"Pinto da Costa? Uns minutos antes, fiquei a um milímetro de rachar a cabeça"
ENTREVISTA, PARTE I - Antes de assinar com Pinto da Costa, Ricardo Ares, treinador da equipa de hóquei em patins do FC Porto, quase rachou a cabeça, ao tropeçar numas escadas, recordando esse episódio como a anedota que marcou o início de um empolgante projeto que se estende até 2027.
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Deixou o País Basco aos 15 anos, para, aos 18, já jogar no Reus e treinar a formação. Chegou há 18 meses ao FC Porto, após grande sucesso como selecionador de Espanha (títulos mundiais e europeus masculinos e femininos) e, na sala VIP do Dragão Arena, conversou com O JOGO. Para além de afável, Ricardo Ares Lozano é um visionário.
"Poucos minutos antes de assinar, na presença do presidente, estive a um milímetro de rachar a cabeça"
Como é que um basco se apaixona pelo hóquei em patins?
-Comecei a patinar aos 11 anos, num colégio em Pamplona, e pouco depois já disputávamos as fases setoriais com o Barcelona e o Reus. Desde o primeiro dia foi uma loucura e uma paixão terrível, e tinha de sair do País Basco para jogar na OK Liga. Com 15 anos fui sozinho para a Catalunha, representar o Reus.
Como reagiu a família?
-Não muito bem, principalmente a minha mãe. Sou filho único, mas era uma aposta muito apoiada pelo meu pai - o grande artífice da concretização do sonho.
Que tipo de jogador era?
-Comecei como avançado exterior e com a idade fui recuando na pista. O hóquei antigo tinha posições mais fixas.
Estava-lhe destinada a carreira de treinador...
-Aos 18 anos comecei a treinar as escolinhas. Sempre gostei, fazia parte da paixão e conseguia jogar e ser treinador. Tive a sorte de treinar todas as categorias, masculinas e femininas, e sabia que, acabando a carreira de jogador, seguiria a de treinador.
Como surgiu o convite para treinar o FC Porto?
-A partir do momento em que o Cabestany quis sair, entrei nas opções, estava como selecionador nacional masculino e feminino, e tinha feito um bom trabalho durante seis épocas num clube de meio a tabela, como era o Voltregá. Perante o convite de um clube histórico do hóquei em patins que, juntamente com o Barcelona, é o melhor do mundo, senti logo que poderia realizar um sonho. Sempre quis ganhar a Champions como jogador, não consegui, e aqui tenho a grande oportunidade de lutar por essa conquista como treinador.
Qual o impacto ao conhecer Pinto da Costa?
-No dia da assinatura do contrato disseram-me que o faria com o presidente e fiquei ultra nervoso. Uns minutos antes, a descer aquelas escadas, tropecei, fiquei a um milímetro de rachar a cabeça e bati com o ombro na parede. Foi uma anedota vivida antes de ser recebido pelo presidente mais titulado do mundo.
Chegou há ano e meio. Já tem a equipa à sua imagem?
-Tenho mais do que isso. Tenho um grupo totalmente identificado com o modo como um adepto portista sente o clube e que, tal como eu, gosta de ver a equipa jogar um hóquei ofensivo, com muita raça e caráter. As coisas encaixaram muito bem, com a maior naturalidade e sem forçar nada.
"O Mundial prejudicou-nos muito; tive atletas em quatro seleções"
O Campeonato Placard é o melhor do pequeno mundo do hóquei...
-Sem dúvida. Mas seria ótimo que Espanha e Itália tivessem o mesmo alto nível; não é assim e com uma grande diferença. Portugal é o país onde se trabalha melhor. Tem a sorte de ter os três grandes clubes de futebol representados e outros históricos.
O campeonato vai na décima jornada, mas entre a quinta e a sexta parou sete semanas, devido ao Mundial, na Argentina...
-Esse longo período, que começou pelo estágio e acabou com o Mundial, prejudicou-nos muito. Tive atletas em quatro seleções, com modelos de jogo diferentes, como o espanhol, português, francês e argentino. Tal como acontecera na mesma altura do ano passado, com o Europeu, fomos confrontados com a gestão da questão física e, ainda agora, sentimos que voltar à normalidade é um processo que não sabemos quando acaba. Aliás, só recentemente começámos a recuperar aquelas rotinas básicas, mas não está a ser um processo fácil.
Quem é o melhor hoquista da atualidade?
-Todos os que tenho no meu plantel.
"Todos os escalões passarão a ter estilo de jogo com alma FC Porto"
Não tem nome, mas o projeto é uma espécie de "Novos Ares", discutido todas as segundas-feiras e pronto a entrar em prática em 2023/24.
"Estamos a criar o modelo de jogo com alma FC Porto para todos os escalões. Queremos melhorar as equipas, criar um projeto feminino, aumentar a captação para ter mais miúdos na formação, apontando ao objetivo de que a equipa A e a formação sejam um todo. E se a equipa principal luta por ser a melhor do mundo, também a nossa formação terá de lutar para que isso aconteça. Na próxima temporada, estão previstas muitas mudanças em diversos sentidos", revelou.