João Sousa a O JOGO: "Foi uma temporada mais exigente a nível mental do que físico"
João Sousa fez, em exclusivo para O JOGO, o rescaldo de um ano em que ficaram ilustrados "muitos altos e baixos". Um título conquistado e uma final perdida no ATP Tour ficam algo manchados pelas 15 derrotas em primeiras rondas, isto ao cabo de uma época que iniciou na 140.ª posição, ocupando hoje a 77.ª.
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A 15.ª temporada de João Sousa, de 33 anos, no circuito profissional, encerrou no passado sábado, no qualifying do Masters de Paris/Bercy. Após dez meses vividos com distintos estados de espírito e momentos de forma, fez um balanço com pontos positivos: "Foi uma época com muitos altos e baixos, mas também foi uma época em que consegui provar a mim mesmo e a muita gente aquilo de que sou capaz e que posso jogar ao mais alto nível".
A coroa de glória foi o título, na primeira semana de fevereiro, no ATP250 de Pune (hardcourt), na Índia, onde foi o último a entrar no quadro principal, devido ao 137.º lugar no ranking, para sair como 86.º, e "feliz pelo regresso ao top 100", que abandonara em março de 2021, após por lá ter permanecido ao longo de nove anos. O maior lamento foi ter "falhado a conquista do quinto título da carreira", no fim da primavera, no ATP250 de Genebra (terra batida), na Suíça.
"Apesar de tudo, a posição em que acabei é motivo de orgulho, mas quero sempre mais e este ano queria mais", anotou, lançando a avaliação aos ciclos menos bons. Insistindo nos "muitos altos e baixos", diz ter passado por "alguns momentos de certa desmotivação, outros em que joguei muito bem, mas não fui feliz, e tive ainda muitos encontros em que senti que joguei bom ténis, com oportunidades para dar a volta e não consegui vencer".
Várias dessas situações ocorreram nos 15 torneios em que foi afastado logo na primeira eliminatória. "Isso fez uma grande diferença e posso, por exemplo, lembrar os muitos tiebreaks que perdi [20 em 30 disputados] e são momentos importantes que, naturalmente, querem sempre dizer muita coisa. Quando regressarmos ao trabalho, eu e a minha equipa vamos tentar perceber aquilo que não esteve tão bem ao longo desta temporada, entrando isso nas prioridades a corrigir tendo em vista a próxima", acrescenta.
Entre o final de 2019 e o início de 2021, o Conquistador passou pelo maior período de calvário da carreira, em virtude de uma grave lesão no pé esquerdo. Não teve queixas no arranque deste ano, mas o gigantesco troféu trazido da Índia veio acompanhado de uma lesão na perna direita e, em finais de junho, durante o torneio de Wimbledon, começou a sentir dores no ombro direito. Passou a fazer tratamentos, que se prolongam até hoje.
"Foi uma temporada mais exigente a nível mental do que físico", faz, contudo, questão de afirmar, separando as águas: "A nível físico, acabei por ter algumas mazelas, sendo que ainda continuo com algumas, nomeadamente no ombro direito". No próximo mês de março, o vimaranense completa 34 anos e, sem data prevista para a retirada, prefere seguir o exemplo de Rafael Nadal: "Já não sou um jovem, sei que tenho de cuidar-me mais e, principalmente saber ouvir o meu corpo".
Antes das férias, João Sousa vai jogar, nos próximos dias, em Múrcia, o Campeonato de Espanha de equipas, ao serviço do Real Club de Polo, sediado em Barcelona, cidade onde reside desde 2004. "É um pedido que vem sendo feito todos os anos pelo capitão [Juan Gisbert], pessoa de quem gosto muito. Vou pelo prazer de jogar pelo meu clube em Espanha, não pela questão monetária".
O ano de João Sousa em frases
"Ainda posso elevar o meu nível e ambicionar vencer jogadores do topo. Tenho trabalhado bem, vou ter de voltar ao Challenger Tour, pois só assim posso concretizar o objetivo de subir no ranking"
18 janeiro (140.º do ranking ATP), após vencer a 1.ª ronda do da Open Austrália, como lucky loser
"Estes dois últimos anos foram muito duros e este título é bastante merecido, fruto de muito trabalho e dedicação. Foi uma semana de grandes emoções, para mim e para o Frederico [Marques, treinador]"
6 de fevereiro (86.º), após título no Open Sudoeste das Índias, em Pune, salvando match points
"Não consigo ter em competição o rendimento trazido do treino, sinto não estar a jogar bem e estar a atravessar uma fase um pouco apagada e, ao perceber isso, não me sinto feliz no campo.
8 de maio (82.º), após perder em Monte Carlo, Belgrado, Estoril, e qualifyings de Madrid e Roma
"Tiro ilações muito positivas desta semana em que joguei a um nível muito alto. Estive a servir para poder conquistar o meu quinto título e espero ser capaz de manter este nível no resto da temporada"
21 de maio (79.º), após perder final do Suíça Open, em Genebra, ante Ruud (8.º), 6-7, 6-4, 6-7
"Foram quatro semanas a jogar muito bom ténis, a sentir-me superior, mas é frustrante não ser capaz de vencer um único encontro. Estou a trabalhar para que as vitórias voltem em breve"
28 de junho (60.º), após perder 1.ª ronda de Wimbledon e somar 4 derrotas em relva
"Não tenho conseguido jogar ao meu nível e começa a não haver explicação. Não costumo recorrer a desculpas, mas tem havido momentos em que paree estar destinado a perder"
21 de agosto (59.º), antes do US Open e ao cabo de uma vitória em seis encontros
"Tenho vivido momentos duros, depois da boa exibição que assinei na Taça Davis, frente ao Brasil, e o objetivo de acabar a temporada no top 50 do ranking está comprometido"
10 de outubro (64.º), afastado da 1.ª ronda de Gijón, somando três derrotas seguidas
"Joguei muito bem e tive oportunidades para dar a volta ao encontro, tal como aconteceu várias vezes esta temporada. Agora é descansar e fazer umas boas férias, antes de iniciar a pré-época"
29 de Outubro (70.º), último encontro do ano, no qualifying do Masters de Paris