coisa", assegura Bosko, revelando: "Gosto da comida. Adoro bacalhau com natas, mas aqui em casa come-se bem. A minha mulher é excelente cozinheira e faz especialidades portuguesas".