"Quando nos juntámos para decidir que jogador deveríamos naturalizar, eu disse imediatamente: Quintana"

Rolando Freitas, ex-selecionador de andebol de Portugal
André Vidigal / Global Imagens
Rolando Freitas estreou Alfredo Quintana na Seleção portuguesa de andebol a 29 de outubro de 2014.
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O ex-selecionador nacional de andebol Rolando Freitas mostrou-se firme há quase sete anos face à contestação gerada pela estreia do naturalizado guarda-redes do FC Porto Alfredo Quintana, que morreu hoje, aos 32 anos.
"Foi um passo que demos, entre a direção da Federação de Andebol de Portugal, o FC Porto e a equipa técnica, no sentido de fazer algo que já acontecia noutros países. Quando nos juntámos para decidir que jogador deveríamos naturalizar, eu disse imediatamente: Alfredo Quintana", rememorou à agência Lusa o técnico, de 55 anos.
Natural de Havana, o guarda-redes assinou pelos dragões na temporada 2010/11, proveniente do Industriales, clube enraizado no beisebol, depois de ter praticado basquetebol e voleibol em criança e representado Cuba no Mundial 2009 de andebol.
O primeiro cubano a jogar no campeonato português foi identificado pelo diretor portista José Magalhães durante o Campeonato Pan-Americano de 2010, no Chile, e demorou pouco a impor-se na baliza azul e branca e a adquirir nacionalidade portuguesa.
"Foi uma decisão sem dúvidas e com certezas de que ele nos iria ajudar muito no futuro, como felizmente se confirmou pelo extraordinário desenvolvimento que ele deu ao crescimento do andebol nacional", valorizou Rolando Freitas, em alusão à estreia de Alfredo Quintana em 29 de outubro de 2014, numa derrota frente à Hungria (31-30).
Se a seleção estava a iniciar uma infrutífera qualificação para o Euro'2016, o guardião começava um "percurso notável" ao serviço de Portugal, abrilhantado pelas melhores classificações de sempre, com o sexto lugar no Euro'2020 e o 10.º no Mundial'2021.
"Apesar das vozes discordantes que existiam no início, ele ajudou a pacificar todo o ambiente da seleção através da sua simplicidade, profissionalismo e entrega. Claro que houve muitas outras pessoas que contribuíram para isso, mas tornou-se uma figura incontornável pela disponibilidade, amizade e humildade demonstradas", notou.
Ao longo de uma década de residência em solo luso, Alfredo Quintana contabilizou 67 jogos e 10 golos pelas quinas, seis campeonatos, uma Taça e duas Supertaças ao serviço dos dragões e defesas notabilizadas por companheiros de equipa e rivais.
Um dia depois de ter assinado dois golos na vitória sobre o Águas Santas (34-26), num encontro de atraso da 13.ª jornada da Liga, o guarda-redes sofreu uma paragem cardiorrespiratória num treino do FC Porto e deu entrada no Hospital de São João.
Alfredo Quintana permaneceu internado desde segunda-feira na Unidade de Cuidados Intensivos, em situação clínica estável, mas com prognóstico muito reservado, tendo o hospital comunicado esta manhã ao FC Porto a declaração do óbito às 12:00 de hoje.
"É um dia extremamente triste para a família do Alfredo e do andebol. O nosso coração estava a sangrar desde segunda-feira. Infelizmente, os piores prognósticos vieram-se a confirmar e a recuperação tornou-se impossível. Foi uma semana difícil e triste, sempre com a esperança de que um milagre pudesse vir a suceder", lamentou Rolando Freitas.
O ex-selecionador português (2012-2016), rendido no cargo por Paulo Jorge Pereira, e atual coordenador técnico da Associação de Andebol de Israel garante que o malogrado guarda-redes, que completava 33 anos em 20 de março, "estará sempre no coração".
"O legado é incontornável para o andebol português. Afirmei há pouco tempo que não conseguíamos obter resultados internacionais sem um grande guarda-redes. Ele trouxe esse degrau extra à seleção e ao clube. Vou recordá-lo como um amigo, um excelente profissional e alguém que, se lhe pedisse alguma coisa, dava algo mais", concluiu.
