
Falta de competição é bola de neve que arrasta o desporto jovem para profundezas ainda difíceis de avaliar.
Nem corpo, nem mente sã! O caos lançado pela pandemia de covid-19 no desporto de formação é uma avalanche que corre veloz encosta abaixo, arrasando tudo à sua passagem - desde logo os jovens atletas, mas também clubes, treinadores e árbitros, ninguém escapa à onda de choque de uma paragem competitiva que dura desde meados de março e já tem consequências a nível físico, psicológico e económico; que terá consequências na competição mas também, ou essencialmente, no normal desenvolvimento motor de crianças em idades críticas do crescimento.
"Esta paragem impede o desenvolvimento e haverá retrocessos. Dos nove aos 12 anos desenvolvem-se capacidades motoras, como a velocidade. Pode ser irrecuperável. No futuro, vamos dizer que perdemos alguns talentos", sintetiza João Santos, antigo diretor técnico do futebol de formação do Benfica, no que é corroborado por José Adelino, responsável da formação do Paços de Ferreira: "Para os mais novos, que têm de trabalhar a coordenação motora, estarem parados tanto tempo não é nada positivo".
O futebol, como de resto O JOGO deu conta na edição de ontem, sábado, representa a parte de leão destes atletas jovens que se encontram sem competir, a cair na desmotivação e muitos a engrossar as fileiras do abandono da prática desportiva. Os quase 155 mil federados a nível nacional em 2019/20 mingaram para menos de 34 mil na atual (e graças aos arquipélagos, onde os campeonatos da formação estão a decorrer), mas o problema é transversal às principais modalidades, como se constata nas infografias anexas: da época passada para a presente, desapareceram dos registos 173 991 atletas da formação no andebol, basquetebol, futebol, futsal, hóquei em patins e voleibol. Nada menos do que 79%, mais de três quartos, dos desportistas da formação!
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"O escalão júnior está imensamente afetado, porque depois deste caos, se calhar, não vão seguir para seniores", aponta Rui Neto, treinador do Óquei de Barcelos, que lamenta a desistência de praticantes e as consequentes dificuldades que isso cria aos clubes que vivem das inscrições pagas pelos pais. E se Pedro Sequeira, presidente da Confederação de Treinadores, está preocupado com os "cerca de 400 mil jovens impedidos de fazer a sua prática", em todas as modalidades e a nível nacional, já Nuno Manaia, DTN do basquetebol, sublinha prejuízos ao nível competitivo: "Também nos preocupa que outros países já tenham reaberto a competição e nós não.Isto está a afetar o desenvolvimento dos mais aptos e temos campeonatos da Europa de seleções jovens todos os anos".
Treinadores e árbitros também perdem
Desmotivação dos jovens, perda de competitividade, abandono da prática desportiva, prejuízo na motricidade/velocidade, excesso de peso, dificuldades na transição de juniores para seniores, clubes com perda de receitas são consequências apontadas e um quase ciclo vicioso resultante desta paragem de oito meses na competição. Mas há outros danos colaterais, nomeadamente para árbitros e treinadores. Os primeiros, sublinha o nosso comentador Jorge Coroado, sofrem no bolso e na forma física, e este último aspeto vai notar-se quando a competição voltar; quanto aos segundos, também sofrem economicamente, sem empregos nas escolinhas dos clubes, e profissionalmente sem possibilidade de progredirem na carreira.
Federados em "buraco negro"
"Cerca de 400 mil jovens impedidos de fazer a sua prática" desportiva é a estimativa de Pedro Sequeira, presidente daConfederação de Treinadores de Portugal, quanto ao número de crianças e adolescentes impedidos de competir nas diversas as modalidades no nosso país.
O JOGO teve acesso aos números exatos das modalidades de andebol, basquetebol, futebol, futsal, hóquei em patins e voleibol e dir-se-ia que um buraco negro engoliu os inscritos nas respetivas federações: perderam-se, de 2019/20 para a época atual, nada menos que 173 991 federados, ou dito de outra forma, 79%, mais de três quartos dos atletas da formação dos referidos desportos!
Mesmo admitindo que estes números não correspondem na íntegra aos jovens que nem sequer estão a treinar, a verdade é que dá uma dimensão terrível do problema.
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