O JOGO fez inquérito aos clubes da Liga Placard e só os favoritos aceitam esperar
Grande maioria dos clubes da Liga Placard não vê condições para continuar a época, devendo esta ser cancelada para se preparar a próxima; defende que não deve haver campeão se não se jogar mais, pede que continuem 14 equipas para 2020/21 e aprova a troca do Terceira pelo Imortal
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Após a suspensão das competições a 11 de março, a Federação Portuguesa de Basquetebol (FPB) já deu a entender ter esperança que ainda se jogue esta época, aguardando pelo resultado da reunião da FIBA, a 15 de abril, quanto à continuidade dos campeonatos da Europa jovens de julho. Um adiamento ou cancelamento destes pode abrir espaço a que se concluam algumas provas nacionais se o novo coronavírus estiver sob controlo. Porém, num inquérito de O JOGO aos clubes da Liga Placard, a maioria quer que a prova seja terminada já, por razões sanitárias e desconhecimento de como vai evoluir a situação em Portugal, onde o estado de emergência deve continuar. Além disso, tirando as equipas mais dotadas financeiramente, quase todas têm contratos com os jogadores à época.
Todos já temem as consequências financeiras - "Numa altura em que a modalidade estava a sair do buraco, isto vai ser uma catástrofe", antecipou o presidente do Maia Basket, Rui Lopes - e grande parte deseja que o foco seja já 2020/21. Só Sporting, Benfica, FC Porto e Oliveirense, com mais ou menos ressalvas quanto à saúde pública, parecem dispostos a esperar por uma janela de oportunidade. "Sou da opinião de que as competições sejam retomadas, desde que estejam reunidas condições", defendeu o representante da Oliveirense, Hélder Albergaria, enquanto o dos dragões, Vítor Hugo, realçou que "tudo indica que o campeonato poderá ser reatado mais à frente". "Caso não seja, um cenário em que não acreditamos, não deve haver campeão", acrescentou o dirigente portista, abordando a grande interrogação do que resta de 2019/20. A FPB estabeleceu que as classificações à data da paragem não servem para dar o título (neste caso, ao Sporting), admitindo atribuí-lo só num formato alternativo. Os leões asseguram que querem "vencer dentro de campo". No entanto, a opinião que não deve haver campeão é praticamente unânime. "Se daqui a um mês disserem que vamos recomeçar, onde estão os atletas? Em casa. Qual é a verdade desportiva de uma prova dessas? É assim tão importante ter campeão?", questionou Carlos Guerreiro, presidente do Galitos Barreiro, que, tal como os restantes porta-vozes, concorda com a descida do Terceira (despromovido matematicamente) e subida do Imortal (já tinha esse direito desportivo), já confirmadas.
Esta época estava a ter um modelo excecional de 14 participantes, face à entrada direta do Sporting - desceriam quatro equipas para, em 2020/21, voltarem a ser 12 -, mas, para os intervenientes, é consensual manter aquele número mais um ano, embora exista uma ressalva. "Devido ao impacto do coronavírus, haverá decisões difíceis a tomar e aí caberá a cada clube perceber se terá condições ou em que condições pode participar numa I Liga", diz o presidente da Ovarense, Rui Palavra.
TODAS AS OPINIÕES
Sporting (Posição do clube)
"O Sporting será sempre pela verdade desportiva e consideramos que, sempre com a salvaguarda da saúde pública, os campeonatos devem terminar. Queremos jogar e vencer dentro de campo. Devemos esperar até ao limite por uma decisão. Os clubes de futsal e hóquei em patins já deram um sinal público de que estão dispostos a um sacrifício desportivo para que as competições terminem, com uma calendarização ajustada e saúde pública garantida. As outras modalidades devem olhar para estas duas como exemplo. Estamos a caminhar a passos largos para uma das maiores crises económicas e sociais no mundo e, com a incerteza em que vivemos diariamente, os impactos sociais, desportivos e financeiros são incalculáveis."
Benfica (Rui Lança, diretor das modalidades coletivas de pavilhão, à BTV)
"Algumas federações estão a tentar encontrar alguma forma de apurar o campeão e é importante perceber como poderemos salvar o que ainda se pode salvar desta época, não prejudicando a época que vem. (...) A primeira opção era conseguir encontrar-se um modelo que pudesse apurar o campeão de todas as modalidades sem colocar em causa a verdade desportiva. Aí depende de cada modalidade. (...) A falta de receitas vai fazer com que a capacidade de resposta às necessidades seja menor. Fala-se muito do futebol, mas as modalidades, numa dimensão mais inferior, vão viver com isto de igual forma ou mais acentuada."
FC Porto (Vítor Hugo, diretor da secção de basquetebol)
"Não temos a certeza se irá haver campeonato ou não, mas tudo indica que poderá ser reatado mais à frente. Caso não seja, um cenário em que não acreditamos, não deve haver campeão. A prova que temos feito, e que ainda não foi concluída, serve apenas para saber quem vai ao play-off ou não, e é nesse play-off que se determina quem é o campeão nacional. Não havendo play-off, não há campeão. Poderemos ter de reduzir o número de equipas previstas para esse play-off, por uma questão de calendário, mas é algo a decidir no futuro e o mesmo se passa com a(s) equipa(s) que desce(m). Relativamente ao impacto financeiro, em termos de clube, iremos ter dificuldades económicas, o que poderá ter consequências nos orçamentos futuros."
Oliveirense (Hélder Albergaria, presidente)
"Se as competições continuarem, deveremos ver em que moldes. Caso não prossigam, não deverá haver campeões. Quanto às descidas, aquelas que à data da suspensão do campeonato já fossem matematicamente garantidas, assim como as subidas, devem ser promulgadas. A Oliveirense e alguns atletas não ficaram indiferentes aos transtornos da pandemia e ambos foram solidários na forma como efetuaram os acordos de suspensão temporários, que permitiram, por exemplo, que os estrangeiros fossem para junto das famílias nesta fase terrível. Obviamente que a Oliveirense não será diferente dos outros clubes, o impacto não será o melhor." -A.C.
V. Guimarães (Paulo Cunha, diretor desportivo)
"Não acredito que haja condições para haver competições. O tempo começa a passar e o espaço para se jogar é cada vez menor. Sem treinar, os jogadores não estão no máximo e acaba por ser uma competição não tão séria. A decisão do título é um aspeto importante, mas, na fase atual, todos compreenderiam se não houvesse um campeão. Quanto à Taça, os nossos estrangeiros já não estão cá. Teriam de ser jogos de qualidade e, se os atletas a meio da época tiveram uma paragem sem se poderem preparar, não vai ser apelativo. Já não faz sentido. O Vitória tem o futebol, mas tem perdido muito dinheiro com esta pausa e isso vai obrigar a mais investimento de patrocinadores, um esforço coletivo muito maior, mesmo dos sócios."
Galitos Barreiro (Carlos Guerreiro, presidente)
"Para um período especial, medidas especiais. Não temos condições para saber como vai ser dentro de um mês ou dois, e é utópico estar a dizer que isto vai melhorar em vez de piorar. Mesmo que o campeonato retome, os atletas nem estão a treinar sequer. A única hipótese que vejo era terminar a temporada junto ao início da próxima, mas, para isso, teria de se permitir que os jogadores da nova época fizessem o final desta. Estou muito preocupado, porque os nossos sponsors apoiam-nos tendo a publicidade nos jogos, não só na televisão, mas também nas camisolas, no pavilhão. Não havendo competição, não há exposição. Eles não têm retorno das verbas que nos entregam."
CAB Madeira (Pedro Freitas, presidente)
"Decidir o campeão é uma parte complicada de se resolver, já se viram várias fórmulas nas ligas europeias e é a parte mais sensível. Sem ser a descida do Terceira e a subida do Imortal, o resto deve ficar como está, é o mais justo para as equipas que estavam em competição, embora estivesse previsto que desceriam quatro. Os atletas, por sua iniciativa, mantêm alguma atividade, mas não é a mesma coisa. Penso que nenhum deles toca numa bola de basquete há duas semanas. Podem manter a condição física, mas nunca é nada que lhes permita competir. Neste momento está tudo parado, é uma incerteza que vai ter implicações no futuro do nosso clube."
Esgueira (Rui Mourinho, diretor desportivo)
"Seria melhor terminar já esta época e começarmos todos a pensar no futuro do que estar a adiar o inevitável. Respeito que esteja a querer mais elementos para tomar a decisão final, mas a probabilidade de vir a haver uma janela de oportunidade para se concluir a Liga é quase nula. Quanto ao título, aceitamos que, caso haja condições, possa haver um modelo alternativo para encontrar o campeão, um play-off a quatro ou a oito. O Esgueira perdeu as receitas de dois jogos em casa que ainda teria na fase regular. Depois iríamos ter pelo menos mais um jogo no nosso pavilhão, fosse play-off ou play-out. Ainda não sentimos a perda de nenhum patrocinador, mas temos isso como possibilidade."
Lusitânia (Luís Veríssimo, diretor desportivo)
"A época deve ser dada como encerrada, nunca sabendo quando é que vai ser possível recomeçar. Dado que a Federação marcou para 18 de abril uma reunião para decidir, se fosse para voltar, os restantes jogos obrigariam, no mínimo, a duas semanas de preparação da equipa. Faltando quatro jornadas e play-off, isso iria ultrapassar junho, o que, para nós e a grande maioria dos clubes, é insuportável. Achamos que não devia haver campeão, mas isso é um assunto para outros discutirem. A próxima época devia ter 14 equipas na mesma e só deveriam descer duas. Haveria duas fases, os sete primeiros e o vencedor do grupo de baixo iam ao play-off. Ainda vamos ter uma reunião com o Governo Regional para saber do impacto desta crise."
Ovarense (Rui Palavra, presidente)
"Estamos todos em casa e só daqui a cinco semanas esperamos ter condições para sair. A maior parte dos atletas estrangeiros já não está em Portugal. Na Ovarense, no dia 13, já não tínhamos nenhum americano. A nossa posição junto da Federação é que se devia cancelar o campeonato e começar já a pensar no próximo. O título não deve ser atribuído. Nos últimos anos, os nossos principais sponsors entraram em falência. Só através de um grande apoio do tecido empresarial de Ovar foi possível voltar. Obviamente que, para as empresas, que estão fechadas, o desporto não vai ser a prioridade. Antevemos uma primavera complicada, porque falar em verão já é tarde demais."
Barreirense (Alexandre Almeida, vice-Presidente para o basquetebol)
"As equipas estão paradas, muitas delas já não têm os plantéis completos e os contratos com jogadores são à época - acabavam agora em abril. Depois, muitos eram prolongados consoante a participação das equipas no play-off. A forma mais correta era este ano não haver campeão, porque muitas das coisas que poderiam acontecer num play-off já não vão acontecer. Estar a encontrar um campeão num fim de semana não será a forma mais justa. Na Taça de Portugal, que tinha quatro equipas apuradas, se estas tiverem os plantéis completos, aí, sim, poderia ser encontrado um vencedor. Na parte mais baixa da tabela, tirando o Terceira, que já tinha descido, todas as equipas devem manter-se, porque, matematicamente, ainda podiam entrar no play-off. Atribuir descidas e subidas consoante a classificação que ficou seria injusto, o campeonato estava muito equilibrado."
Illiabum (Pedro Novo, presidente)
"A Federação ainda tem alguma esperança de terminar, nem que seja fazer o play-off com meia-final e final, mas não sei se haverá tempo. Se não houver mais jogos, concordo que o título não seja entregue. O comunicado da Federação diz que quem já tinha descido, vai descer, e quem já tinha subido, sobe. Essa decisão dá a entender que, pelo menos, o play-out não será jogado e assim garantimos a manutenção. Como seria de esperar, todos os patrocínios do Illiabum foram cancelados: o que estava recebido, foi recebido; o que não estava, ficou por se receber. As empresas têm os seus próprios dramas para resolver. O dinheiro agora é para pagar a funcionários e para contas fixas, e não para clubes desportivos."
Maia Basket (Rui Lopes, presidente)
"O tempo parou para tudo. A maior parte dos atletas já foi para os EUA ou outros países de origem, os nossos também. Verdade desportiva já não há muita. Temos atletas para terminar o campeonato, não é isso que nos incomoda. Este campeonato deveria ficar sem efeito. Para sermos justos, para o ano, o campeonato teria de ser alargado a 16 equipas, se quiserem premiar quem estava no escalão abaixo e fez um esforço grande porque queria subir à Liga. Numa altura em que a modalidade estava a sair do buraco, com mais visibilidade, isto vai ser uma catástrofe."
Terceira Basket (Luís Abreu, treinador)
"Concordo que o Terceira deve descer. Nem vejo que razão haveria para não ser assim, dizer que esta época não tem validade. Apesar de estar a ser difícil, queríamos competir até ao final. Se houver condições sanitárias para que se terminem os campeonatos, que terminem. Não estou a ver é que isso possa acontecer num quadro próximo, mas, a acontecer, já não será real. Devia haver um consenso para encontrar uma forma positiva de terminar a época sem se prejudicar o que foi feito até agora. Para o Terceira, isto acabou por ser um desafogo, porque os norte-americanos não estão e acaba por se poupar um pouco em rendimentos."