Declarações do ciclista Ben O"Connor após vencer a nova etapa do Tour.
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O coração de Ben O"Connor parou com a perspetiva de vencer na Volta a França, mas nem isso impediu o ciclista australiano de vencer a duríssima nona etapa, em que Tadej Pogacar consolidou a amarela no alto de Tignes.
"Simplesmente estar aqui, já é um sonho e conseguir isto hoje é um "testamento" para todos os que confiaram em mim ao longo dos anos. [...] É alucinante. Isto é aquilo com que sonhas, sinto-me tão realizado, uma alegria imensa. Estou a adorar cada momento. E estou muito feliz pela AG2R, que tanto acreditou em mim", confessou o australiano de 25 anos.
Na sua estreia no Tour, o ciclista da AG2R Citroën, que chegou a sonhar com a amarela de Tadej Pogacar (UAE Emirates), superou "condições atrozes", uma "etapa de loucos" e o receio de que o esloveno, que reforçou a liderança da geral, "explodisse" vindo de trás, para acrescentar um novo triunfo ao seu palmarés, que conta também com uma vitória no Giro2020.
"Tive sempre fé [que poderia ganhar] e só tive de assegurar-me que não entrava em pânico, porque a partir do momento em que percebes que vais ganhar uma etapa da Volta a França uma série de coisas acontecem à tua cabeça, ao teu coração, aos teus pulmões. Pode fazer o teu coração parar e, definitivamente, parou o meu", reconheceu o agora segundo classificado da geral.
A altimetria da etapa, a chuva, copiosa e invernal, e a liderança confortável de Pogacar eram ingredientes ideais para que os candidatos à geral dessem "luz verde" a uma fuga que chegasse ao final dos 144,9 quilómetros entre Cluses e Tignes e, por isso, ninguém quis desaproveitar a oportunidade de lutar pelo triunfo na nona etapa.
Entre ataques e contra-ataques, a frente da corrida chegou a ser "ocupada" por 41 corredores, desde os portugueses Ruben Guerreiro (EF Education-Nippo) e Rui Costa (UAE Emirates), aos sonantes Sepp Kuss (Jumbo-Visma), Dan Martin e Michael Woods (Israel Start-Up Nation), Julian Alaphilippe e Kasper Asgreen (Deceuninck-QuickStep), Guillaume Martin (Cofidis), Bauke Mollema (Trek-Segafredo), Sergio Higuita (EF Education-Nippo), Warren Barguil e Nairo Quintana (Arkéa-Samsic), Pierre Latour (TotalEnergies), Louis Meintjes (Intermarché-Wanty Gobert), Pierre Rolland (B&B Hotels-KTM) ou o líder da montanha, Wout Poels (Bahrain Victorious).
Com a fuga em permanente mutação, lá atrás a queda de Enric Mas (Movistar), a 114 quilómetros da meta, representou o único momento de "agitação" no grupo de favoritos, antes do "descalabro" de Wout van Aert (Jumbo-Visma), o segundo na geral à partida, que descolou na ascensão ao Col du Pré, primeira contagem de categoria especial desta edição, situada a meio da etapa, e perdeu mais de 31 minutos na meta.
Com a camisola da montanha em mente - a sua missão foi bem-sucedida -, Quintana, vencedor daquela classificação em 2013 e vice-campeão do Tour nesse ano e em 2015, foi um dos grandes animadores da jornada, juntando-se na "galeria" dos mais aventureiros a O"Connor, Poels, Higuita, Woods e Lucas Hamilton (BikeExchange).
Os fugitivos tiveram nove minutos de avanço sobre o grupo do camisola amarela, mas, com o aproximar da chegada, e graças ao trabalho permanente da UAE Emirates e de Rui Costa - esteve irrepreensível no trabalho de equipa e chegou a 17.49 do vencedor -, a vantagem foi diminuindo, já depois de O"Connor e Higuita ficarem isolados na frente.
No início da ascensão a Tignes, onde o pelotão não chegou em 2019, uma vez que os derradeiros quilómetros da etapa foram anulados devido à queda de granizo, o ciclista da AG2R-Citröen atacou e "desenvencilhou-se" do colombiano, rumando ao triunfo na nona etapa e ao segundo lugar na geral, a 02.01 minutos de Pogacar, que não perdoou a ousadia de Richard Carapaz (INEOS).
O equatoriano tentou atacar, mas só conseguiu "irritar" o camisola amarela, que saltou do grupo a quatro quilómetros do alto, numa nova demonstração de superioridade em relação aos seus adversários, cortando a meta 32 segundos diante destes e consolidando a liderança da geral, na qual Rigoberto Úran (EF Education-Nippo) é agora terceiro, a 05.18 minutos, à frente de Jonas Vingegaard (Jumbo-Visma), Carapaz e Mas.
Ruben Guerreiro viu recompensada a sua valorosa exibição à chuva com a entrada do "top 30" da Volta a França; na sua estreia na prova francesa, e depois de ter sido 12.º na nona etapa, o português da EF Education-Nippo é 25.º, a 36.57 de Pogacar, que tem o seu colega Rui Costa a 01:15.35 horas, na 81.ª posição.
Na segunda-feira, o esloveno de 22 anos vai passar o dia de descanso da Volta a França de amarelo, pela primeira vez na sua carreira, antes de regressar à estrada na terça-feira, para a ligação de 190,7 quilómetros entre Albertville e Valence.
"Não teria sido um problema perder a liderança, mas estou a ganhar carinho a esta camisola e quero mantê-la o máximo de tempo possível. Foi por isso que acelerei nos últimos quilómetros, queria ter este pequeno leão [oferecido cada dia ao camisola amarela]", confessou no final da nona etapa.