"Pensei que tinha nível para o World Tour. Percebi a falta que me fazia um empresário"
Vencedor do Grande Prémio JN diz a O JOGO que mereceu mais chances no estrangeiro, mas que lhe faltou a sorte e um agente.
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Aos 29 anos, Joaquim Silva ganhou o Grande Prémio JN, uma das corridas que mais desejava desde que, em 2014, foi segundo na Volta a Portugal do Futuro. A O JOGO detalhou o seu percurso.
Corredor de Penafiel destaca a regularidade deste ano, pois já tinha sido sétimo no Agostinho, oitavo no Alentejo e quarto português no Algarve. Diz que acertou quando saiu da W52-FC Porto para rumar à Tavfer-Mortágua
Calculava vencer o "JN"?
-Sinceramente, não esperava. Saí da Volta a Portugal um pouco cansado, descansei três ou quatro dias e não sabia como ia estar. As sensações foram boas, apesar de o "crono" do primeiro dia não me correr bem. Quanto mais curto pior é, pois não sou explosivo. Na primeira etapa decidi arriscar a 25 km da meta e consegui a amarela. Era uma vitória de que precisava, mas que não esperava.
Foi a sua primeira como elite. Como avalia a sua época?
-Fiz uma época a andar muito. Fui muito regular e voltei ao meu nível. Faltava-me uma vitória. Faltava essa confirmação na cabeça.
Já correu em Espanha. A vitória no "JN" mostra que podia ter vingado lá fora?
-Estive um ano na Caja Rural e não correu bem. Não sabia o porquê de não estar no meu nível, mas no ano seguinte fui ao Luxemburgo e ao Qinghai Lake e fiquei nos dez melhores. Sempre quis correr lá fora. A Caja Rural disse logo que sim, mas assinei por um ano, em 2018. Não tinha empresário e não correu bem a partir de meio da temporada. Subindo a W52-FC Porto ao ProTour, voltei com o intuito de manter o nível profissional continental. Pensei que tinha nível para isso, para o ProTour e para o World Tour. Percebi a falta que me fazia um empresário. Já não penso muito nisso e tenho hoje uma confirmação de que posso ganhar, sabendo das minhas limitações. Não sou assim tão rápido e em Portugal não há assim tantas chegadas em alto. Isso é limitador. Ainda assim, penso que dá outro estatuto ganhar o "JN". As pessoas reconhecem o meu valor.
Ter sido segundo na Volta a Portugal do Futuro, em 2014, fez com que criasse expectativas muito altas?
-Em 2014 fui oitavo na Volta a França do Futuro e todos os do top-10 passaram ao World Tour. Durante dois ou três anos, perguntava-me porquê. Faltou sorte, não a tive para sair. Se arranjasse um empresário, sei que lá estaria ainda. Fui segundo nessa Volta a Portugal do Futuro atrás do Rúben Guerreiro, que hoje está no World Tour. Mesmo ganhando não teria sido diferente, mas tinha capacidade para estar lá fora.
Saiu da W52-FC Porto para a Tavfer-Measindot-Mortágua. Acertou?
-Não fazer a Volta a Portugal não me levaria a sair de uma equipa. Mas a equipa, que tinha 16 elementos, desceu de nível, tive alguns problemas com a parte financeira e dei um passo atrás, ao ficar na equipa do Pedro Silva. Tinha de aproveitar, dava-me muito bem com ele. Foi dar um passo atrás para me sentir bem e ser competitivo.
Bactéria não afeta o futuro
Atleta de 29 anos conta a O JOGO como um problema de saúde o fez desconfiar de si mesmo. Fala já de 2022 e da nova equipa
A equipa nunca divulgou o problema de que Joaquim Silva tinha padecido, mas o ciclista de 29 anos entregou a verdade e falou das dificuldades criadas por uma bactéria.
"Desde 2018 sentia que a alimentação não tinha feito, que chegava vazio às partes finais das etapas. Só em 2020 descobri o que tinha. O primeiro impacto foi negativo, descobri já perto da Volta a Portugal e sabia que ia quebrar a qualquer momento. Depois, ganhei confiança. Percebi que não errava nos treinos, que era uma situação solucionável. Era uma bactéria banal, mas em alta competição tudo conta. Costuma aparecer a pessoas de 50 anos e não traz riscos. Só que não absorvia bem os alimentos. A minha família acreditou em mim, às vezes mais do que eu. Nos momentos maus, e foram vários estes anos, a família esteve do meu lado, todos me apoiaram incondicionalmente. Quando eu pensava desistir, diziam que não havia problema por eu chegar atrás no pelotão", lembra. Superado o problema, já fala do futuro, que em 2022 não passará pela Tavfer-Mortágua: "Sei que a equipa para onde vou poderá levar-me a corridas lá fora. Não quero estar estagnado e gostava de poder vencer outra vez."