Pello Bilbao venceu em memória de Gino Mader: "Libertei a raiva que tinha e lembrei-me..."
Ciclista espanhol prestou a mais bonita homenagem a Gino Mader
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Gino Mader já tem a "sua" vitória na Volta a França, depois desta terça-feira Pello Bilbao (Bahrain Victorious) ter vencido em memória do ciclista suíço, seu antigo companheiro de equipa, em Issoire, na 10.ª etapa.
"Quando cruzei a linha, libertei toda a raiva que tinha dentro, e lembrei-me da razão desta vitória. É uma especial, para o Gino", disse um emocionado espanhol, que, aos 33 anos, e depois de integrar a fuga do dia, se estreou a vencer no Tour, diante do alemão Georg Zimmermann (Intermarché-Circus-Wanty) e do australiano Ben O"Connor (AG2R Citroën), respetivamente segundo e terceiro na tirada, com as mesmas 03:52.34 horas do vencedor.
Numa jornada confusa, em que o camisola amarela Jonas Vingegaard (Jumbo-Visma) e Tadej Pogacar (UAE Emirates) chegaram a andar em fuga - no final, haveriam ambos de cortar a meta integrados no pelotão, a 02.53 minutos -, Bilbao escolheu a escapada certa e foi calculista q.b. nos derradeiros quilómetros, elegendo o momento perfeito para lançar o sprint frente aos seus companheiros de jornada.
"O primeiro triunfo no Tour, após 13 anos como profissional... é um momento tão especial para mim", reconheceu o basco, que "saltou" ainda para o quinto lugar da geral, a 04.34 minutos do dinamarquês da Jumbo-Visma, que lidera com 17 segundos sobre Pogacar e 02.40 sobre o australiano Jai Hindley (BORA-hansgrohe).
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O percurso acidentado dos 167,2 quilómetros entre Vulcania e Issoire - com quatro contagens de montanha de terceira categoria e uma de segunda - "incentivava" à formação de uma fuga numerosa, com Nelson Oliveira (Movistar) a ser dos primeiros a tentar escapar ao pelotão, assim como o inevitável Wout van Aert (Jumbo-Visma), sem sucesso.
O col de la Moréno, situado ao quilómetro sete, e um ataque de Romain Bardet (DSM) partiram o pelotão, com o camisola amarela e o seu "vice" esloveno, escoltado pelo colega Adam Yates, a integrarem um segundo grupo de fugitivos e a obrigarem a BORA-hansgrohe, de Hindley, e a INEOS, do quarto classificado Carlos Rodríguez, a unirem-se na perseguição.
A "inconveniente" presença dos dois primeiros da geral no grupo perseguidor fez com que também os homens da dianteira vissem a sua aventura condenada, com a corrida em permanente "ebulição" nos primeiros 50 quilómetros.
Numa jornada "ameaçadora" para as esperanças francesas, Bardet e David Gaudu (Groupama-FDJ) perderam o contacto com o pelotão ainda na segunda subida do dia e foram forçados a trabalho extra (e a um grande desgaste) para anular os dois minutos de atraso e voltar a "encostar" no grupo onde estavam todos os outros candidatos ao pódio.
Foi preciso esperar pelos derradeiros 110 quilómetros da tirada para que uma fuga digna desse nome se formasse, com Bilbao, Zimmermann, Esteban Chaves (EF Education-EasyPost), Kasper Asgreen (Soudal Quick-Step), Mattias Skjelmose (Lidl-Trek), Nick Schultz (Israel-Premier Tech) e Warren Barguil (Arkéa-Samsic) a conseguirem a primeira grande vantagem sobre o pelotão, com uma margem superior a três minutos.
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Os sete foram perseguidos durante largos quilómetros por outros sete, acabando por ser alcançados por Ben O"Connor, um dos grandes derrotados da primeira semana na geral, no Col de la Croix Saint-Robert, a contagem de segunda categoria da jornada.
Asgreen descaiu e deu uma ajuda ao colega Julian Alaphilippe, a Michal Kwiatkowski (INEOS), Antonio Pedrero (Movistar), Anthony Perez (Cofidis), Harold Tejada (Astana) e Krists Neilands (Israel-Premier Tech), que, finalmente, chegaram aos homens da frente ao quilómetro 81.
Depois de terem tentado integrar a fuga no início da jornada, Van Aert e o seu eterno rival Mathieu van der Poel (Alpecin-Deceuninck) encontraram-se casualmente na frente do pelotão e não conseguiram contrariar a sua natureza, empreendendo uma descida destemida que lhes permitiu rapidamente ganhar 30 segundos de vantagem e encurtar distâncias para os 14 corredores na frente, em mais um momento que, apesar de não ter dado em nada, deslumbrou os fãs do ciclismo de ataque.
Alheios ao que se passava lá atrás, os fugitivos iniciaram a luta pela vitória na etapa, com Neilands, vencedor da classificação da juventude da Volta a Portugal de 2017, a ser o primeiro a conseguir adiantar-se aos companheiros de jornada e a ser apanhado apenas a 3.000 metros da meta, por um grupo em que seguiam O'Connor, Chaves, Pedrero, Bilbao e Zimmermann.
O espanhol destacou-se na companhia do alemão da Intermarché-Circus-Wanty e foi entre os dois que o triunfo foi discutido, com o ciclista da Bahrain Victorious a levar a melhor em memória de Mader, que morreu em 16 de junho, aos 26 anos, na sequência de uma queda grave na Volta à Suíça.
Quase três minutos depois do vencedor, que soma agora três vitórias em grandes Voltas (tem duas no Giro), chegou o pelotão, que integrava todos os primeiros da geral e também o português Ruben Guerreiro, 32.º naquela classificação, a 38.08 de Vingegaard.
O seu companheiro Nelson Oliveira chegou 09.23 minutos depois de Bilbao e é agora 65.º da geral, a 01:16.39 horas do camisola amarela. Rui Costa (Intermarché-Circus-Wanty) acabou a tirada num grupo que registou um atraso de 23.38, e desceu a 85.º, a 01:35.34.
Na quarta-feira, a 11.ª etapa do Tour proporcionará nova oportunidade aos homens rápidos, nos 179,8 quilómetros entre Clermont-Ferrand e Moulins.