"Não sei se estou em posição de medalhas, há cinco ou seis que foram sempre mais fortes..."
Isaac Nader reforça sonho nos Mundiais de atletismo, partilhado por José Carlos Pinto e Nuno Pereira
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O recordista português dos 1 500 metros, Isaac Nader, é o principal candidato nacional a sonhar com uma medalha nesta distância nos Mundiais de atletismo Tóquio'2025, com dois compatriotas pretendentes à final, caso de José Carlos Pinto e Nuno Pereira.
Aos 26 anos, Isaac Nader é uma das principais esperanças lusas na 20.ª edição dos Campeonatos do Mundo, atrás do consagrado Pedro Pichardo, no triplo salto, tendo reforçado a ambição ao superar o registo histórico de Rui Silva (03.30.07), em vigor desde 2002.
"No início deste ano a marca que tinha na cabeça era fazer realmente o recorde de Portugal, ou seja, baixar dos 3.30, o que nem era preciso, mas consegui. Agora, não sei dizer que marca conseguirei, porque estamos a falar dos Campeonatos do Mundo", advertiu o atleta do Benfica, que, sem o taticismo característico das grandes competições, acabou por concordar que, no atual estado de forma, poderia melhorar os seus registos.
O algarvio fixou em 03.29,37, em 24 de junho, em Ostrava, o recorde nacional, que lhe vale a sexta melhor marca do ano entre os inscritos, à frente, por exemplo, do norueguês Jakob Ingebrigtsen, campeão olímpico da distância em Tóquio'2020, resumindo o seu objetivo: "A minha expectativa é estar outra vez numa final de nível mundial".
"Esse é o primeiro objetivo e, depois, como já disse várias vezes, nas finais todos os atletas têm de sonhar. Faz parte do processo e é normal acontecer. Agora, não sei se estou em posição de medalhas, que só três ganham e há um conjunto de cinco ou seis que foram sempre um bocadinho mais fortes do que eu. Mas, lá está, nas finais tudo é possível e é com esse espírito e ambição que abordo estes Campeonatos do Mundo", explicou.
Isaac Nader foi 12.º e último da final nos seus segundos Mundiais, em Budapeste'2023, depois de quebrar nos derradeiros 200 metros, tendo, em 2024, sido 10.º nos Europeus Roma'2024, após pagar o desgaste de uma queda na semifinal, e ficado de fora da corrida decisiva nos Jogos Olímpicos Paris'2024.
"Em Budapeste'2023 era pior atleta do que hoje, porque ainda não tinha feito 3.30 minutos nos 1 500 metros, nem detinha o recorde nacional. Mas o atletismo também mudou um bocadinho, o nível é mais forte e já são muitos a correr 3.30 e é esse o nível que temos de falar na final", avisou.
Efetivamente, dos 64 inscritos para as três voltas e três quartos à pista, de 31 países, apenas 15 não fizeram os 03.33,00 minutos da marca de qualificação direta.
"Vai ser um campeonato mais difícil do que foi em Budapeste'2023, porque o nível é superior, com todos a quererem passar às semifinais e à final. Sinceramente, acho que as primeiras rondas já vão ser apertadas, como são sempre as semifinais, em que são 12 e passam seis", sublinhou.
Isaac Nader enaltece o "respeito máximo" por todos os adversários, realça que, para se cumprirem os seus objetivos, "primeiro é preciso chegar à final", antevendo que "não há provas fáceis, nem atletas fáceis".
O seu companheiro de clube José Carlos Pinto é um dos pretendentes a uma das 12 vagas na final, marcada para quarta-feira, às 22:20 locais (14:20 em Lisboa).
"A expectativa que eu tenho é de chegar a uma final. Claro que vai ser muito complicado, porque a eliminatória vai ser muito cedo, às nove da manhã, e nós não estamos habituados. Ainda assim, não é uma desculpa, porque estamos todos em pé de igualdade", começou por dizer o atleta natural de Lagares da Beira, em Oliveira do Hospital.
O também benfiquista apresenta a marca de 03.31,94, conseguida já este ano, mas com a confiança de estar mais rápido: "Estou em forma e até posso achar que é possível correr na casa dos 3.30 e, quem sabe, num dia sim, em 3.29. Estou rápido e a prova disso foram os 800 metros em que fiz 01.45, na primeira tentativa, e fizemos um estágio muito bom nos últimos 10 dias, já no Japão".
"Não podemos olhar muito para tempos, porque as corridas não devem ser muito rápidas, mas tenho treinado com um dos melhores do mundo, que é o [norueguês Narve] Nordas, que tem 3.29 minutos e está em forma para correr isso. Temos feito todos os treinos juntos, com lactatos muito parecidos", detalhou o estreante em grandes competições.
O atleta, de 28 anos, agora treinado pelo norueguês Gjert Ingebrigtsen, pai do também participante nos 1 500 metros Jakob Ingebrigtsen, estabelece como meta "chegar aos Jogos Olímpicos Los Angeles'2028, se possível em duas provas, nos 1 500 e nos 5 000 metros".
Igualmente novato em Mundiais, mas também tentado a pensar num apuramento, está Nuno Pereira, de 24 anos.
"São os meus primeiros Mundiais, a concorrência é extremamente forte e o meu primeiro objetivo é tentar alcançar as meias-finais. Depois, tentar a passagem à final, porque tento pensar corrida a corrida e, para mim, cada corrida vai ser uma final", assegurou.
Com os 03.32,16 conseguidos em junho último, o atleta do Sporting, que conta o título europeu de sub-20 em 2019 na distância e o bronze em sub-23 em 2021, atesta a sua preparação para as eliminatórias, marcadas para domingo, a partir das 09:00 locais (01 em Lisboa), tendo em vista a qualificação para as semifinais, na segunda-feira, às 21:30 (13:30).
"Estou muito confiante, acho que estou na minha melhor forma de sempre, fiz uma preparação muito boa. Sei que posso competir com os melhores do mundo e o objetivo é esse. Acredito que posso correr abaixo do meu recorde pessoal, na casa dos 3.30. Acho que é esse o meu estado de forma, apesar de, se calhar, só na final se correr para esse tempo, mas o objetivo é mesmo chegar o mais longe possível", sublinhou o madeirense.
O melhor resultado português na distância continua a pertencer a Rui Silva, que foi terceiro classificado em Helsínquia'2005, além de quinto em Paris'2002 e sétimo em Edmonton'2001, enquanto Mário Silva foi sexto em Tóquio'1991.