Lendário nadador norte-americano falou sobre as várias lutas que teve contra a depressão, que levaram inclusive a que chegasse a contemplar o suicídio. Phelps salientou que o diálogo sobre esses tópicos foi algo que o ajudou a melhorar a sua saúde mental
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Michael Phelps, lendário nadador que venceu 28 medalhas olímpicas ao serviço dos Estados Unidos, compareceu esta quarta-feira no World Business Forum, em Madrid, onde abriu o livro sobre a sua saúde mental, revelando as várias batalhas que travou contra depressões, que o fizeram inclusive contemplar o suicídio.
“Quando era miúdo, treinava com rapazes oito anos mais velhos do que eu. Era estranho, mas eu gostava de o fazer. Sempre gostei de nadar, apesar de ser um desporto bastante solitário. Não se pode falar com ninguém, não se pode ouvir música.... Somos só nós e nós próprios. Não podemos falar uns com os outros, embora eu não goste de usar a expressão “não podemos”, devia ser retirada do dicionário", começou por dizer, em conversa com o jornal Marca.
Segundo Phelps, os seus problemas com a saúde mental começaram 2004, tendo-se agravado com o passar do tempo: "Nesse ano, já tinha tido uma depressão sazonal. Depois, em 2014, tive a segunda depressão. Não queria estar vivo. Não comia, não bebia e fui para um centro de recuperação. Estava a lutar pela minha vida mais do que as pessoas podem imaginar. Nesses momentos, quando estava mal, batia em mim próprio porque pensava 'Não estou a fazer o meu trabalho'".
“Mandei uma mensagem à minha mãe antes de entrar, disse-lhe que estava assustado e que não sabia o que fazer. Não obtive resposta. Entrei no centro e quase não falei com ninguém. Demorei vários dias. No terceiro dia, comecei a relacionar-me mais", prosseguiu o ex-nadador.
Recuperado desses dias negros, Phelps lamentou o pouco diálogo que existe em torno da saúde mental, dizendo foi isso que o ajudou a vencer essas depressões.
"Sinto-me confortável, mas sei que há muitas pessoas que têm problemas de saúde mental. Uma em cada quatro pessoas tem um problema de saúde mental e não fala sobre isso. Se todos falássemos sobre o assunto, seria normalizado. Claro que, com a pandemia, tudo isto evoluiu. Se alguém se sente sozinho, como aconteceu durante a pandemia, é bom partilhar as emoções. Ao partilharmos o que nos está a acontecer e os nossos sentimentos, podemos ajudar-nos muito uns aos outros. Nada na vida é perfeito, mas ajuda se nos abrirmos”, vincou, antes de transmitir mais conselhos a quem trava esse tipo de batalhas pessoais.
“Temos de cuidar de nós próprios. Talvez dar um passeio, fazer uma sesta de dez minutos... Algumas pessoas estão fora de controlo e o cuidado pessoal é algo que por vezes é negligenciado. Reservar dez ou 30 minutos por dia para si próprio, ir ao ginásio.... Deem a vocês próprios algum tempo para serem o vosso melhor eu. [Também] É preciso procurarem algo que vos apaixone. Para mim, foi difícil encontrar. Estava a roer as unhas, não sabia o que fazer. Por vezes, a saúde mental prega-nos partidas. É preciso falar com outras pessoas e definir estratégias. É importante encontrar algo que nos entusiasme”, salientou.
Em jeito de conclusão, Michael Phelps considerou que o seu exemplo de superação e a sua luta em prol da saúde mental vai ser o que fará ser recordado no futuro, e não necessariamente o que conquistou dentro de água.
“No mundo do desporto, há muitas pessoas que duvidam de tudo, [que duvidavam] dos meus objetivos. Mas, na realidade, era algo que podia alcançar. As pessoas pensavam que ganhar uma medalha era impossível e eu ganhei 28. Quero ensinar aos miúdos que, independentemente do que se pretenda, é sempre possível alcançar. Não podemos voar, mas podemos fazer qualquer outra coisa. Que não tenhamos medo de perseguir os nossos objetivos ou metas".
"Acho que vou ser recordado pelo meu pós-carreira do que pelas medalhas, que são fantásticas mas não são o que eu sou. Quero ajudar as pessoas que estão a passar por dificuldades. Quero salvar vidas. Também pensei em suicidar-me e quero ajudar essas pessoas. Há uma luz ao fundo do túnel. Falar sobre estas questões salvou-me a vida. Adoro estas questões. Quero fazer tudo o que puder para ajudar as pessoas que estão a passar por momentos difíceis e quero lembrar às pessoas que não estão sozinhas”, sentenciou.