Kittel anuncia o fim da carreira: "Sem motivação para me torturar em cima da bicicleta"
Vencendo 14 etapas no Tour e quatro no Giro, o alemão foi provavelmente o melhor sprinter mundial desta década, abdicando aos 31 anos por ter perdido a sua "qualidade de vida".
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Marcel Kittel, que venceu 14 etapas na Volta a França, anunciou a retirada do ciclismo, por ter perdido "toda a motivação" para correr, depois de já ter colocado a carreira em suspenso em maio.
Aos 31 anos, o sprinter alemão já tinha abandonado a equipa suíça Katusha-Alpecin, anunciando agora o ponto final na carreira, numa entrevista ao jornal alemão Der Spiegel. "O sofrimento define o desporto e este mundo. Perdi toda a motivação para me torturar em cima de uma bicicleta", declarou.
O alemão, que correu por várias equipas no escalão WorldTour e venceu 14 etapas no Tour, entre 2013 e 2017, venceu também em quatro ocasiões na Volta a Itália, tendo conquistado a última de mais de 90 vitórias profissionais em fevereiro deste ano, no Trofeo Palma.
"Como ciclista, passas 200 dias do ano na estrada. Não quero ver o meu filho crescer pelo Skype [uma plataforma de videochamadas através da Internet]", acrescentou o antigo ciclista da Argos-Shimano e da Quick Step.
Aquando da rescisão, o diretor da Katusha Alpecin, o português José Azevedo, manifestou tristeza pelo abandono do 'sprinter', desejando-lhe felicidades na vida pessoal. "É com tristeza que concordámos com o pedido do Marcel para deixar a equipa e as corridas. Percebemos a situação e apoiamo-lo totalmente neste momento difícil. Todos os elementos da equipa vão continuar a apoiá-lo no futuro, com a esperança de que volte a competir, como campeão que é".
Num comunicado publicado nas redes sociais que Kittel comunicou a sua decisão, explicando-a com "os sacrifícios que um desporto tão belo, mas também muito difícil, como o ciclismo", os quais não está disposto a continuar a fazer. "As limitações de um atleta de ponta são uma crescente perda de qualidade de vida", concluiu, nada revelando sofre o seu futuro.
Com uma carreira internacional desde 2005 e em equipas World Tour a partir de 2013, Kittel foi provavelmente o melhor sprinter mundial desta década, vencendo 14 etapas na Volta a França e quatro na Volta a Itália, provas que chegou a liderar, e conquistando por cinco vezes a clássica belga Scheldeprijs e por duas a Volta ao Dubai (mais oito etapas).
Brilhando ao serviço da Giant e depois da Quick-Step, o alemão baixou de rendimento a partir de 2018, ano em que mudou para a Katusha. Duas etapas no Tirreno-Adriático de 2018 e o Troféu Palma deste ano foram os seus únicos êxitos.
https://www.facebook.com/ma.kittel/posts/2382099008544093?__xts__[0]=68.ARDqj5ztrkQ2Gvi7R0N6nLDMxxvR8mxFpihSGUYCb_RvYK6tjVEhoA4qSPA0orDeTyAczG7_lZVi3UHz2wGsXbYqmGXTJyfGz6v_1zTIU7T_usH3DLxA4iomiFAwNe0Z3MtFi4Wqy2U7ZkNZS5iDSvV0uVoDdch500NTzEeEiRzfYShNSjEyF5D7Srh-y_V_ReYrLmPVSUhhjysFHjymgxhtY4LeQfElEG-gZYW-RYhi1XKXDrYOnhcZvIzgoTixn1XuGziywMzwbd89epxdafu_7y1I6PJvkLw6hMK81xXeEEx5u0in3csFiRpZCEtLN1mAmd903af3uFUYyFulzQX8eg
A carta de despedida de Kittel fica aqui reproduzida na íntegra:
"Queridos amigos, fãs e companheiros,
Gostaria de dizer a todos vocês que estou a terminar a minha carreira como ciclista profissional.
Pensei muito sobre essa decisão e discuti isso com os meus amigos mais próximos e a minha família.
Este processo de decisão não foi rápido, ocorreu durante um período longo: durante os meus quase 20 anos de carreira desportiva houve não só êxitos incríveis como também tempos difíceis. Sempre fui alguém que questionou abertamente e refletiu quando tais coisas acontecem, para aprender e me tornar melhor. Isso, juntamente com as pessoas em meu redor, fez de mim o atleta de sucesso que sou agora, mas esse método também me ensinou a abandonar velhos hábitos e a aprender novos. Eu sei que há muito mais do que apenas desporto, por exemplo há a minha própria e futura família.
Recentemente, o pensamento sobre um futuro sem o ciclismo cresceu, assim como a consciência dos sacrifícios que um desporto tão belo, mas também muito difícil, como o ciclismo, traz consigo. A maior questão dos últimos meses foi: posso e quero continuar a fazer os sacrifícios necessários para ser um atleta de classe mundial? E a minha resposta é: não, não quero mais isso, porque sempre achei que as limitações de um atleta de ponta são uma crescente perda de qualidade de vida. É por isso que me sinto muito feliz e orgulhoso por neste momento da minha vida poder tomar a decisão de seguir o meu coração numa nova direção.
Neste momento gostaria de agradecer a todas as pessoas que me apoiaram na minha carreira: os meus ex-colegas, meus treinadores, meus amigos e a minha família, mas acima de tudo aos meus fãs, pelo incrível apoio nos últimos anos.
Encaro o futuro com muita expectativa."