Miguel Laranjeiro, presidente da Federação de Andebol de Portugal, explicou a O JOGO que o nosso país não tem mais recintos que cumpram as exigências da EHF para receber tal evento
Corpo do artigo
A candidatura Ibérica à organização do Campeonato da Europa de andebol de 2028 foi oficializada, sob o lema "Jogamos sob o mesmo hino". Porém, quando foram anunciadas as cidades que iam acolher o evento, caso esta seja o vencedor - ainda há uma candidatura conjunta da Dinamarca, Suécia e Noruega e outra da Suíça -, muitas críticas se fizeram ouvir, com as redes sociais a revelarem-se um veículo de transmissão incontrolável. E a verdade é que se do lado de Espanha se apresentam Madrid, Málaga, Valência e Ourense, do lado luso temos... Lisboa.
O JOGO foi à procura da explicação e conversou com Miguel Laranjeiro, presidente da Federação de Andebol de Portugal (FAP). "Nós temos de cumprir o caderno de encargos da EHF (Federação Europeia de Andebol), que tem um grau de exigência muito elevado e, para a fase preliminar, sem a presença da equipa nacional, o pavilhão tem a obrigatoriedade de ter cinco mil lugares, se for com Portugal terá de ter oito mil. No "main round", sem a equipa nacional são obrigados recintos com seis mil lugares, mas com a seleção da casa são 12 mil e, para a final, terão de ter capacidade para 18 mil", explicou o líder da FAP, referindo: "Em Portugal só temos um pavilhão que cumpre estes requisitos, que é o Altice Arena, que tem 12 mil lugares. Para além disso, na nossa candidatura, em que prevemos que Portugal chegue ao "main round", há outro problema, é que os pavilhões dessa fase têm obrigatoriamente de receber uma fase preliminar".
As críticas, vindas de vários quadrantes, mas, acima de tudo, de pessoas, clubes e adeptos da modalidade a norte do país são perfeitamente entendidas por Miguel Laranjeiro. "Infelizmente, a falta de cultura desportiva e de estratégia como um país acolhedor de eventos de média dimensão faz Portugal correr o risco de sair deste tipo de organizações. Não há no Porto, Guimarães, Braga, Matosinhos, Póvoa de Varzim ou Santo Tirso pavilhões com esta capacidade. O mais próximo é Gondomar que tem 4500, mas não chega. Por aqui se vê a importância do Norte ter uma infraestrutura desta dimensão", alertou, reforçando: "Quem me dera a mim, que sou de Guimarães, poder ter na região norte nem que fosse uma fase preliminar do Campeonato Europa".
"Se não fosse o empenho da autarquia e do Governo nem isto seria possível", diz Miguel Laranjeiro
De resto, Miguel Laranjeiro, que diz perceber as críticas e até as considera "perfeitamente justas", embora ache que "não devam ser imputadas à Federação, mas ao país", prosseguiu: "Só havia uma de duas opções, ou entrar nesta candidatura ou a não candidatura e a minha opção foi ter Portugal como coorganizador do Europeu. Não me resigno que os adeptos e os fãs do andebol fiquem privados de assistir a grandes jogos da modalidade no nosso país e a única solução era esta. E, mesmo para esta solução, contamos com o imprescindível apoio da Câmara Municipal de Lisboa e da Secretaria de Estado do Desporto, senão não seria possível".
A verdade é que a prova, prevista para entre 13 e 30 de janeiro de 2028, deixa um amargo de boca a Laranjeiro. "Isto é a uma revolta, a Lituânia tem três pavilhões capazes de organizar isto, a norte, centro e sul e nós, hoje, já não competimos só com países do centro e norte da Europa mas também com países do leste, ultrapassando já Portugal. Lamento muito isto, é triste, mas é verdade", referiu.
Miguel Laranjeiro, que considera injusto este deserto de infraestruturas no resto do país, lembra que "Portugal vai receber agora uma bazuca de dinheiro" e que se deve olhar para este exemplo do Europeu de 2028 "para se perspetivar a construção, ou a reconstrução, de uma infraestrutura que sirva para acolhermos eventos desta dimensão". Laranjeiro vai mesmo mais longe e deixa um aviso: "Se não é agora, nunca mais será, até porque este tipo de exigências das federações europeias só têm tendência a aumentar".
Portugal já organizou um Europeu e um Mundial
Portugal já recebeu duas provas de "média dimensão", como lhe chama Miguel Laranjeiro. Foi o anfitrião do I Campeonato da Europa, em 1994, disputado em Almada e no Porto. Em 2003, organizou o Campeonato do Mundo, em Viseu, Guimarães, São João da Madeira, Póvoa de Varzim, Rio Maior, Funchal, Espinho, Caminha e Lisboa. Tudo sob a presidência de Luís Santos. Agora os cadernos de encargos são bem mais exigentes e apenas um recinto tem as condições exigidas pela Federação Europeia de Andebol.