Pogacar: "Fiquei isolado e tive de lutar contra mim mesmo, mas felizmente consegui"
Eulálio fez história e Pogacar provou ser imbatível
Corpo do artigo
Tadej Pogacar voltou este domingo a demonstrar que é o melhor corredor do mundo, atacando ainda de mais longe para conservar a camisola arco-íris, numa jornada em que Afonso Eulálio fez história para o ciclismo português, em Kigali (Ruanda).
O esloveno replicou a estratégia do ano passado, mas acrescentou uns quantos quilómetros à sua epopeia, na qual teve, primeiro, a companhia do jovem mexicano Isaac del Toro, antes de se isolar a mais de 60 quilómetros da meta, que cortou após 6:21.20 horas na estrada.
"Penso que o percurso foi desenhado para isto. Tinha esperança que um grupo pequeno se formasse, como aconteceu com o Juan [Ayuso] e o [Isaac] del Toro. Foi a combinação perfeita. Queria ficar com eles o máximo tempo possível [...], mas fiquei sozinho bastante cedo. Tal como no ano passado, fiquei isolado e tive de lutar contra mim mesmo, mas felizmente consegui", descreveu.
Nos primeiros Mundiais de ciclismo de estrada realizados em África, o tetracampeão do Tour, de 27 anos, revalidou o título na prova de fundo de elites, relegando para a segunda posição o azarado Remco Evenepoel, que teve de mudar três vezes de bicicleta, mas nunca desistiu de tentar.
Após ter conquistado o ouro no contrarrelógio, o belga ficou hoje com a prata, cortando a meta a 1.28 minutos de Pogi, com o irlandês Ben Healy a fechar o pódio, a 2.16.
Outro dos destaques da jornada, completada apenas por 30 ciclistas, foi Afonso Eulálio, que a poucos dias de celebrar 24 anos se tornou o segundo português de sempre a concluir a prova de fundo de elites no top 10, igualando o nono lugar alcançado em 2009 por Rui Costa, que em 2013 se sagrou campeão mundial em Florença.
Além do figueirense, que cortou a meta a 7.06 minutos do vencedor, também Ivo Oliveira esteve em destaque, integrando a fuga que se formou quando estavam decorridos meros seis dos 267,5 quilómetros da jornada e só foi apanhado quando o seu colega Pogacar atacou.
Verdadeira corrida de eliminação, pela distância e pela dureza de um percurso com 5.475 metros de desnível acumulado, a prova de fundo ofereceu a primeira surpresa quando o adoentado Julian Alaphilippe, até hoje o mais recente bicampeão mundial (2020 e 2021) no palmarés, abandonou.
Pouco depois, uma queda contra as barreiras afastou o espanhol Marc Soler e o belga Ilan van Wilder, o medalha de bronze no crono destes Mundiais. Após um início atribulado e veloz, o pelotão recuperou a tranquilidade, com as principais seleções a aguardarem pelo Monte Kigali para abrir as hostilidades.
Pogacar acelerou a mais de 100 quilómetros da meta, sendo perseguido por Evenepoel, que quebrou de imediato, parecendo ficar irremediavelmente afastado da discussão pelas medalhas - o belga, que ultrapassou o esloveno no crono em Kigali rumo ao segundo título mundial consecutivo, ainda teve problemas na bicicleta, sendo forçado a trocá-la duas vezes.
A pedalada do extraordinário Pogi eliminou toda a concorrência, exceto Ayuso e Del Toro, seus colegas na UAE Emirates. Mas, porque nos Mundiais as equipas nada contam, o vice-campeão do Giro'2025 acelerou no muro de Kigali e fez descolar o espanhol.
O mexicano e Pogacar uniram-se, depois, para construir uma vantagem de quase um minuto para os perseguidores, entre os quais estavam Evenepoel, Healy, Jai Hindley ou Primoz Roglic, mas também Eulálio e Artem Nych, o bicampeão da Volta a Portugal, único ciclista a disputar estes Mundiais sob bandeira neutra - acabou na 24.ª posição.
Ainda faltavam uns 66 quilómetros quando Del Toro quebrou e se despediu definitivamente do ouro, já depois de o português ter acelerado no grupo perseguidor.
Estreantes em elites, os lusos António Morgado e Tiago Antunes encostaram após quase duas centenas de quilómetros - Oliveira também já tinha abandonado -, numa altura da corrida em que Evenepoel demonstrava mais uma vez que nunca pode ser descartado.
O perseverante belga uniu-se a Healy e ao dinamarquês Mattias Skjelmose, na perseguição a Pogi, mas o trio nunca conseguiu reduzir a diferença.
Farto de assumir o trabalho, o duplo campeão olímpico, que cometeu um erro na derradeira troca de bicicleta - parou antes de o carro estar junto a si e teve de esperar bastante tempo -, saltou para a prata a duas dezenas de quilómetros da meta.
"Queria a dobradinha, sentia-me fantástico, mas hoje o destino tinha um plano diferente para mim", lamentou.
Na luta pelo bronze, o Healy aproveitou uma quebra de Skjelmose para subir ao pódio que encerrou os Mundiais de Kigali, um verdadeiro sucesso de público.