Miguel Correia lidera o Nacional de Ralis: "Assumi o objetivo de ser campeão nacional"
Tem 31 anos, está a tempo inteiro nos ralis desde 2018 e luta contra quarentões numa modalidade em que diz faltar quem aposte nos jovens
Corpo do artigo
Miguel Correia é de Braga, tem 31 anos, fez o segundo lugar do Campeonato de Portugal de Ralis tanto no Serras de Fafe como no Algarve e passou a ser o líder. Com alguma surpresa se atendermos à concorrência, com naturalidade se analisarmos a evolução de quem na época passada somou duas vitórias - a primeira delas no Terras de Aboboreira, que irá fazer nos próximos dias 28 e 29 - e foi terceiro no campeonato. Filho de Manuel Correia, também piloto, visitou O JOGO e falou da sua carreira.
Esperava liderar o Campeonato de Portugal de Ralis? Qual é a sensação?
-Esperava estar à frente, a sensação ainda estou a descobrir, porque nunca me tinha acontecido. Mas era para isto que vinha a trabalhar. Fizemos uma pré-época bastante intensiva, este é o resultado de um trabalho contínuo, não nos limitamos a fazer ralis. Isto é uma preparação diária, com team manager, navegador, mecânicos.
O que é uma pré-época nos ralis?
-A preparação física, testes com o carro, estudar todas as afinações possíveis, para depois sabermos a melhor para cada rali. Por exemplo, fizemos o Rali do Algarve, que embora também seja em terra leva uma afinação completamente diferente de Fafe. Se fizermos uma pré-época em que tudo fique testado, quando se chega ao rali torna-se mais fácil ter a afinação ideal.
O objetivo é ser campeão?
-É mesmo esse o objetivo. Após quatro ou cinco anos de corridas, é a primeira vez que nos assumimos como candidatos ao título. Para já estamos dentro do expectável.
Está na frente e agora tem a Aboboreira, dos seus ralis preferidos. Vai para ganhar?
-O meu momento mais feliz nos ralis foi no Terras da Aboboreira. Para este ano o objetivo é de novo a vitória, mas com mais alguma responsabilidade. Temos o foco virado para nós, não só por termos ganho no ano passado, mas também por sermos líderes do campeonato. Mas vamos para ganhar.
Até onde pretende chegar?
-O nosso objetivo, e não creio que seja demasiado ambicioso, é sermos campeões nacionais. Isto porque no nosso país é difícil ter ambições para muito mais. Só se o nosso trabalho garantir apoios para ir além-fronteiras. Porque ninguém vem cá buscar um piloto para ser de fábrica no Mundial ou no Europeu. Qualquer piloto quer andar nesses campeonatos, mas isso não é ambição, é um sonho. E já deixei de sonhar com o que é impossível. Tenho 31 anos, sou dos mais jovens do campeonato português, mas essa já não é idade para me chamarem a piloto de fábrica.
É normal que só depois dos 30 anos se seja piloto de ralis?
-No nosso país é normal. Não temos cultura automobilística, o que significa não termos investidores que apostem em pilotos jovens. Faltam mais empresas com interesse. Isso poderá estar a ser ultrapassado, mas demora bastante, porque somos um país com cultura de futebol.
O que diz significa que falta formação de pilotos?
-Falta sobretudo quem queira investir. Temos muitos miúdos no karting, mas quando chegam aos 12 ou 13 anos não há olheiros, alguém de equipas oficiais que diga: tu és bom, vens para a minha equipa. Isso existe em todas as modalidades, menos no automobilismo. É o que se faz nos países dos melhores pilotos, como França ou Finlândia. Por isso eles têm os melhores do mundo; não porque não existem bons pilotos nos outros países, falta é a cultura de apostar nos jovens.
Como começou o Miguel Correia a correr?
-Devo-o à família. O meu pai sempre adorou automobilismo e foi piloto. Nunca fiz a "escola", não andei nos karts nem no autocrosse. A minha paixão sempre foram os ralis. O meu pai fazia o Nacional de Montanha e chegou a desafiar-me para uma rampa. Mas preferi esperar mais uns anos e fazer só ralis.
A partir daí, pode dizer-se que subiu degrau a degrau?
-Como diz o provérbio, nunca fui com muita sede ao pote. Talvez graças aos patrocinadores, que nunca me criaram pressão. Fui fazendo a carreira sem estragar muito dinheiro. Que significa isto? Que quando se vai com a pressão de fazer um resultado a probabilidade de correr mal aumenta e isso vale estragos.
Já teve grandes acidentes?
Daqueles "a sério" tive dois. Um no Rali de Portugal, na Lousã, em que capotamos e caímos por uma ribanceira, e outro no Terras da Aboboreira, ainda em asfalto. O nosso Ford "morreu" aí. Estava um dia muito quente, o escape incandescente, e o carro deu duas cambalhotas, mas parou de rodas no chão. Foi o nosso azar. O escape, estando a uns 800 graus, pegou fogo ao mato e o carro ardeu. Tenho os restos guardados.