Júlio Ferreira: "Adoro fintar os meus adversários e enervá-los no combate, levá-los à loucura"
Atleta de taekwondo do Braga fez revelações curiosas e até contou a história de uma viagem em que o táxi em que seguia ficou desfeito e uma vaca morta
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Júlio Ferreira, atleta de taekwondo do Braga, deu-se a conhecer um pouco mais em declarações cedidas ao site do clube. "Quando era criança pratiquei natação e, na altura, até me aconselharam a seguir a modalidade e a entrar em competições. No entanto, o Joaquim Peixoto (mestre do Braga) era muito próximo dos meus pais e conseguiu conquistar a confiança deles. Fiquei no taekwondo e hoje acredito que foi a melhor decisão que eles tiveram", disse o atleta, para quem Joaquim Peixoto foi como um pai: "É, sem dúvida, um pai para mim e para toda a gente que aprende taekwondo com ele. Quase todos os atletas o veem como uma referência. Eu era muito irrequieto, traquina e ele ensinou-me a saber estar e a ter respeito pelos outros. Ele é um ser humano extraordinário".
Júlio Ferreira, que está a terminar a tese de arquitetura e revelou que "foi sempre muito ligado às artes" e, em miúdo, sempre gostou de "desenhar", contou como se sente nos combates. "Sinto que no combate sou muito manipulador e muito tático. Tento jogar sempre com inteligência e criar um jogo diferente. Adoro fintar os meus adversários e enervá-los no combate, levá-los à loucura. A melhor sensação é quando colocas atletas de renome a ficarem sem resposta e a não conseguirem anular a tua tática. É como quando observas o tiki-taka do Barcelona e vês que as outras equipas não o conseguem travar", explicou.
A lesão mais grave
"Nos oitavos de final das Universíadas sofri uma lesão grave no pé direito durante o combate e até o meu adversário ficou preocupado comigo", recordou o atleta. "No combate seguinte, dei tudo o que tinha mas estava com muitas dores. Fui até à vila olímpica fazer um exame e o médico que me assistiu disse-me: "se não soubesse que tinhas um tendão, não o conseguia ver neste exame"", continuou sobre um mau momento.
Melhor assundo são os Jogos Olímpicos. "Nos Jogos Europeus ganhei o 'bichinho' por ir aos Jogos Olímpicos. Ver a imprevisibilidade da competição, ter pela frente os melhores atletas do mundo e conseguir vencê-los é incrível. O que me faz querer ir aos Jogos Olímpicos é querer lutar contra os melhores", atirou, continuando: "Nunca se sabe o que vai acontecer, os atletas ultrapassam as suas capacidades. Dou muito valor aos taekwondistas que garantem o lugar nos Jogos Olímpicos e conquistam medalhas. Lutar contra alguém que tem a mesma vontade e determinação que nós é sempre especial. O meu sonho é vencer uma medalha nos Jogos Olímpicos e revolucionar o taekwondo português. Acredito que vou conseguir, sinto-me bem fisicamente e vou lutar com todas as forças para isso".
Antes, no entanto, Júlio Ferreira tem de se qualificar. "É uma morte-súbita mesmo. Se se perde um combate está-se fora dos Jogos Olímpicos. No entanto, tenho dormido bem e gosto de ter esta pressão. Sei da responsabilidade que tenho e o trabalho que tenho de fazer", sublinhou.
Nesta pequena resenha da vida, o atleta do minhotos fala ainda do peso, da dieta e de outros interesses para além do desporto. "Quando fazia -74 kg era sempre à tangente, só fazia dietas de uma semana. Agora faço -80 kg, ando sempre à volta dos 80 kg. Eu cozinho, faço um bom arroz e uns bons ovos... ma vá, sou um bocado limitado confesso. A mulher que me levar vai ter de me ajudar nesta tarefa (ri-se)", admitiu, mudando de assunto: "Adoro investigar sobre época clássica. Adoro ler sobre arquitetura, principalmente nesta fase em que estou a terminar os meus estudos. Depois, também gosto imenso de música, de ver filmes e de tomar café com os meus amigos".
Uma viagem de loucos
Por fim, Júio recordou uma das viagens mais atribuladas que teve de fazer. "Quando chegamos à Costa do Marfim, apanhamos um táxi para nos levar para o hotel. Na viagem até lá estávamos numa via rápida e, de repente, apareceu uma vaca. Apesar do Joaquim Peixoto gritar a dizer que íamos bater, o taxista não viu. O carro ficou completamente destruído, o animal morto, mas conseguimos sobreviver. Depois, apanhámos outro táxi para irmos para o hotel, mas fomos levados para uns contentores, onde nos asseguraram que íamos ficar mais seguros. Foi uma viagem de loucos", terminou.