José Poeira e a decisão da UCI para Tóquio'2020: "A escolha foi uma tortura"
Portugal terá pela primeira vez duas mulheres - Maria Martins e Raquel Queirós -, mas a "equipa" masculina será a mais curta de sempre, devido à decisão aberrante da UCI, que manteve o ranking de 2019
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O ciclismo vai ser uma das modalidades de abertura dos Jogos Olímpicos, com João Almeida e Nelson Oliveira e partirem para os 234 quilómetros da corrida de estrada logo pelas 3h00 portuguesas de sábado, terminando por volta das 10h30, após um percurso muito montanhoso (4865 metros de acumulado de subidas) entre Chofu, na zona de Tóquio, e o circuito automóvel de Fuji.
Alinham 130 corredores, de 57 países, e a prova é uma das que desperta mais expectativa, por ter a nova coqueluche do ciclismo nacional entre os candidatos aos lugares cimeiros. A dupla fará o contrarrelógio quatro dias depois e, embora as ambições aí ainda possam ser superiores, a preparação não tem sido fácil. Como novidade absoluta, Portugal terá ainda as estreantes Maria Martins, na pista, e Raquel Queirós, no XCO.
"Queríamos partir logo nos dias 10 ou 11, mas só viajámos a 16, para evitar a quarentena. Era necessária uma adaptação ao local, pois as previsões são entre 33 e 34 graus de temperatura e 85% de humidade, um problema. Só podemos sair do hotel de Fuji para treinar com escolta policial e as modalidades mais afetadas acabam por ser as que mais necessitam de adaptação, o ciclismo de estrada, o triatlo e as maratonas", desabafou José Poeira, selecionador nacional desde 1997, tendo já orientado Sérgio Paulinho na conquista da medalha de prata em Atenas"2004.
Sendo a "equipa" masculina a mais curta de sempre em sete presenças consecutivas, a qualidade do duo entusiasma, mas o processo de escolha foi dificultado por uma decisão aberrante da União Ciclista Internacional, que decidiu manter o apuramento com base no ranking mundial de outubro de 2019. Portugal era na altura 23.º e tinha direito a dois ciclistas, para um ano depois ser 13.º - posição que ocupou até esta semana -, o que valeria quatro lugares.
"A escolha foi uma tortura. Nunca pensei que me acontecesse isto, uma situação tão terrível. A UCI quis manter o apuramento de 2019 e entretanto houve muitas mudanças. Ainda falei à UCI, ao Comité Olímpico, dei todas as voltas que podia, mas mantiveram a decisão. Ficarei com esta mágoa para sempre, a de fazer uma escolha terrível", confessou Poeira a O JOGO, depois de ter deixado de fora Rui Costa, antigo campeão mundial e melhor no fundo nas duas anteriores edições dos Jogos (10.º e 13.º), e Rúben Guerreiro.
Reduzido a Almeida e Oliveira, o selecionador espera ainda assim bons resultados. "Sempre acreditei que lugares de honra são os 10 primeiros nos Mundiais e oito nos Jogos Olímpicos. Vamos procurar um lugar nesses oito, sabendo que as posições são do oitavo ao primeiro...", diz, achando que os percursos são bons para os seus ciclistas.
"A prova de fundo tem uma subida até 1500 metros de altitude e uma última escalada de uns oito quilómetros, em que a inclinação vai aumentando até quase 25%. Será muito duro, até porque essa se fará já depois dos 200 km de corrida. O grupo que passar na frente estará depois a 30 km da meta, quase todos a descer até ao autódromo final. Sendo a corrida uma incógnita, tem condimentos que agradam aos nossos corredores", explica, com a esperança de que João Almeida entre "na pequena seleção que se fará na última subida".
Para o contrarrelógio, o técnico lembra que os 44 km, em duas voltas num circuito, são muito duros: "O Nelson já esteve perto da medalha no Mundial e dá-se bem neste tipo de percursos, sabendo gerir o esforço. O João tem feito cronos de excelência, sempre nos cinco primeiros. Não sei qual será o melhor deles, tenho é esperança que corra bem, pois muitos vão quebrar naquelas subidas."