TROFÉU O JOGO/LEILOSOC - Delmino Pereira, presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo, diz que o "romantismo" das crónicas que a sua modalidade permite continua a ser cativante
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Para Delmino Pereira, presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo, o lançamento do Troféu O JOGO/Leilosoc, que irá para a estrada no próximo fim de semana, foi uma "emoção especial" que se explica com facilidade: além do interesse institucional de ver mais um jornal ligado à organização de corridas, foi o único a vencer por duas vezes o antigo Grande Prémio O JOGO, que teve sete edições entre 1987 e 1993. Para o na altura ciclista da Recer-Boavista, esta era a sua corrida.
"Não imagino um grande jogo da Seleção Nacional a realizar-se em Vieira do Minho, mas lá irá assistir-se a uma grande corrida de ciclismo"
Como encara a ligação entre o ciclismo e os jornais?
- Este é um momento bonito. A modalidade teve sempre uma relação muito especial com os jornais, todas as grandes corridas se desenvolveram associadas a jornais. Nos últimos anos, assistimos a uma grande mudança na comunicação e o ciclismo tem de se ajustar a uma nova realidade. Continuo a pensar que os jornais têm um romantismo e uma forma de contar histórias que só o papel transmite e que nos leva a comprá-los. E as histórias dos bastidores são uma das mais interessantes características do ciclismo; a modalidade permite contar como as coisas acontecem.
Um jornal como organizador resolve isso?
- É preciso reinventar a relação e esta é uma aproximação. Temos todos o mesmo problema e precisamos de encontrar soluções; de recuperar a proximidade com as pessoas, que deixaram de se preocupar em ter o jornal na mão. Para o ciclismo, é importante manter esta relação, o cordão que sempre nos ligou aos jornais.
"As histórias dos bastidores são uma das mais interessantes características do ciclismo"
É fácil perceber que espera que o Troféu O JOGO se desenvolva...
- Obviamente, espero que cresça. Vai ter duas etapas, mas é um sinal. O Grande Prémio JN também reapareceu assim. Esta é uma oportunidade para todos, pois o ciclismo tem um grande compromisso com o território.
Que significa isso?
- Há uma transição das pessoas para os grandes centros urbanos e o ciclismo é a modalidade que continua a promover o interior. Temos uma relação especial e atualmente todos os países organizam provas para a sua promoção territorial. Por isso, uma corrida como esta tem de ser potenciada. Já terá uma transmissão em direto e isso inclui mostrar as histórias e as pessoas. Dito de outra forma: não imagino um grande jogo da Seleção Nacional a realizar-se em Vieira do Minho, mas lá irá assistir-se a uma grande corrida de ciclismo. Essa é a capacidade que esta modalidade possui e temos de a disponibilizar a todas as regiões.
"O Grande Prémio O JOGO era uma corrida de prestígio, portanto nunca poderia ser para um outsider"
Venceu duas vezes o antigo Grande Prémio O JOGO, que tem um palmarés só com grandes nomes. Porquê?
- Porque era uma corrida desenhada para um corredor completo. E tinha prestígio, portanto nunca poderia ser para um outsider. Obrigava a ser bom na montanha e no contrarrelógio e a ter uma boa equipa para nos defender. Não era uma prova fácil e todos se preparavam ao mais alto nível, entre rivalidades muito fortes.
As etapas em circuito são um modelo interessante?
- Preferia que fossem em linha, pois queremos percorrer o território e ir à porta das pessoas, mas esta é uma fórmula que existe até em grandes provas por etapas. Lembro-me da Volta à Polónia que, todos os dias, termina em circuito; é uma forma de prender as pessoas na estrada. Dentro dessa lógica, compreendo a existência de um sistema misto, que já existe há mais de cem anos.
O Troféu O JOGO/Leilosoc terá uma primeira etapa em circuito na Póvoa de Varzim - 135,7 km, com sete subidas e final no Monte S. Félix - e a segunda com 100 km e 25 voltas em Vieira do Minho.
Mas preferiu outro?...
- O mais importante é que a corrida tenha um percurso interessante, que qualquer ciclista olhe para as etapas e pense ter possibilidades de ganhar. Quantos mais atletas pensarem dessa forma, mais interessante se torna uma prova. Um circuito pode diminuir essa abrangência de ambições, mas para O JOGO este é um primeiro passo bem interessante.
"Foram lutas intensas, mas esta era a minha corrida"
"Fazia o ano todo a andar bem e aparecia sempre em grande forma em maio", revelou Delmino Pereira sobre os seus dois triunfos no antigo Grande Prémio O JOGO, lembrando que também foi "segundo e terceiro". "Era a minha corrida, parecia desenhada para mim; não se subia a Serra da Estrela, os contrarrelógios tinham uma quilometragem favorável... Na primeira vez ganhei por dois segundos, na segunda com mais categoria", recorda, com um sublinhado: "Foram sempre grandes espetáculos. Éramos figuras do desporto numa corrida importante. Foram lutas intensas com Joaquim Gomes, Jorge Silva, Fernando Carvalho, Manuel Cunha e ciclistas de boas equipas internacionais. No primeiro ano em que ganhei, estava cá o Luc Suykerbuyk, que tinha sido décimo na Volta a Espanha."