Britânico que conquistou cinco títulos deu a dieta vegan como um dos seus segredos e admitiu pela primeira vez que já olha aos recordes de Schumacher.
Corpo do artigo
Lewis Hamilton teve uma longa conversa com jornalistas após o título conquistado no Grande Prémio do México. Aqui fica o essencial dessa conferência de Imprensa, onde o britânico fez várias revelações, desde o desejo de ajudar crianças à dieta que fez dele melhor piloto, acabando por falar dos títulos de Michael Schumacher.
Voltou a ser campeão no México. Como se sente?
Isto ainda não me parece real. Tem sido um ano tão difícil e uma grande batalha, muito trabalho, para tentar elevar o nível. Um grande desafio. Vocês sabem que treinei, que me preparo mentalmente. Não acredito em treinadores da mente e todo esse tipo de coisas, mas trabalho duro para ter a energia certa, o equilíbrio correto na minha vida. Trabalho em diferentes aspetos para conseguir um melhor desempenho. Tive uma ótima época no ano passado e fiquei a pensar como podia aumentar o nível, como podia espremer um pouco mais de mim. Não há uma fórmula secreta, mas consegui encontrar esse equilíbrio e tive algumas das melhores corridas da minha carreira, acho que é por isso que estou aqui sentado. Mas ainda não assimilei que é o quinto título. O primeiro e o terceiro foram incríveis, agora as pessoas mencionam o Fangio... Estou num conflito emocional, até porque tive uma corrida difícil, que queria vencer. Comecei bem e acabei mal, mas ainda assim em quarto lugar. Não é um mau final, é o que precisávamos, mas na minha cabeça ainda temos um campeonato de construtores para vencer e perdemos alguns pontos para a Ferrari. Quero dar isso à equipa, logo ainda tenho duas corridas para ganhar.
Já disse que este foi um dos seus melhores anos. Que aspetos desenvolveu?
Honestamente, um pouco de tudo. Sempre tive habilidade, desde muito novo. Desde que estou na Fórmula 1 que tenho a habilidade de pilotar como faço hoje, mas a cada ano tenta-se elevar o nível, o que significa trabalhar em todas as áreas, ter a mentalidade certa, evoluir o carro com as suas sensações. Aprender a equilibrar o carro, a comunicar com as pessoas para extrair o melhor deles, todas essas áreas são importantes. Tenho de me certificar que mantenho o ânimo entre as pessoas que trabalham comigo, mantê-las motivadas. Eles sabem que estou aqui para ganhar, mas temos de nos concentrar nisso todos os fins de semana. São tantas áreas... Tenho estado mais focado, mais saudável, com mais energia. Parte disso, tenho a certeza, deve-se à dieta vegan. Tem sido fantástico e estou muito feliz. Já a devia ter feito há muito tempo.
Durante grande parte do ano a Ferrari teve a melhor afinação e mesmo assim ganhou-lhes muitas corridas. Tendo sido a batalha tão intensa, não o surpreende ser campeão a dois grandes prémios do fim?
Sim, absolutamente. Ao longo do ano fomos muito testados. Ainda que sabendo que não tínhamos a melhor afinação, nunca passamos essa crença à equipa, para com um bom ambiente tentarmos obter vitórias. Sempre acreditei que poderíamos ganhar o campeonato e tive momentos mágicos dentro do carro. Foi feito muito trabalho em segundo plano para conseguirmos o sucesso. Todos os elementos da equipa foram importantes, a nível de estratégia e na evolução do carro. Sinto que o posso levar para patamares que mais ninguém consegue, extrair o máximo do monolugar. É preciso exaltar o que de bom existe na equipa para depois se encontrar o nosso limite.
Pode identificar o ponto de viragem da temporada? Foi a vitória no Grande Prémio da Alemanha ou a qualificação em Budapeste?
Houve tantas corridas que já não me lembro de todas. Tivemos um bom começo, embora não se traduzisse em resultados, depois tivemos uma má corrida na Áustria, em que os nossos dois carros desistiram. Depois tivemos a corrida de Silverstone, com todas aquelas pessoas a apoiar e isso foi um grande impulso para o resto da temporada e também ter ido de último até segundo foi muito motivante. A vitória em Budapeste foi muito importante, para ir de férias no comando do campeonato, e particularmente sabendo que não éramos os mais rápidos naquela fase da temporada; isso era um golpe na confiança da equipa rival. Depois da corrida em Monza fomos de vento em poupa. Mas aqui, no México, foi uma corrida dura para nós e a Ferrari foi mais rápida. Acho que estivemos próximos do desempenho que tivemos ao longo do ano e é discutível se temos ou não a afinação perfeita, mas acho que como equipa operamos melhor do que qualquer outro.
Quais são os seus planos agora, como vai celebrar e o que fará até ao Brasil?
Pode parecer aborrecido, mas neste momento sinto-me apenas contente. Estou ansioso para ir dormir, mas também a tentar fazer durar este momento, porque sei que irá acabar e depois virá o próximo desafio. O tempo é precioso, este é um momento único para mim e quero apreciá-lo ao máximo. Temos de reunir as tropas, para perceber como vamos ganhar as próximas corridas. Ainda não entendi por que não ganhamos as duas últimas. Temos o campeonato de construtores para vencer, o que agora vai ser ainda mais importante para todos os elementos da equipa. Vou deixar esta cidade maravilhosa e provavelmente em janeiro voltarei cá para me divertir. Estou ansioso para rever os meus cães, que o amor incondicional de um animal é algo de especial.
Muitos dizem que ao obter agora o quinto título e ao ganhar tanto sem táticas sujas, você é o melhor de sempre. Considera-se o melhor piloto de sempre da F1?
Não. Acho que esse termo se aplica a pessoas que admiro e que são fantásticas nas áreas a que se dedicam. Eu ainda tenho coisas para alcançar. Há muito pela frente. Não me qualificaria como o melhor. Obviamente, sei das minhas potencialidades e em que patamar me encontro. O meu pai sempre me disse para "falar dentro da pista", então apenas penso nos meus resultados e também em tentar alcançar coisas fora do meu desporto. Michael [Schumacher] ainda está muito à frente nas vitórias, podendo dizer-se que ele ainda é o melhor piloto de sempre. Fangio é e sempre será o "padrinho", na perspetiva dos pilotos. Para fazer o que fez naquele tempo, quando tudo era tão perigoso, só posso ter admiração por ele. Sinto-me muito honrado em ver o meu nome ao lado do dele. Ainda sinto que estou na plenitude das minhas capacidades. Vou tentar estar cada vez mais forte, até porque o meu tempo também irá chegar ao fim.
Igualar o recorde do Fangio é um grande feito, mas ele venceu com várias equipas e Schumacher chegou aos sete com duas. Os seus cinco títulos são com motores Mercedes. Imaginaria ganhar com outra equipa?
Ao ganhar com a McLaren já são duas equipas diferentes. Neste momento é muito dificil imaginar-me em outro lugar. Esta é a minha família, onde cresci, mas quando estava na McLaren dizia a mesma coisa. Uma das razões para mudar foi para conseguir algo especial num outro lugar. Neste momento não sinto que precise de ir para outro construtor, mas nunca se pode dizer nunca.
Pode partilhar o que disse a Vettel depois da corrida?
Não lhe disse nada. Ele apenas me pediu para eu não desistir e que precisava de mim para o próximo ano, para reatar a luta. Agradeço-lhe por ter sido um grande adversário. No final ficou o grande respeito que existe entre nós, como tem havido sempre. Acho ótimo haver dois grandes campeões que se defrontam na pista, taco a taco.
Já lutou contra muitos adversários. Onde colocaria o Sebastian Vettel ou como se compara com ele?
Nunca é grande ideia comparar pessoas, porque todas são diferentes. E se houver uma tentativa de o fazer isso será levado a sério e pode ter carga negativa. Ele é um justo tetracampeão mundial e tem a pressão de levar a Ferrari ao título mundial, que já não conquista há muitos anos. Apesar de este ano ele ter tido momentos muito difíceis, conseguiu recuperar bem.
Acha possível bater o recorde de sete títulos mundiais e 91 vitórias de Michael Schumacher?
Não penso chegar a esses números só por ter alcançado este título. Quem sabe se um dia conseguirei alcançar as vitórias do Michael, mas um passo de cada vez, 91 vitórias é um número muito grande. Ainda estou a 20 de distância. Ainda há um longo caminho a percorrer, mas vou estar aqui por mais alguns anos, espero pelo menos chegar perto. Mesmo assim Michael será sempre um génio, a forma como se implementou na Ferrari e o que conseguiu lá... Serei sempre um fã dele.
Ser nomeado cavaleiro é uma grande honra para qualquer atleta. Como se sentiria se lhe chamarem "Sir Lewis"? Soa-lhe bem?
Honestamente, isso não é algo que esteja na minha mente, nem que esteja à espera. Tive muita sorte e estou grato por ter conhecido a rainha em algumas ocasiões. Tenho muito orgulho quando estou no pódio e olho para trás e vejo a bandeira, tenho muito orgulho em levantá-la e vou continuar a fazer isso. Quero deixar os britânicos orgulhosos.
Cada campeonato é diferente. Qual foi o seu favorito?
Não tenho grande memória... Ganhar o primeiro título no Brasil, no último suspiro, vai ser sempre especial. Todos eles exigiram diferentes "bits" de entrada, manobrabilidade, agilidade, abordagem, por isso todos foram únicos e com obstáculos diferentes. Muitas coisas se passaram nos bastidores que nunca ninguém vai saber. Mas os desafios, as forças externas, são aquelas que causam mais impacto. Isso é o que me deixa mais orgulhoso este ano. Não tivemos o carro mais rápido e mesmo assim conseguimos mais pole positions e mais vitórias. A cada ano que passa desfruto mais da condução. Estou cada vez mais velho e a gostar mais do que faço. E preocupo-me com os detalhes. Posso tornar-me mais rápido.
Como gostaria de ser definido no futuro?
Há muito mais coisas que gostaria de fazer. As corridas estão no centro de tudo o que faço, por isso serei sempre conhecido como piloto de corridas. Mas este desporto criou uma grande base para fazer outras coisas. Sempre quis ter um impacto positivo. Se quero ser lembrado por alguma coisa, será por ajudar crianças em dificuldades a ir à escola. Seja construindo uma escola, incentivando a educação, ajudando pessoas. Não quero que o meu tempo na terra não signifique nada. Tenho a certeza que vocês todos se sentem assim. O meu objetivo é não desperdiçar o tempo que tenho.