Correr nos trilhos onde os moleiros ganharam a vida, cruzar as belas Aldeias do Xisto e comer um pão com chouriço e beber um tinto num páteo de desconhecidos de ocasião são experiências que aproximam o Louzantrail de uma viagem no tempo.
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A elite esteve lá e, como era de prever, correu muito e depressa, e não deu um segundo de descanso ao cronómetro da 10.ª edição do Louzantrail, do passado fim de semana. Mas esta peça não vai por aí. Se é isso que quer, veja aqui. Vamos com calma porque os cerca de 90% dos 1500 participantes que esgotaram todas as distâncias têm outros imperiosos motivos na forma de encarar o relógio: fazer regredir o tempo à medida que se embrenham pelos belos trilhos da Serra da Lousã.
O tiro de partida da experiência começa no centro da Lousã, em direção ao "Trilho do Moleiro", uma preciosa adição de 2022 por parte da organização do Montanha Clube. O trilho, que em tempos serviu os moleiros que se aproveitavam da força da água da Ribeira das Fórneas, passa por diversas azenhas, cascatas e pequenas pontes em madeira. Rompem-se as pernas nos cerca de 700 metros de subida até ao cimo da "Amazónia", mas regalam-se os olhos perante uma mata verdejante de fetos, musgo e castanheiros.
No caso dos 18 quilómetros - o nosso GPS marcou 19,8 - o trajeto fez-se depois em direção às Aldeias do Xisto de Casal Novo e ao Talasnal. Estes dois lugares, nascidos algures no século XVII, parecem querer ganhar novo fôlego. Já se conseguem ver paredes e telhados arranjados, passeios renovados e rostos novos que dizem bem-vindo na forma de palavras e gestos. Gestos como os dos habitantes da "Casa Piedade", uma casa particular na aldeia de Talasnal, que servem copos de vinho tinto e cortam pedaços de pão com chouriço para um prato de loiça pousado no murete que dá para a rua onde os corredores passam. "Sirva-se, este é um abastecimento não oficial! Quer mais um copinho?". É difícil dizer que não, tanto mais que o sabor da água ameaça ser monótono depois de percorridos 12 quilómetros.
A descida pelo vale é feita pela Levada da Ermida até ao Castelo da Lousã, num trilho que não permite distrações sob pena de uma queda com consequências graves. Para apreciar o vale é preciso, mais uma vez, abrandar. À chegada do Parque Municipal de Exposições, local onde estava instalada a meta, o cronómetro assinalava cerca de 4h00. Um pequeno custo para uma valiosa viagem no tempo.
Já agora, se tiver uns minutos, passe pela fotogaleria acima e veja as imagens do fotógrafo Matias Novo.