Ciclista afirma querer voltar a representar Portugal no maior certame e vê na Volta a França a prova ideal de preparação
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Um ano de 2023 com cinco vitórias fez renascer Rui Costa. A O JOGO, o orgulho da Aguçadoura releva o papel da Intermarché, mostra satisfação com o desafio da nova equipa, a EF Education-EasyPost, e afirma sonhar com os Jogos Olímpicos, para os quais Portugal só terá duas vagas.
Poveiro está determinado a provar valor na EF, equipa que sente ter sido o passo certo. Aponta às clássicas, onde ainda sonha com grandes resultados, e faz mira a repetir as vitórias que reencontrou em 2023.
Como aborda a entrada na 15.ª época de World Tour?
-Estou contente, orgulhoso. Fiquei contente com a Intermarché, que me apoiou desde o zero no ano passado. Estava a correr numa boa família, organizada. Encontrei-me novamente. Na UAE não estava confortável. Aceitei trabalhar para os líderes da equipa. Senti-me bem ao ganhar a Volta a França com o Tadej Pogacar, foi bonito, sempre quis, mas queria oportunidades. Renasci na Intermarché.
Foi uma mudança de chip para ganhar mais vezes?
-Quando dei o salto para lá, planeámos conseguir resultados. Isso deu-me alento. Fiquei mais alegre. Foco-me muito quando tenho objetivos individuais. Queria continuar na Intermarché, estava bem acolhido. Tive corridas ao meu gosto. Não tinha a Volta a Espanha planeada e deixaram-me fazê-la, porque me senti bem depois de San Sebastián [top-10]. Não foi possível continuar por a UCI não permitir que haja um patrocinador vindo de casinos [fala da Circus].
Teve cinco triunfos. Em que lugar coloca esta temporada na carreira?
-Talvez na quarta ou quinta posição. O ano de 2013 foi o melhor [oito vitórias, duas etapas no Tour e o título mundial]. O de 2014 foi bom, porque fiz top-10 no ranking e fiquei perto de várias vitórias.
“Pensei ligar ao Ruben, mas não surgiu oportunidade. Fui à aventura [risos]. Tem havido sempre equipas interessadas. Felizmente”
Ligou ao Ruben Guerreiro antes de assinar pela EF?
-Pensei ligar-lhe, mas não surgiu oportunidade. Fui à aventura [risos]. Aproveitei aquela semana de estágio para retirar as minhas próprias conclusões. A EF é muito maior em termos de estrutura. São muito organizados, tem portugueses e estou satisfeito.
É uma equipa que lhe dará oportunidades?
-Sim. Nas provas de uma semana depende de quem tenho na equipa. Nunca desisto da geral se estou bem, mas estou disposto a ajudar. Na Volta a França, o bloco está alinhado para o Carapaz. Não tento ser líder em três semanas. Na EF tenho corredores mais fortes nessas provas e olho a etapas. Tenho os meus objetivos. As provas de um dia estão acima.
“Na Liège, num dia bom, posso fazer um grande resultado”
Ainda lhe falta ganhar uma clássica das Ardenas?
-Sei as capacidades que tenho e o que não posso fazer. Cada vez está mais difícil lutar pela Liège, a minha preferida. Há vários corredores a aparecer. Mesmo em subidas curtas e explosivas, são atletas mais pequenos. Torno-me mais lento do que eles. Vejo difícil ganhar, mas não deixo de acreditar. Num dia bom posso fazer um grande resultado.
“Sei que é decisão do selecionador e vejo que a maioria dos corredores vai fazer o Tour: o João, o Nelson, o Ruben...”
Será em maio a meta da época?
-Ao longo da temporada temos vários objetivos. Umas provas servem de preparação para outras. Após o Tour, há uma curta ativação até aos Jogos. Nos últimos Jogos, quem chegou para ganhar vinha do Tour. O Tour é o plano certo. Vou lá a pensar nos Jogos Olímpicos. Gostava muito de voltar a fazê-los. É um objetivo. Sei que isso é decisão do selecionador [que tem duas vagas] e vejo que a maioria dos corredores vai fazer o Tour para se preparar: o João Almeida, o Nelson Oliveira e o Ruben Guerreiro. No fundo, a melhor prova para preparar os Jogos é o Tour. Claro que será sempre especial estar no Tour com uma nova equipa. É a Grande Volta mais importante. E parte de Florença, onde fui campeão mundial. Será bom voltar.
O percurso de Paris’2024 agrada-lhe?
-O facto de representar Portugal é sempre muito importante para mim. Não é um percurso muito duro, mas dá possibilidades de chegar um pequeno grupo e isso pode abrir a corrida. É estar bem, entrar nos grupos certos. É um Euromilhões. Cada vez gosto mais desse tipo de provas. Dá força para sonhar. Tudo pode acontecer. Veja-se o Sérgio Paulinho, segundo em 2004. Admiro-o muito. Quase ganhava.
Quais são as diferenças entre Jogos e Mundiais?
-O Mundial será mais duro. Sabemos que hoje em dia ou um Mundial tem acima de 4000 ou 5000 metros de acumulado ou dá oportunidade a um homem rápido. Não um sprinter puro, mas a Matthews, Van der Poel, Van Aert. Se for uma subida de três minutos, é difícil descarregar um sprinter de 75 quilos. O facto de ser no final de setembro e na Suíça fá-lo interessante. O Pogacar está a controlá-lo. Será claro apostar mais no Mundial do que nos Jogos. Mas o nível está muito equilibrado. Às vezes, estão 30 ciclistas na última montanha das Grandes Voltas. Nas clássicas, eu às vezes nem andava na última hora. A nutrição deu grandes passos. É tudo pesado e são os detalhes a fazer diferença: os pneus, a roupa para a chuva...
Há algum atleta no pelotão parecido consigo?
-Vendo o percurso dele, diria o António Morgado. É muito rápido. Em cada Mundial [juniores e sub-23] não falha. Vai ser talhado para clássicas e provas de uma semana. Analiso agora e os atletas podem mudar, mas vejo-o em provas de um dia. Vai ser um pouco ao meu estilo. Na Intermarché, tinha o Kobe Goossens. Tem tido azar, acontece-lhe sempre alguma coisa. Via-o muito idêntico a mim. Sprinta bem em grupos reduzidos e defende-se melhor na montanha.