Tendo Portugal obtido 10 dos 15 pódios em provas olímpicas, e oito deles face aos melhores europeus, o nível do evento esteve longe de ser fraco. Mas a realidade olímpica é outra e aponta a duas medalhas
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"Há um conjunto de resultados de qualidade, que mostram uma evolução num conjunto de modalidades", disse a O JOGO o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, no dia do encerramento dos Jogos Europeus, em Minsk. Essa era uma das verdades para explicar as 15 medalhas nacionais, que colocaram Portugal como 17.º no medalheiro, ligeiramente acima do 19.º posto de há quatro anos, em Baku, mas num patamar totalmente diferente do de 33.º país europeu, posição ocupada tanto nos Jogos Olímpicos de Londres"2012 (70.º do medalheiro total) como do Rio"16 (78.º), ambos reduzidos à média da habitual medalha única.
Se Portugal está mais competitivo num número interessante de modalidades - foram oito desportos diferentes a ir ao pódio em Minsk -, é de destacar que dez das 15 medalhas foram obtidas em provas olímpicas e apenas duas delas não tinham um nível de competitividade muito elevado.
No atletismo, o formato DNA afastou a maioria dos grandes atletas europeus e permitiu resultados inesperados: Carlos Nascimento conseguiu a primeira medalha de ouro nos 100 metros depois de Francis Obikwelu (campeão europeu em 2006), mas com 10,35 segundos, marca que o próprio baixaria para 10,26s dois dias depois (e, mesmo assim, é o 154.º tempo mundial do ano), enquanto a estafeta mista de 4x400 metros foi ao bronze com uma marca que valeria o 11.º lugar no recente Mundial da especialidade.
Concluindo-se que os pódios tiveram realmente valor, há ainda outra explicação para o seu número pouco habitual. A Missão portuguesa obteve dez diplomas (posições de finalista, até ao oitavo lugar) em Londres e 11 no Rio de Janeiro, embora nessas edições dos Jogos Olímpicos só tivesse uma medalha. Reduzindo-se a competitividade para o nível para uns Jogos Europeus, essa dezena de atletas - ou outros de valor equivalente - consegue chegar ao pódio, dando uma imagem mais agradável do verdadeiro valor do desporto nacional. Mas isto também nos revela outra verdade, mais dura: a previsão de duas medalhas para Tóquio"2020, feita pelo Comité Olímpico, poderá estar certa.
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A previsão desses dois pódios nos Jogos Olímpicos que se iniciam a 24 de julho do próximo ano, e nos quais Portugal pretende ter 12 posições de finalista - número consentâneo com o que fez em Minsk -, têm nome, e um delas é Fernando Pimenta, bicampeão mundial e já quatro vezes medalhado de prata nos Jogos Europeus e uma nos Olímpicos de Londres. A outro será Pedro Pablo Pichardo, líder mundial de triplo salto e este ano terceiro dessa lista.
A estimativa do Comité Olímpico de Portugal é cautelosa, pois não inclui Telma Monteiro ou um segundo pódio de Pimenta (no K2), por exemplo, mas será avisado não aumentar muito as expectativas de uma equipa que não poderá contar com talentos seguros como as três ginastas da acrobática ou a equipa de futebol de praia, pois essas disciplinas não têm lugar nos Jogos Olímpicos.
Análise medalha a medalha
ATLETISMO
Ouro - 100 metros: Carlos Nascimento
É o primeiro título internacional desde o Europeu de 2006 (Francis Obikwelu), mas a participação foi muito fraca. O sportinguista ganhou a mais famosa prova olímpica em 10,35s e três dias depois já fazia 10,26s. Teve um mérito: foi sempre o mais forte.
Bronze - 4x400 metros: Estafeta mista
É uma prova nova e vai estrear-se nos Jogos Olímpicos. Só há uma referência: com os 3m19,63s, Rivinilda Mentai, João Coelho, Cátia Azevedo e Ricardo dos Santos teriam sido 11.ºs no último Mundial de estafetas.
CANOAGEM
Prata - K1 1000m: Fernando Pimenta
Prata - K1 5000m: Fernando Pimenta
Campeão mundial em título nas duas distâncias, sendo a de 1000 metros olímpica, o benfiquista teve uma oposição talvez mais forte do que pensaria. A canoagem foi competitiva e do lote de grandes nomes mundiais só faltou o checo Josef Dostal.
CICLISMO
Prata - contrarrelógio: Nelson Oliveira
Com quarto e quinto lugares em Mundiais e um sétimo nos Jogos Olímpicos, é dos melhores contrarrelogistas mundiais e sonhará com uma medalha em Tóquio"2020. Em Minsk, faltavam Tom Dumoulin ou Chris Froome? Por sinal estão lesionados...
FUTEBOL DE PRAIA
Ouro - Seleção Nacional
Mesmo sendo a Seleção Nacional dona de um palmarés impressionante, a caminhada até ao ouro em Minsk não foi um passeio. O torneio teve sete equipas do top 8 do ranking continental, que Portugal lidera. Segue-se o Europeu e o Mundial, ambos com a ambição de ganhar, o que diz tudo sobre o poder desta equipa, que sonha com os Jogos Olímpicos, mas a hipótese de entrada do futebol de praia continua distante.
GINÁSTICA
Prata - dinâmico: Bárbara Sequeira, Francisca Maia, Francisca Sampaio Maia
Prata - combinado: Bárbara Sequeira, Francisca Maia, Francisca Sampaio Maia
Bronze - equilíbrio: Bárbara Sequeira, Francisca Maia, Francisca Sampaio Maia
A ausência de última hora da Rússia, campeã do mundo em 2018, pode ter ajudado, mas, mesmo assim, o conjunto português (quinto do ranking mundial) ombreou com a Bielorrússia (líder da hierarquia) e com a Bélgica (3.ª). Brilhante, mas a ginástica acrobática não é olímpica, pelo que o trio do Acro Clube da Maia não poderá ir a Tóquio'2020.
Bronze - trampolim: Diogo Ganchinho
Campeão europeu em 2018, o ginasta não deverá ter o azar do anterior ciclo - não competiu no Rio"2016 após ter ficado atrás de Diogo Abreu na qualificação do Test Event - e, em Tóquio, terá de contar com os rivais da China. Em Minsk, esteve no pódio com o campeão olímpico.
JUDO
Prata - equipas mistas: Seleção Nacional
Difícil é o apuramento para mais uma prova nova nos Jogos Olímpicos, pois cada país precisa de ter os seis judocas qualificados. Estando lá, só faltará somar o Japão à lista de rivais que Portugal superou em Minsk.
Bronze - 57 kg: Telma Monteiro
Contando o torneio como campeonato da Europa e valendo pontos para o ranking de apuramento olímpico, os grandes nomes do judo europeu foram à capital bielorrussa. Mesmo assim, a judoca do Benfica não vacilou, pois a experiência talhou-a para as grandes decisões. São 13 medalhas no mesmo número de Europeus disputados.
KARATÉ
Bronze - kata: Patrícia Esparteiro
A karateca é a portuguesa com o maior currículo internacional de sempre, provando-o em Minsk ao competir entre as oito melhores da Europa. O grande desafio será mesmo estar nos Jogos Olímpicos: em 2020, a modalidade estreia-se no programa, mas só terá 12 atletas por categoria e apenas três delas europeias!
TÉNIS DE MESA
Ouro - singulares femininos: Fu Yu
Para chegar ao ouro e carimbar o passaporte para Tóquio, Fu Yu teve de derrotar a terceira do ranking europeu e primeira cabeça de série de singulares femininos (a alemã Ying Han). No entanto, o torneio não teve atletas do top 20 mundial e, nos Jogos, será difícil a portuguesa chegar longe.
Bronze - equipas masculinas: Seleção Nacional
O trio português mais bem sucedido de sempre esbarrou na poderosa Alemanha nas meias-finais, mas segurou o bronze num torneio em que bateu duas seleções com posição superior no ranking - a França e a Grã-Bretanha. O mais negativo foi ter ficado adiado o apuramento olímpico, que agora se decidirá em janeiro de 2020.