Aos 44 anos, Renato Garrido, com mestrado em treino desportivo, está na segunda época como treinador principal e surpreendeu ao trocar o Juventude de Viana pela Oliveirense na reta final do campeonato.
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Renato Garrido, depois de ter vivido os anos dourados do FC Porto e de se ter estreado como técnico principal no Juventude de Viana, em 2016/17, volta a um emblema com as mesmas ambições dos três grandes. Já na reta final da época, com o Viana a recuperar de uma fase negra, causada por uma invulgar onda de lesões, tornou-se no alvo da Oliveirense, a qual, já fora da Liga Europeia, da Taça de Portugal e com o quarto lugar no campeonato em risco, quis mudar de treinador.
"Este ano, no Viana, fizemos a travessia no deserto e agora para o fim estávamos a regressar às vitórias, depois de termos quebrado física e emocionalmente com a lesão do André, que nos afetou imenso, do Francisco, do Ramalho e do Emanuel. Só sei que num dia estávamos com oito jogos sem perder e, de repente, nem gente tínhamos para treinar", contou Renato Garrido, avançando para o momento em que o telefone tocou: "Subitamente, a Oliveirense falou comigo e eu, claro, queria voltar atrás no tempo e estar numa equipa profissional que lute por títulos, mas tinha uma dívida de gratidão com a Direção do Viana e jamais queria sair em litígio. Felizmente, os clubes entenderam-se."
Ter de lidar com uma "equipa desmoralizada"
Chegado a Oliveira de Azeméis, onde jogam João Souto, Pedro Moreira e Ricardo Barreiros, com os quais já trabalhou no FC Porto, o técnico, sempre acompanhado por Edo Bosch, encontrou uma "equipa desmoralizada": "A Oliveirense entrou forte, a ganhar a Taça Continental, depois passou por um período complicado e perder o objetivo da Liga Europeia e da Taça afetou a equipa. Estamos a fazer ajustes, valorizando o que estava feito, mas não pode ser tudo novo de repente. É grande a vontade de dar a volta por cima."
Se, este ano, resta à Oliveirense a defesa do quarto posto e com ele o acesso à próxima Liga Europeia, Renato Garrido já pensa em 2018/19 porque quer voltar a sentir o que sentiu no FC Porto, onde chegou muito jovem, com o curso da Escola Superior de Educação, para treinar camadas jovens, entrando na equipa principal em 2003/04, para conquistar o tri ao lado de Franklim Pais. "Criou-se uma dinâmica incrível. Sabíamos, todos os anos, que podíamos fazer história. Não sei se tínhamos todos consciência de que o que estávamos a fazer dificilmente algum clube iria repetir. Só guardo com tristeza nunca ter conquistado um título europeu", recordou, continuando: "Perdemos a Liga Europeia de todas as formas e feitios: em liguilha sem perder um jogo, duas vezes no golo de ouro, nos penáltis... e apanhámos um período em que o Barcelona teve equipas muito fortes."
"Sabíamos, todos os anos, que podíamos fazer história"
Treinar grandes nomes do hóquei, como "Reinaldo [Ventura], Filipe Santos, Pedro Gil, Reinaldo Garcia, Caio, Emanuel Garcia", obter o tri "num ano de renovação de uma equipa em que ninguém acreditava" e o "histórico deca" são os momentos mais marcantes da carreira de Renato Garrido, que também recordará sempre os anos passados em Fânzeres: "Estive no Américo de Sá, Fânzeres e Dragão. Quando saímos do Américo de Sá custou-nos a adaptar a Fânzeres, mas depois foi brutal. Hoje em dia, falando com alguns dos adversários, eles confessam que sentiam que já entravam a perder 1-0. Era o inferno de Fânzeres. Quando fomos para o Dragão, sentíamos que era importante para nós estarmos ali todos juntos: hóquei, andebol e basquetebol. Era a nossa casa, um miniestádio onde nada falta, mas o ambiente de Fânzeres não vai voltar."
Oito anos a número dois de Franklim Pais, quatro a trabalhar com Tó Neves e um com Guillem Cabestany moldaram o perfil de Renato Garrido, que elege dois nomes como principais referências: Franklim Pais e António Livramento. "Toda a gente sabe que o Franklim é um grande gestor de recursos humanos, gostava de ter um bocadinho o feitio dele. Recordo com saudade as nossas conversas até às quatro da manhã. Aprendi muito com ele, ouvi os seus conselhos, a forma como comunicava com os jogadores, era apaixonado pelo que fazia, é um apaixonado pelo clube", sublinhou o treinador, recuando aos tempos de Livramento: "Tive a felicidade de o conhecer. Falava de hóquei com simplicidade e um conhecimento que nunca mais voltarei a encontrar na vida. Tinha 23 anos, saía da Faculdade e ia ver os treinos dos seniores às Antas. Pedia autorização ao Livramento e depois também ao Cristiano [Pereira] e chateava-os com perguntas."
Vinte anos depois, "mudaram as regras e hóquei está numa evolução tática permanente e, com a qualidade do campeonato português, o jogo é muito exigente. A integração de preparadores físicos fez o jogo tornar-se mais físico e rápido", rematou Garrido.