EXCLUSIVO - Miguel Oliveira conversou com O JOGO e não hesitou na hora de elevar a fasquia para 2021. Agora piloto oficial da KTM, quer mais do que duas vitórias.
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Na segunda temporada no MotoGP, Miguel Oliveira, que vai fazer 26 anos no dia 4 de janeiro, ganhou dois Grandes Prémios, um em Portimão, e terminou o Mundial em nono lugar. Uma época que, não fossem algumas quedas, teria sido ainda mais espantosa. O "Falcão", que falou em exclusivo a O JOGO, vai passar a competir na equipa oficial da KTM e admite ser candidato ao título.
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Traçou como objetivos para esta época um pódio e acabar o ano no top 10: podemos dizer que superou em muito as expectativas?
-O top 10 foi cumprido e, com o Mundial a aproximar-se do fim, até passei a ambicionar terminar mais acima. Mas foi tudo tão atípico que as contas ficaram muito baralhadas: o vencedor do campeonato só ganhou uma corrida e outro, que ganhou três, ficou em oitavo... Acima das expectativas não fiquei, foi dentro daquilo que eu sabia que conseguia alcançar.
Disse que, com o aproximar do final da temporada, ambicionou terminar mais acima. Em que lugar?
-Ter terminado em quinto lugar teria sido bom.
Já pensou nas metas para 2021?
-O desafio é diferente. Teremos um formato mais típico, acredito que um regresso a alguma normalidade, e isso vai mudar muito a época. Este ano repetimos provas e esse fator jogou a nosso favor, porque à segunda prova no mesmo circuito já estávamos mais adaptados. Agora é preciso ter em conta que para o ano teremos de ser mais rápidos na adaptação e afinação da moto, por forma a mostrar logo todo o potencial. Mas acredito que, se tudo correr bem e demonstrar o que demonstrei na última corrida, serei um sério candidato ao título de campeão. A competição é feita de muitos fatores, acreditamos sempre no melhor para nós, mas também acredito que a máquina é melhor. Se tudo correr bem, seremos candidatos ao título.
"Foi tudo tão atípico que as contas ficaram muito baralhadas: o vencedor do campeonato só ganhou uma corrida e outro que ganhou três ficou em oitavo"
Já conhece bem a equipa da KTM que trabalhará consigo?
-Sei quem são, mas não conheço bem as pessoas. Terei de me adaptar, irá fazer parte de um grande esforço da minha parte. Terei um maior número de pessoas as trabalhar comigo, mas isso também aumenta a responsabilidade. O passar para a equipa principal não é fácil, mas é claro que é o objetivo de qualquer piloto.
A KTM esteve há dias em testes com o Dani Pedrosa. A moto vai estar melhor?
-A nossa esperança é essa, é para isso que a equipa de testes trabalha. Pior não poderá estar. Num panorama em que todos os adversários evoluem, nós, naturalmente, procuramos fazer o mesmo.
O Joan Mir mereceu ser campeão?
-No desporto não existe o merecer ou não. No final das 14 provas ele tinha mais pontos e contra factos não há argumentos. Isto é como uma equipa de futebol numa final: pode jogar muito bem, ser muito melhor do que a outra, mas se a outra ganhar nos penáltis é essa que fica para a história.
Com o Marc Márquez em pista, este ano teria sido muito diferente?
-Não lhe sei responder. Para mim, e para todos da grelha, é um piloto forte e candidato assíduo aos pódios e vitórias. Teria sido um campeonato interessante na mesma.
O Márquez vai perder mais seis meses, em princípio. O Miguel também já teve uma paragem longa, o ano passado. O que é pior nesses dias longe das pistas?
-A incerteza. A incerteza de não sabermos se vamos ser competitivos quando voltarmos a pegar na moto. Uma coisa é o que exteriorizamos, o que dizemos, mas lá no fundo há sempre um nível de incerteza. Tal como um jogador de futebol, ou qualquer atleta de alta competição, isto quando falamos de recuperações longas, claro. No meu caso, sofri porque a recuperação do ombro foi lenta. O Márquez já passou por duas, mas acredito muito que ele voltará e irá adaptar-se e ser forte na mesma. É um atleta, um piloto forte psicologicamente e, enquanto rival, espero que volte o mais rapidamente possível.
Colocou o país a ver MotoGP com redobrado interesse, sobretudo na corrida de Portimão, a última do Mundial. Depois de já ter ganho na Áustria, gerou a loucura com um triunfo perfeito. É o homem do momento
"NUNCA PERDI A CONCENTRAÇÃO"
Assumindo sempre que iria procurar um grande resultado em Portugal, Miguel Oliveira dominou nos treinos e na corrida de Portimão, fazendo uma exibição que impressionou numa época equilibrada. A concentração sob pressão é um dos seus pontos fortes.
Como se sente e o que faz nas horas antes de uma corrida?
-Sinto-me sempre um pouco nervoso, de forma a me manter alerta, mas que não me bloqueie para o que quero fazer na prova. Depois, há algumas palavras com a equipa, o aquecimento, que basicamente consiste em ativar os membros superiores, o aparelho cardiorrespiratório, um treino de reação a algumas luzes, que serve para manter o cérebro com uma boa capacidade de reação, e depois é vestir o fato.
Alguma vez perdeu a concentração durante uma corrida?
-Não, é muito difícil. Apesar de no motociclismo já termos muitos automatismos, de já pilotarmos quase de forma automática, isso nunca me aconteceu. Nunca perdi a concentração.
Nem nas últimas três voltas em Portimão, em que já disse que pensou, por exemplo, como iria festejar?
-Não. Isso nem sequer é desconcentração. Por instantes o nosso pensamento vai para outras coisas, é verdade, mas sempre relacionadas com a prova.