Quintana: um predestinado para o desporto que deixava Moncho "louco" com os triplos
Aterrou em Portugal, com 22 anos, pela mão de José Magalhães, que começava a furar o mercado cubano. Esteve dez épocas no FC Porto, onde sempre disse querer acabar a carreira.
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Alfredo Eduardo Quintana Bravo, natural de Havana, em Cuba, onde nasceu a 20 de março de 1988, tornou-se um verdadeiro atleta, um predestinado para o desporto, com 2,01m e 92 kg. José Magalhães, diretor-geral para o andebol do FC Porto desde 2000, há cerca de 21 anos, portanto, a determinada altura começou a trabalhar o mercado cubano, tendo sido o responsável pela chegada de Quintana a Portugal, no início de 2011.
Na altura, o "novato" ficou a alojado em casa do dirigente e depois na da sogra do antigo técnico. O caribenho era então um jovem, de 22 anos, cheio de sonhos e o primeiro jogador de andebol de origem cubana no nosso país. Nesse mesmo ano, e no dia do aniversário do atleta (1 de setembro), José Magalhães trazia Daymaro Salina, o segundo de vários cubanos que se sucederam, e que é agora capitão do FC Porto.
Trabalhador nato, com uma capacidade de superação única, Quintana rapidamente mostrou qualidades fora do comum para a modalidade em Portugal, tendo dividido a baliza com poucos companheiros nos azuis e brancos - Hugo Laurentino, muitos anos, o austríaco Thomas Bauer, João Moniz e, esta época, o macedónio Nikola Mitrevski -, isto não contando com os "terceiros" guardiões, mas com todos eles manteve excelentes relações, sendo de destacar a autêntica cumplicidade com Laurentino.
Porém, confiante, com uma autoestima elevada, apelidava-se de Kingtana e todos os colegas e adversários tinham um enorme respeito por ele. De resto, tal foi ficando demonstrado com a sucessão de homenagens feitas por quase todos os emblemas, e até de outras modalidades, nos últimos dias.
"Um guerreiro extraordinário" que saltou para a Seleção
Algumas das publicações de Quintana no Instagram, rede social que utilizava bastante, deixavam clara a forma como pensava - "Se lutas, podes perder, se não lutas, estás perdido", "O segredo é simples: quando dás o melhor de ti, a vida dá-te o melhor dela", "Quero ser lembrado no futuro como alguém que inspirou outras pessoas a fazer coisas que pareciam impossíveis" e "Eu tenho lutado desde que era criança. Eu não sou um sobrevivente, sou um guerreiro extraordinário" são alguns exemplos.
Este guerreiro mostrou a raça dos bravos e lutou até última reserva de força, acabando, todavia, por perder a batalha. Todavia, deixou uma marca fortíssima no andebol português.
Desde logo no FC Porto, clube com que havia renovado até 2022/23 e no qual desejava "acabar a carreira". "Em Portugal, não me vejo a jogar noutro clube", afirmara também em entrevista a O JOGO.
Pelos dragões - estreou-se em Anreade, Resende, a 26 de março de 2011, num FC Porto-Sporting da Horta para o campeonato, com uma vitória por 34-28 - conquistou seis campeonatos (2010/11, 2011/12, 2012/13, 2013/14, 2014/15 e 2018/19), uma Taça de Portugal (2018/19) e duas Supertaças (2014/15 e 2019/20), isto para além de ter jogado a final-four da Taça EHF, em Kiel (Alemanha), em 2018/19.
As fantásticas exibições, a envergadura, entre outras qualidades, levaram Quintana à Seleção Nacional, onde, tal como nos azuis e brancos, era peça fulcral. O primeiro jogo pela equipa das Quinas foi um particular com a Tunísia, em Oliveira do Hospital, a 19 de setembro de 2014. Rolando Freitas o selecionador. Nessa partida, dividiu a baliza com Hugo Figueira, a jogar na Holanda, e Ricardo Candeias, treinador adjunto de Rui Silva no Sporting. Portugal venceu 31-29.
Somou 67 internacionalizações, marcou dez golos e esteve nas melhores classificações de sempre das cores nacionais (sexto lugar no Europeu de 2020, antes era o sétimo posto de 2000; e o décimo lugar no Mundial desde ano, sendo que antes era a 12.ª posição de 2003). No Mundial deste ano a baliza foi dele e Humberto Gomes, de 43 anos. Gustavo Capdeville também estava no lote de convocados, mas nunca foi a jogo.
Em 2009, ao serviço da seleção do país natal, Cuba, Alfredo Quintana - e Daymaro Salina - jogaram o Campeonato do Mundo da Croácia.
Para os colegas partiu um irmão, para os treinadores um jogador único e exemplar, para José Magalhães um filho, para os restantes dirigentes e para andebol do FC Porto uma lenda e para a Seleção Nacional um gigante.
Moncho López ficava "louco" com os triplos
Alfredo Quintana tinha jeito para tudo, mas ganhou-o o andebol, modalidade que treinava, numa academia, em Havana. Porém, para lá do hóquei em patins, com cujos jogadores dos dragões também "brincava", embora sem patins, o luso-cubano tinha aptidão para o basquetebol e para o voleibol também.
Os 2,01 metros ajudam, claro, mas o talento estava lá e Moncho López, treinador da equipa de basquetebol, ficava pasmado com a facilidade com que Quintana, praticamente sem aquecer ou fazer algum gesto técnico antes, metia sete/oito triplos consecutivos.
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