PERFIL - Depois do atletismo e dos romances, ganhou ainda maior fama como dramaturgo e guionista.
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Foi um escritor e crítico literário português que o disse sobre Per Olov Enquist. "Nasceu para ser famoso", defendeu José Riço Direitinho. Era verdade. Antes ainda de fazer da escrita a sua forma de viver, o escritor sueco cuja morte foi ontem anunciada (sucedeu no sábado passado) foi um herói nórdico dos ares, chegando a ser recordista nacional de salto em altura. Mas a vida de Per Olov Enquist na terra foi ainda mais preenchida, sofrida e notável, chegando a ameaçar a conquista do Prémio Nobel.
O desporto foi um dos assuntos que serviu para decorar alguns dos livros de Enquist, que depois do atletismo e dos romances, ganhou ainda maior fama como dramaturgo e guionista. Depois de tentar com sucesso a sua mão na escrita teatral, foi como argumentista de cinema que atingiu fama não só no seu país e na Escandinávia, como pelo resto do mundo. Ao assinar o guião de "Pelle, o Conquistador", o sueco foi mais além, "convencendo" a Academia a atribuir à fita o Óscar para melhor filme estrangeiro em 1987.
Mas foi sobretudo a forma como Per Olov Enquist olhou para dentro de si próprio que, na opinião de muitos, atingiu as alturas maiores do seu corpo de obra, quando publicou "Outra vida", em 2008. O livro são as memórias do autor, profundamente marcado por duas décadas de luta contra o álcool, vício que largou numa manhã em que acordou decidido a não mais beber - conseguiu. Com esta obra, Enquist conquistou o Prémio Augusto pela segunda vez, o mais elevado galardão literário atribuído na Suécia.
Mas o celebrado autor nascido em Hjoggboele, em 1934, foi mais ainda. Além da carreira universitária como atleta, também cumpriu etapas de vida no jornalismo e dedicou-se igualmente à poesia e ao ativismo social. Depois de ter falhado por pouco a qualificação para os Jogos Olímpicos de Roma em 1960 no salto em altura, Per conseguiu de alguma forma atenuar a mágoa dessa ausência, doze anos depois. Já como repórter, foi enviado especial aos Jogos Olímpicos de Munique, marcados pelo ataque de um grupo terrorista palestiniano à residência da equipa olímpica de Israel, causando a morte a cinco atletas e seis treinadores. A experiência deixou uma marca profunda em Enquist, que virou-se com determinação ainda maior para a sua veia literária.
A esmagadora maioria da crítica literária internacional considerou-o, em vida e na morte, um escitor de dimensão imensa. A Suécia chorou o seu Per, um atleta que se fez ao ar para escrever.