Hoje é um dia histórico: o sonho que une médicas, estudantes e não só ao som de Ruth Marlene
Seleção Nacional feminina inicia esta sexta-feira o Campeonato da Europa. Há médicas, operárias fabris e estudantes entre as sonhadoras. Não são pagas a peso de ouro, como acontece, por exemplo, com os que lutam pelo título Europeu no futebol, mas há muita qualidade neste grupo de senhoras.
Corpo do artigo
Há 14 mulheres que nas últimas semanas têm pensado em futsal 24 sobre 24 horas. O motivo não é para menos porque, para este grupo de senhoras, está em causa a presença no primeiro Campeonato da Europa de Futsal Feminino, que Portugal quer muito ganhar. Mas esta ambição não é paga a peso de ouro como acontece, por exemplo, entre os homens que participam nas grandes competições de futebol. Antes pelo contrário. É pelo gosto à modalidade que estas 14 atletas sacrificam diariamente algumas horas da vida pessoal. Do lote, uma dúzia são amadoras, mas isso também não lhes tira qualidade. Para chegar até este Europeu, que se realiza no Multiusos de Gondomar, Portugal esmagou República Checa (12-0) e a Sérvia (11-0) e a partida mais "equilibrada" foi um 3-1 com que as portuguesas despacharam a Finlândia.
O JOGO foi conhecer o grupo orientado por Luís Conceição e coube a Carla Vanessa, uma das pivôs da equipa, agarrar no microfone e apresentar, um a um, os elementos do grupo. Entre as brincadeiras e as risadas houve direito a alcunhas colocadas pela goleadora que apontou cinco golos na fase de qualificação. Ana Catarina é a "Talocha", pelos pés que "de vez em quando se enganam e marcam golos"; Jenny é a "Puskas", pelo espetacular golo que apontou à República Checa, e Jorge Silvério, o psicólogo da comitiva, é o "Anjo" de Carla Vanessa, por saber "controlar a ansiedade antes dos jogos".
Só duas jogadoras entre as 14 convocadas são profissionais: Jenny e Tânia Sousa. Nas restantes há estudantes, funcionárias fabris, médicas...
Carla Vanessa é, aliás, o exemplo de uma atleta que dorme (muito) pouco para poder jogar futsal. A jogadora do Santa Luzia (Viana do Castelo) treina até por volta das 23h00 e às 5h00 já está a trabalhar numa empresa têxtil onde é costureira. "Tenho sempre de descansar à tarde. Quando a gente anda por gosto, não cansa", refere. Rute Duarte é a única jogadora que é mãe e chegou, até, a suspender a carreira entre 2011 e 2015. Mas é, também, a cantora de serviço. "Canta tudo, desde Ruth Marlene, Rebeca... canta e encanta", revela Ana Azevedo, a capitã da Seleção Nacional, que já não tem o sonho de ser profissional. "Já passei dos 30 e não tenho idade para isso. Trabalhamos durante o dia pois amamos isto", frisa.
https://d3t5avr471xfwf.cloudfront.net/2019/02/oj_jogadoras_20190213103943/hls/video.m3u8
Ana Catarina, a melhor guarda-redes do mundo, já viveu só do futsal, mas agora não pensa nisso, porque prefere focar-se no curso que está a tirar de corretora de bolsa. "Sempre gostei da bolsa, da análise técnica e estou a formar-me para que possa exercer essa função", explica. Tirar férias foi, portanto, a solução encontrada para algumas jogadores disputarem o Europeu, embora essa situação não se tenha aplicado à médica Inês Fernandes, atleta do Benfica que valoriza o bom ambiente do plantel. "Se fosse pelo ambiente era mais fácil sermos campeãs", atira.
Apoio é algo que Pisko, natural de Santo Tirso, não quer que falte. "É um privilégio jogar no Norte, onde as pessoas aderem muito a este tipo de iniciativas", destaca a ala. O sonho reina entre estas 14 mulheres que querem que a nação sonhe com elas.
O ano zero de um Euro feminino
Um Campeonato da Europa para senhoras é uma novidade no panorama desportivo. Prova junta-se aos Mundiais
O dia 15 de fevereiro de 2019 é um marco histórico para o desporto no feminino. É neste dia que começa o Campeonato da Europa de futsal, o primeiro torneio europeu para senhoras. Até agora só havia o Mundial, com a designação de Torneio Mundial e onde Portugal tem tido boas prestações, embora nunca tenha ganho. As portuguesas foram finalistas vencidas em 2010, 2012 e 2014, e levaram para casa o bronze em 2011. Registaram-se, ainda, dois quartos lugares em 2013 e 2015. Para além da Seleção Nacional, Ucrânia, Espanha (duas vezes vencedora do Torneio Mundial) e Rússia também participam neste primeiro Europeu disputado em formato de final-four, ao qual acorreram 23 seleções à fase de qualificação. Espanholas e russas abrem a prova (15h00) e Portugal joga com a Ucrânia às 21h45. A final joga-se dia 17 às 18h30.
A melhor na baliza e uma promessa
Ana Catarina Pereira não é só uma das duas guarda-redes convocadas por Luís Conceição para o Europeu. A jogadora do Benfica é a melhor guarda-redes do mundo, distinção atribuída pela Futsal Planet a 31 de dezembro de 2018. Aliás, a atleta superou a concorrência de duas possíveis adversárias: Silvia Aguete Outón (Espanha) e Anastasia Ivanova (Rússia). Nota, ainda, para Fifó (na foto), a menina de 18 anos que brilhou nos Jogos Olímpicos da Juventude ganhos por Portugal em outubro passado e que ficou em terceiro lugar na lista de melhor jogadora do mundo.