Pichardo lamenta falta de público em Portugal: "Não sei se não gostam de correr ou de saltar"
A preparação de Pichardo decorre na tranquilidade do Complexo Municipal de Atletismo de Setúbal, no Vale da Rosa, o que contrasta com a multidão que o espera no Estádio Hayward Field, em Eugene, no estado norte-americano do Oregon.
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O luso-cubano Pedro Pablo Pichardo elege o norte-americano Christian Taylor, atual campeão do mundo, como o seu grande rival, antevendo uma competição renhida no concurso do triplo salto dos Mundiais de atletismo, em Eugene, nos Estados Unidos.
"Claro que o tenho de respeitar o Christian Taylor, é o único que me tem vencido muitas vezes e ainda não o consegui ultrapassar, não há outro atleta que me tenha ganhado tantas vezes", vincou o português, campeão olímpico, em entrevista à agência Lusa.
Aos 29 anos, Pichardo chega aos campeonatos do mundo como líder do "ranking" mundial, detentor da Liga de Diamante e campeão olímpico, e com a terceira melhor marca do ano, com 17,49, apenas atrás de Jordan Díaz (17,83) e Andy Díaz (17,68), ambos ausentes da competição, marcada para 21 e 23 de julho, mas candidatos a integrarem, em breve, o restrito lote dos 18 metros.
"Os cubanos vão juntar-se a esse grupo seleto dos que já ultrapassaram 18 metros, espero que sim. Seria bom, porque temos de lutar pela motivação das pessoas pelo triplo salto, para que olhem de uma forma diferente para a disciplina e gostem do triplo salto. Lembro-me que, em 2015, eu e o Christian Taylor tivemos uma grande luta e toda a gente esperava pelo triplo na Liga de Diamante, era incrível, porque a competição tinha um grande nível e isso era bom", referiu Pichardo.
O português, que se estreou em Tóquio'2020 em Jogos Olímpicos, depois de ter ficado de fora do Rio'2016 por decisão dos médicos da seleção cubada devido a uma microfratura num tornozelo, integra o exclusivo lote de triplistas que já voaram mais de 18 metros, juntamente com o recordista mundial Jonathan Edwards, os norte-americanos Christian Taylor, Will Claye e Kenny Harrison e o francês Teddy Tamgho.
Instado a eleger um rival, Pichardo não hesita em apontar Taylor, que ficou ausente de Tóquio2020, devido a uma lesão no tendão de Aquiles, e regressou recentemente à competição, conseguindo duas vezes, em junho, 16,54.
"Já tenho perdido com um ou com outro, uma derrota ou duas, mas mais do que cinco só o Christian Taylor. Às vezes entro no sítio da IAAF [World Athletics] e vou à comparação com outros atletas: Will Claye, 9-8, [Hugues Fabrice] Zango, não me lembro, mas a meu favor, os cubanos, também a meu favor, agora o Taylor, 18-11 ou 10 a favor dele e reparo que perdi tanta vez com ele", reparou.
E as derrotas têm um efeito devastador em Pichardo, refugia-se, isola-se e tenta não falar com ninguém: "Como já me conheço, como sei que fico muito chateado quando perco, treino muito, tento ser disciplinado, focado, para não perder. Obviamente, somos humanos e acontecem erros, e as derrotas estão aí à porta, é normal termos uma derrota ou outro, mas eu trabalho sempre para não perder nenhuma".
Ainda em Portugal, Pichardo reiterou a vontade de voltar a saltar 18 metros - tem 18,08 alcançados em 2015, ainda antes de se naturalizar português, em 2017 - e assegurou estar perto da forma que lhe permitiu essa marca, prometendo dar o seu melhor em Eugene.
"Ainda não, como sempre faço, vou tentar chegar lá e fazer o meu melhor. É o que faço sempre e é nisso que penso. Quando chega o momento, dou o meu melhor e o resto sai sozinho", vincou.
A preparação de Pichardo decorre na tranquilidade do Complexo Municipal de Atletismo de Setúbal, no Vale da Rosa, o que contrasta com a multidão que o espera no Estádio Hayward Field, em Eugene, no estado norte-americano do Oregon.
"É essa a motivação. Se eu já tenho motivação no treino, quando chego à competição, com as pessoas e o barulho, tem de haver a diferença entre o treino e a competição, e quando chego lá quem está nas bancadas ajuda-me a conseguir o ânimo que preciso", sublinhou.
E, em mais uma tentativa de enaltecer o atletismo, Pichardo gostaria de poder sentir o mesmo em Portugal: "Se formos assistir a uma Liga de Diamante temos milhares de pessoas nas bancadas, a pagar, cá tivemos, há poucos dias, os campeonatos nacionais e não estava ninguém, e era grátis. Estão lá os atletas, as pessoas dos clubes, não sei o que se passa, se não gostam de correr ou de saltar".
Também a competitividade dos atletas nacionais deveria ser incentivada, de acordo com Pichardo, apelando ao apoio governamental e a uma abordagem "diferente" da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA), "caso contrário nunca vai subir o nível".
"Eu já sou atleta profissional, mas faço parte de uma seleção com atletas amadores. Eu não me sinto superior, mas já não sou amador há muitos anos e tudo começa por aí. A FPA tem de entender que o nosso desporto não pode ser amador e (...) querer competir com profissionais. Porque vai acontecer o que sempre acontece, um atleta fica em oitavo, nono ou 10.º e está feliz. Não me sinto superior, e eu nem gosto de falar deste assunto porque acham que é por eu ser campeão, mas eu não nasci campeão, eu perdi, fiquei em quarto, em quinto e continuava a lutar para ser campeão. Não podemos ficar felizes com um nono lugar, seja em Mundiais ou Jogos Olímpicos, o nono lugar é o nono lugar e temos de tentar lutar pelas medalhas, sempre!", concluiu.