OPINIÃO - José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal
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A retoma da atividade desportiva tem obrigado à realização de milhares de testes que permitiram detetar atletas que, estando infetados, ficaram sujeitos aos protocolos de segurança estabelecidos.
Muitos desses atletas estão assintomáticos pelo que não fossem as regras estabelecidas para as atividades desportivas em contexto pandémico o mais provável seria que alguns deles não seriam testados e continuavam a constituir fatores de risco à propagação da doença. A evidência demonstra também que, nos casos detetados, não foi o contexto de treino ou competição que fez contrair o vírus, mas, ao invés, elementos externos respeitantes à vida privada dos atletas.
Recorrendo a um caso conhecido, o de Cristiano Ronaldo, foi devido aos protocolos de segurança adotados pelas autoridades do futebol que se conheceu uma situação em que o atleta não apresentava qualquer queixa.
Recorrendo a um caso conhecido, o de Cristiano Ronaldo, foi devido aos protocolos de segurança adotados pelas autoridades do futebol que se conheceu uma situação em que o atleta não apresentava qualquer queixa. Como este caso existem centenas de outras situações. O desporto tem sido um despistador de casos positivos e uma forma de rastrear a saúde pública.
Estes factos demonstram que o desporto tem sido capaz de superar o fator de risco, para se tornar num aliado na luta pandémica, detetando precocemente quem deve ser sujeito a medidas de isolamento e tratamento, o que, em condições de não realização da atividade desportiva, dificilmente seria alcançado.
Esta circunstância deveria pedir dos decisores políticos e das autoridades de saúde uma atitude mais centrada nas evidências que o contexto desportivo revela e menos em conceções dogmáticas e defensivas que ignoram a realidade dos factos.
Compreende-se a dificuldade em lidar com um problema que é recente e para o qual não havia experiência anterior e sobre o qual se observam os mais distintos entendimentos por parte das autoridades de saúde. E compreende-se o risco de uma atividade que dispensa dois dos elementos centrais dos protocolos de segurança: a máscara e o distanciamento físico. Mas que o faz ocupando essa isenção por um índice de testagem muito superior ao do cidadão normal.
A experiência já recolhida na parte desportiva retomada aconselha que os avanços se façam consolidando o que está a correr bem e corrigindo o que aponta falhas
Contudo, não ignoramos que não é possível retomar a atividade desportiva na sua totalidade testando cada um dos respetivos atletas como o são em alguns segmentos desportivos. E temos presente o receio que a retoma da atividade desportiva suscita. E, por isso, a abordagem do tema requer muita prudência, cautela e medidas de segurança razoáveis. A experiência já recolhida na parte desportiva retomada aconselha que os avanços se façam consolidando o que está a correr bem e corrigindo o que aponta falhas.
Uma outra questão prende-se com o facto de algumas das autoridades de saúde local interpretarem os poderes e a aplicação das normas emanadas das autoridades centrais de modo distinto. Usam duplos critérios. É elevado o número de casos com interpretações díspares, recomendando que rapidamente as autoridades de saúde centrais capacitem os respetivos serviços desconcentrados no sentido de harmonizar a interpretação e abordagem em situações similares, de modo a evitar que, em casos idênticos, para uns delegados regionais de saúde algo seja aceitável e para outros seja proibido.
E, por fim, que não entendam a atividade desportiva apenas como um permanente foco de risco, que também o é, mas como algo que, se realizado com regras de segurança adequadas, pode ser um importante aliado na luta contra a pandemia. Como, aliás, os factos o demonstram.