Esta sexta-feira assinala-se um ano após a invasão russa da Ucrânia.
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Faz hoje um ano que o inesperado aconteceu. Inesperado no sentido em que, após duas guerras mundiais, no século XX seria difícil imaginar que uma situação desta dimensão pudesse voltar a suceder.
No entanto, a tensão entre a Rússia e a Ucrânia, países que faziam parte da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, já vinha de longe e, nos últimos tempos, era crescente.
Cerca das cinco horas da madrugada do dia 24 de fevereiro de 2022, várias cidades, como a capital, Kiev, mas também Kharkiv, Kherson e Dnipro, foram surpreendidas por várias explosões. As tropas russas invadiam a Ucrânia, desencadeando um conflito que terá no combate à aproximação dos ucranianos às potências ocidentais a razão de ser. Há, também, quem aponte como base algum desrespeito da Ucrânia à soberania russa de Vladimir Putin, ou, ainda, a intenção do presidente russo voltar a juntar a União Soviética.
"Ele quer abrir o caminho da Crimeia para a Rússia, mas posso estar enganado, porque ninguém consegue adivinhar o que vai na cabeça dele", comenta a O JOGO Arsenyi Lavrentyev, antigo nadador, sempre do Sport Algés e Dafundo, chegado a Portugal em 2006. "É um horror, é inadmissível que no século XXI estas guerras ainda aconteçam. Tenho lá família, os meus tios ficaram em casa deles, no campo, com os animais. Nunca quiseram abandonar o país", conta o agora mariscador, de 40 anos, que vive na Amadora.
O medo todos os dias
"Acredito no que o irmão da minha mulher conta, mas, muitas vezes, o que ele diz não é o que acontece. O que eu acho é que a guerra não acabará tão cedo", diz Lavrentyev, admitindo que "cada vez que o telefone toca nunca sabemos se é mesmo o meu cunhado ou alguém a ter que falar por ele... Temos medo que um dia possa não ser ele", suspira. "A guerra é uma coisa séria, são milhares e milhares de mortos", justifica assim a apreensão relativamente ao cunhado que está entre os soldados.
Sobre o eventual fim da guerra, também Yuriy Kostetsky, antigo internacional ucraniano de andebol, agora treinador do Boavista, mostra-se desconfiado. "Sempre olhei para a situação com bastante realismo. Tudo iria depender da forma como a Comunidade Europeia e outras nações nos apoiassem. Estão a ajudar, de facto, mas não o suficiente para o nosso país resolver isto. É verdade que há ajudas grandes, mas, vindas passo a passo, apenas dão para aguentar o conflito, não para acabar com ele", reflete aquele que foi uma das grandes referências do ABC, clube através do qual chegou a Portugal, em 1998/99.
"O medo de uma ameaça nuclear por parte da Rússia pode estar na origem de não haver ajuda que chegue", prossegue, embora "Yura" não acredite que isso aconteça. "Ameaças, sempre existirão. Mas mandar mesmo os mísseis, isso não irá acontecer. Toda a gente sabe como é isso iria acabar, com a destruição do Mundo", explica.
Ida para a guerra ainda é hipótese
Kostetskiy, que há cerca de um ano disse a O JOGO que iria para a frente de combate, acabou por não ir. Para já. "Registei-me no Ministério da Defesa, mas disseram-me que só podia entrar para a defesa territorial, porque estavam a dar prioridade aos militares com mais experiência. Mas, se me chamarem, vou. Continuo a ter a mesma ideia de defender o meu país", assegura o antigo rematador, segundo melhor marcador do Campeonato do Mundo de andebol de 2001, com 60 golos, um a menos do que o... russo Eduard Koksharov. "A verdade é que isto custa-me muito e não gostaria de me estender mais sobre o assunto. É muito triste", termina o coordenador da formação do Boavista.
Zelensky, homem de coragem
"Aquilo a que se assiste é uma profunda tristeza. Lembro-me de ter começado a nadar com uns cinco anos e agora penso nas crianças da minha idade. Conheço alguns treinadores que pegaram nos alunos e fugiram para a Hungria, para a Polónia, alguns até vieram para cá, para Rio Maior, da natação adaptada, mas creio que já não estão cá. Isto é uma coisa que ninguém devia sentir", diz o ex-nadador que, quando chegou a Portugal "tinha algum tempo livre" e como o pai, que já estava no país há quatro anos e conhecia gente no Algés e Dafundo, decidiu "ir dar umas braçadas". E o presidente Volodymyr Zelensky? "Fácil. Se não fosse ele a Ucrânia já tinha caído. Se não fosse Zelensky a enfrentar isto tudo... é uma homem de coragem", responde Lavrentyev, cujos pais também vivem em Portugal.Já a mãe da mulher reside em Itália há 20 anos.