Lando Norris foi o quarto campeão de Fórmula 1 que mais demorou a chegar ao título

Lando Norris festeja o título com a equipa da McLaren
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Britânico de 26 anos precisou de sete épocas para chegar ao título de Fórmula 1 e fez a festa batendo Verstappen por dois pontos. Max Verstappen dominou em Abu Dhabi e a McLaren foi cautelosa com Lando Norris, que andou sempre no necessário terceiro lugar. O seu título acabou com o domínio de 15 anos de Red Bull e Mercedes.
Foi tão emocional e cheio de significado que o Grande Prémio de Abu Dhabi, 24.º e último de uma época que teve três pilotos a discutir o título até ao final, nem pareceu monótono como realmente foi. Max Verstappen largou da pole para liderar sempre, garantindo a oitava vitória do ano e 71.ª da carreira, com Lando Norris a ceder de imediato a segunda posição ao colega Oscar Piastri, segurando sempre o terceiro lugar que lhe garantiu o primeiro título mundial - e primeira dobradinha da McLaren, com pilotos e construtores, desde 1998 -, aos 26 anos e na sétima época de Fórmula 1.
O britânico conservou o primeiro lugar por apenas dois pontos face ao até ontem tetracampeão, sendo o quarto que mais demorou a chegar ao título - 152 corridas, contra 206 de Nico Rosberg, 176 de Nigel Mansell e 160 de Jenson Button, este precisamente o último campeão, em 2009, antes da era dominadora de Red Bull (oito títulos, com Vettel e Verstappen) e Mercedes (sete, com Hamilton e Rosberg). Os números ajudam a explicar a emoção de Norris e de toda a McLaren, que celebrou o 11.º campeão britânico e oitavo da equipa, depois de Emerson Fittipaldi (1974), James Hunt (1976), Niki Lauda (1984), Alain Prost (1985-86, 1989), Ayrton Senna (1988, 1990-91), Mika Hakkinen (1998-99) e Lewis Hamilton (2008).
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Na pista de Yas Marina, a tática da McLaren foi percetível desde que se apagaram os semáforos. Norris não respondeu ao arranque agressivo de Verstappen e deixou o Red Bull seguir para o triunfo - o 11.º em Abu Dhabi desde a pole, mais do que em qualquer outro circuito -, atacando com Oscar Piastri, que ultrapassou o colega ainda na primeira volta e, utilizando pneus duros, tentou vencer só indo uma vez às boxes. Verstappen acabou por o imitar e só ceder momentaneamente o comando.
Com duas paragens, Norris, tinha a estratégia mais segura, de forma a evitar dissabores como em Las Vegas (desclassificação) e Catar (quarto), que quase lhe custaram o título. A corrida, apesar da tensão latente, só teve dois momentos de ameaça para o novo campeão: na 23.ª volta, quando ultrapassou Yuki Tsunoda, que já o aguardava para o "apertar" e o deixar fora da pista (foi penalizado em cinco segundos pela manobra), em golpe da Red Bull semelhante ao de 2021, época em que Sergio Pérez atrasou Lewis Hamilton, ajudando Verstappen a ser campeão; e mais tarde, quando o Ferrari de Charles Leclerc fez duas vezes consecutivas a volta mais rápida, em perseguição ao terceiro posto. Norris, avisado, respondeu, aumentou o ritmo e garantiu o título.
O resto foi festa. Com Oscar Piastri, o jovem que mais tempo liderou o Mundial (15 corridas) relegado para plano secundário, Norris chorou com toda a família e equipa. Só ganhou por dois pontos, é verdade, mas a F1 já teve oito título atribuídos... por um ponto.
Filho de um pacato milionário, talento precoce e "rock star"
"És uma estrela, uma rock star", escreveu Fernando Alonso no capacete de Lando Norris quando regressou à F1, catalogando o jovem prodígio, que colecionou títulos em todas as categorias até chegar à F1 pela sua equipa de sempre, a McLaren. Tinha então 19 anos, subira depressa muito graças ao dinheiro do pai - Adam Norris, que ontem à noite foi para o hotel ler um livro, está na lista dos 600 ingleses mais ricos -, e começou por perder para o colega Sainz, até este dar o lugar a Ricciardo. Bater o australiano provou estar ali um campeão anunciado. Mudou entretanto para o Mónaco, fugindo aos impostos, passou a namorar uma celebridade, Magui Corceiro, e Verstappen adiou-lhe o título... até ontem.
"Ganhar assim é um orgulho"
Chorou, trocou beijos com a mãe e Magui Corceiro e acabou a agradecer aos dois rivais. "Infernizaram-me a vida, mas assim este momento ainda sabe melhor", considerou o novo campeão mundial, num elogio a Max Verstappen e Oscar Piastri.
"Foram muitos sacrifícios. Ele começou no karting aos sete anos, com o irmão Ollie, que as duas irmãs seguiram outra direção. Por isso, mal os vi crescer", atirou Cisca Wauman Norris, mãe de Lando, a quem ainda conseguiu ensinar a falar flamengo. Imparável nas celebrações em plena pista de Yas Marina, a belga gritou imenso quando o filho prodígio finalmente beijou a namorada, Magui Corceiro, e contrastou com o pai, o rico e calmo Adam. "Eu estive ali numa sala, relaxado. Só saí agora", revelou este.
Lando, que se disse logo "muito orgulhoso por ter a família e a namorada aqui", dedicando o título "aos meus pais", teve tantas celebrações que demorou a chegar à sala de Imprensa, para falar sozinho aos jornalistas. "Tive alguma sorte, mas também tive os meus momentos difíceis, sobretudo no início de época. Cheguei a perder a confiança", contou.
"Provei a mim mesmo que estava errado, a começar pelo Mónaco [segunda vitória], para na segunda metade da época mostrar do que era capaz", disse Norris, historiando o ano: "O Oscar era provavelmente o adversário mais difícil desde início, mas nunca se pode subestimar o Max. Ele é o Max! Foi um prazer lutar com ele. Partilhar a pista com um campeão como ele, e com o Oscar, que um dia também será campeão, fez-me gostar muito desta época. Infernizaram-se a vida, mas agora esses momentos e este ainda sabem melhor. Ganhar assim é um orgulho".
Recuperação de Max para a história
Max Verstappen falhou o penta, mas foi o piloto com mais triunfos (oito), poles (oito) e voltas na liderança (454), operando a maior recuperação na história da F1, de 104 pontos em Zandvoort, na 15.ª das 24 corridas, para apenas dois em Abu Dhabi.
"Não me arrependo de nada. Tive uma época forte", afirmou o neerlandês da Red Bull, acabando por abrir mais o coração: "Aqui tivemos o fim de semana perfeito, com pole e vitória dominadora. No final, e quando se perde o campeonato por dois pontos, é claro que isso parece doloroso, mas por outro lado, e se pensar que em Zandvoort estava mais de 100 pontos atrás, não foi mau". "Já odiei este carro e também já amei este carro", acrescentou, acabando por se dar como "muito orgulhoso de toda a equipa, que é a minha segunda família".
McLaren recuperou hegemonia
Aquela que pode ser considerada mais uma "era Red Bull", com três de quatro títulos com os atuais regulamentos, que mudam em 2026, terminou com a McLaren a recuperar uma hegemonia que fez da equipa de Woking a segunda mais vitoriosa da Fórmula 1, depois da Ferrari. Campeã de construtores no ano passado, a equipa que voltou a crescer desde que é liderada pelo norte-americano Zak Brown festejou uma dobradinha que não tinha desde 1999 (título de Mika Hakkinen) e passou a totalizar 13 campeonatos de pilotos e 10 de construtores, contra 15 e 16 da Ferrari, respetivamente.
O pior ano de Lewis Hamilton
A transferência do ano, a de Lewis Hamilton para a Ferrari, transformou-se num "flop" histórico. O sete vezes campeão foi sexto no Mundial, seu pior resultado de sempre, e terceiro piloto da Scuderia a fechar o ano sem qualquer pódio, depois de Didier Pironi (1981) e Ivan Capelli (1992), este dispensado a duas corridas do fim. O britânico, que ontem subiu de 16.º a oitavo, só quer "desligar por completo".
Nova era dentro de 91 dias
A próxima época, que arranca a 8 de março, na Austrália, terá novos regulamentos, mais uma equipa - Cadillac, com Sergio Pérez e Valtteri Bottas -, a Audi em vez da Sauber, a Red Bull-Ford, a Aston Martin-Honda e a Toyota-Haas com motores Ferrari, mas apenas trocará um dos atuais pilotos. O britânico Arvin Lindblad entra para a Racing Bulls e Yuki Tsunoda deixa a Red Bull.

