"Mau exemplo? Se Lance Armstrong fosse o único... Foi um prazer tê-lo como colega"
Tiago Machado vai encerrar a carreira e faz um balanço bonito e sem complexos. Ter Armstrong como colega "foi um prazer".
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Tiago Machado tem 36 anos e faz a sua nona e última Volta a Portugal, na mesma Rádio Popular-Boavista que o lançou - e foi quinto em 2009 -, pois no próximo ano irá dirigir as camadas de formação da Efapel. Sempre direto, o famalicense que brilhou no prólogo e está em 11.º da geral reviu a carreira para O JOGO em poucos minutos.
Se não fosse o convite da Efapel iria continuar a ser ciclista profissional?
- Tinha vontade e capacidade física para me manter pelo menos mais uma temporada. Fiz recentemente um teste de esforço para programar os treinos e os números estão iguais aos dos últimos cinco anos. Portanto, ainda teria condições para continuar.
O resultado do prólogo foi um sinal disso?
- Fui o primeiro surpreendido. Foi um tempo bom, melhorei bastante em relação ao ano anterior . Mas só foi um esforço de seis minutos e meio. Falta muita Volta e os adversários estão fortes e são mais jovens. Vou desfrutar da corrida, sem ambições à geral. Mas não gostava de sair de mãos a abanar.
A meta é vencer uma etapa?
- Não posso sonhar com muito mais, o meu tempo para a geral passou. Os melhores anos da minha carreira felizmente foram fora de Portugal. O meu melhor lugar foi um quinto e tenho o recorde de triunfos na juventude, com três. Estou contente com o que fiz.
Vai pedalar até ao fim da vida?
- Vou ser ex-profissional, mas ciclista serei toda a vida. Sempre fui feliz a andar de bicicleta.
Vamos vê-lo de bicicleta à frente dos jovens?
- Sim, e terei tempo para tudo. O calendário em Portugal não é tão completo como gostaria, eu e todos os da formação. Dará até para brincar com o meu pequeno e a minha esposa.
Vai ter um filho ciclista?
- Não sei. Mas ele gosta mais da bicicleta do que eu... Ele que escolha o que quiser ser e que seja feliz com isso.
Em nove anos no World Tour, quais foram os melhores momentos?
- Tantos... Todos os dias na estrada são bons, porque estou a fazer aquilo que amo, ser ciclista. Tive a sorte de ter uma genética que permitiu fazer disso uma profissão. Talvez o melhor tenha sido ir para a que era considerada a melhor equipa do mundo, a RadioShack.
Ter o Lance Armstrong como colega não foi um mau exemplo?
- Mau exemplo? Se ele fosse o único... Mas naqueles anos no Tour era assim, o que se passava era errado. Foi um prazer tê-lo como colega, tal como Andreas Kloden, Levi Leipheimer, Fabian Cancellara, os irmãos Schleck, Chris Horner, "Purito" Rodríguez, Alexander Kristoff, Marcel Kittel. Estive ao lado de tantos grandes campeões... Sinal de que tinha talento para lá estar.
Podia ter obtido mais vitórias nesses anos?
- Claro que podia! Só que nunca gostei de andar na roda. Preferia ser terceiro ou quarto mas atacar de longe, tentar a minha sorte, dar espetáculo. Foi isso que me impediu de ganhar mais vezes. Muitas vezes! Talvez por isso possa ser um bom diretor-desportivo para os jovens, vou ensiná-los a serem mais altruístas.
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