
Águas Santas, um clube especial no andebol português
Miguel Pereira
Tem esta temporada quase 250 atletas, com equipas B em todos os escalões
Leia também Mateus Mide, "o novo Rei Midas": "Lembra Vitinha que emergiu no FC Porto"
A expressão popular foi usada no título desta peça porque assenta na perfeição ao que se passa no Águas Santas, clube formador de andebol de elite. Com o aumento populacional na freguesia maiata, o emblema, de grande tradição na modalidade, tem recusado pedidos de atletas para treinar e jogar. Muitas são os que batem à porta, mas têm de voltar para trás. Manuel Cruz não gosta da palavra, mas é o que se passa.
"Não queria aplicar a palavra recusar, digamos que tivemos que tomar algumas decisões... A população de Águas Santas está claramente em crescimento, basta ver os últimos censos", responde o presidente do clube. "Tivemos que explicar aos pais que os escalões estavam completos, estavam cheios. Se me pergunta se fomos buscar quatro ou cinco atletas, digo-lhe que sim, sobretudo Sub-16 e Sub-18, mas miúdos que estavam perfeitamente sinalizados e de há algum tempo. De resto, infelizmente, já não há por onde crescer", admite, contando: "Há dias perguntavam-me porque não criávamos uma equipa C num ou outro escalão, e a resposta é simples, não há onde treinar, não há espaço. A partir do momento em que os miúdos saem das escolas, começamos a ter o pavilhão ocupado com treinos a partir das 18h15 e vamos até às 23h30 e, aos sábados, das 09h00 às 13h00 e, num outro pavilhão que a câmara da Maia nos cede, em Pedrouços, das 11h00 às 13h00. De resto não temos mais espaço".
Rebobinando o filme, vamos parar a 2019 e à pandemia, após a qual, o número de atletas cresceu exponencialmente, sendo o Águas Santas um verdadeiro farol do andebol português. "Daquilo que fui falando com as pessoas, fomos dos poucos clubes que, não só não perdeu atletas, como ganhámos. A partir da pandemia foi sempre, sempre, sempre miúdos a chegar. Aliás, nos últimos três/quatro anos tivemos que criar as equipas B, tivemos essa necessidade e hoje em dia temos segundas equipas em todos os escalões", revela.
Uma novidade na Atlética
"Quero dizer-lhe que esta época temos quatro atletas, oriundos da nossa formação, emprestados", sublinha Cruz, sinal de qualidade, atletas colocados a rodar, para terem competição por forma a poderem entrar na equipa sénior. São eles o pivô Bruno Correia e o lateral-direito Francisco Coelho, que estão no FC Gaia, do Campeonato Placard; o lateral-esquerdo André Samúdio, no Santo Tirso, da Divisão de Honra; e o lateral-esquerdo Diogo Monteiro, na Ac. S. Mamede, da II Divisão Norte.
Um novo melhor do Mundo?
Apenas pelo nome próprio não é fácil chegar lá, Gonçalo seria só mais um dos cerca de 230 miúdos da formação. Mas, se lhe acrescentarmos o apelido, Iturriza, percebe-se com facilidade que é filho do antigo atleta do FC Porto, agora a jogar no Kuwait, considerado, em janeiro, o melhor pivô do mundo.
Mário e Bárbara orientam a base
A escola de formação de andebolistas da Associação Atlética de Águas Santas, clube fundado em novembro de 1962, tem nomes e rostos responsáveis. São dois coordenadores, Bárbara Baião, 42 anos, 19 épocas de clube, que dirige minis, bambis, manitas e babies; e Mário Truta, antigo atleta dos maiatos, 39 anos, com 15 de casa que tem dos Sub-14 aos Sub-20. Bárbara trata da iniciação e Mário já aponta para a competição. "Quando os atletas chegam, os objetivos que têm são muito diferentes dos que nós temos para eles. Para eles é a parte de fazer amigos e de se divertirem. Nós temos sempre isso em atenção, mas, durante oito anos, o tempo que eles permanecem na escola, também tentamos que já estejam apaixonados pelo andebol e pelo Águas Santas", explica Bárbara.
"A clivagem aparece sobretudo pela questão da estrutura federativa, porque o modelo até aos 12 anos não é competitivo, ou seja, os jogos não têm resultados e eles não têm o objetivo de competição, é meramente formativo", fala Truta, que aborda a vertente que lhe cabe. "O Águas Santa tem ganho alguns títulos [na temporada em curso já venceram as Supertaças Regionais Ibéricas em Sub-14 e Sub-16], é verdade, e isso deixa-nos satisfeitos, mas o nosso maior título é colocar atletas na equipa sénior e nas seleções nacionais, é formar atletas", sustenta.

"Só temos dois profissionais"
"Nós perdemos jogadores quando fomos à fase de grupos da Liga Europeia. Não conseguimos ter competitividade financeira para os segurar", diz Manuel Cruz, recordando as saídas do central Manuel Lima, do também central Rui Baptista, mais recentemente de João Gomes e até de Filipe Monteiro. "Se nós queremos continuar a ter uma equipa competitiva, também temos que ir procurar jogadores, mas deixe-me dizer que procuramos sempre jogadores portugueses, atletas que tenham feito a formação em Portugal", avança o presidente. Numa análise mais abrangente ao Campeonato Placard e à equipa de séniores, Cruz tem uma visão muito particular. "Os principais favoritos são quatro equipas, os três grandes e Marítimo. Estas é que têm a principal responsabilidade de chegar mais longe, pois são as únicas 100% profissionais. Nós temos somente dois jogadores profissionais num total de 22 que constituem o plantel", assegura.


