Hugo Silva falou em exclusivo O JOGO após intensas cinco semanas de Liga das Nações.
Corpo do artigo
Foi ainda em Leipzig, na Alemanha, onde decorreu a última poule da Liga das Nações, que o selecionador nacional de voleibol conversou com O JOGO.
Que aprenderam estes jogadores com a participação na Liga das Nações e os 15 jogos que fizeram em cinco semanas?
- Foram 15 jogos e mais cinco de treino no Chile, ou seja, foram 20 jogos em 35 dias. Aprendemos a perceber a diferença que temos para os melhores e isso é importante. Há sempre aquela vaidade dos jogadores, que acham que já sabem tudo, que já estão num nível muito bom, e esta presença fez com que as pessoas baixassem um bocadinho à terra e percebessem o nível que nos separa das melhores equipas do mundo. Foi importante também para tentarmos resolver aquilo que foi o nosso trauma aqui, que é saber lidar com momentos de stress, de pressão, já que todos os jogos foram momentos de grande tensão.
"Em tom de brincadeira, dizia a alguns amigos que já tinha comprado uns capacetes para a equipa"
Porque diz isso?
- Porque nós tínhamos uma tarefa muito difícil, que era a de lutar exclusivamente com três equipas para não descer de divisão. É de realçar que não fomos os últimos, mas tivemos a situação ingrata de discutir exclusivamente com três grandes seleções e daí ter sido desde o início uma tarefa complicada. Mas foi um crescimento para todos até ao nível da maturidade.
Para o treinador também?
- Muito, muito... Desde logo estou envaidecido por ter sido o único treinador português que fez parte de uma competição destas, que é a elite do voleibol mundial. Envaidecido, assumo, também por tentar mostrar o que é o treinador português e quais as capacidades que tem, sendo que há muito que os treinadores se revelam agentes do treino que fazem a diferença em qualquer modalidade. Foi uma experiência fantástica, obrigou-me a estar focado ao máximo. Isto vive-se de uma forma muito intensa, vive-se como mais nada se vive. Eu diria que fizemos o número de jogos de um campeonato nacional em apenas um mês, é de facto algo que exige muito de todos, uma força mental muito grande.
Consegue dar um exemplo de algo em que seja agora melhor treinador do que era há mês e meio?
- Acima de tudo, na gestão de conflitos. A pressão é de tal forma que por vezes temos de saber lidar com um dia menos bom de alguém. Acima de tudo, essa gestão, algo em que, assumidamente, sinto dificuldades.
Que dificuldades são essas?
- É nessa relação com os atletas. Sou uma pessoa mais distante e, por vezes, esta relação fica bastante pesada, quando não há esta abertura treinador/atletas. Tenho uma barreira, que coloco.
Mas é assim o Hugo Silva ou é assim o treinador?
- Quem me conhece, sabe que gosto de brincar, sou amigo do meu amigo, sou alguém em quem as pessoas podem confiar a 100%...
Mas como treinador fecha-se...
- Fecho, fecho, porque entendo que tem de haver essa barreira, essa distinção. Nós vivemos juntos 24 horas por dia e se houver esse facilitismo, esse abuso, digamos assim, e as pessoas não souberem separar aquilo que é a relação Hugo pessoa e Hugo treinador, passa a ser muito complicado resolver as situações.
"O RECEIO ERA PASSAR VERGONHAS"
"Lido muito mal com a derrota e evito falar a quente, apesar de às vezes ter vontade de o fazer. Prefiro isolar-me, se não for a caminhar é no quarto e tento falar só com uma ou duas pessoas, ou uma ou outra já me conhecem e são elas próprias que me ligam e acabam por ser muito importantes para aliviar esta tensão", admite Hugo Silva, explicando como lidou com 13 derrotas: "Eu preparei-me. Aliás, preparei-me para um cenário que felizmente não aconteceu. Em tom de brincadeira, dizia a alguns amigos que já tinha comprado uns capacetes para a equipa, porque ia ser levar tiros de todo o lado... O meu maior receio era passar vergonhas, já que nunca nos tínhamos deparado com uma competição destas e não sabíamos como a equipa ia reagir, mas foi precisamente o contrário. Pode ser antagónico, por estarmos fora de uma competição destas, mas em função daquilo que eram as expectativas iniciais, a equipa está de parabéns. Estão de parabéns pela forma como lutámos."
HÁ VALOR PARA FAZER AINDA MELHOR
Perante a dificuldade da Liga das Nações, e tendo em conta a inexperiência de Portugal a este nível, pode dizer-se que a grande vitória foi estar presente. Hugo Silva concorda. "Foi, sem dúvida que foi, e temos de o admitir. Isto é difícil repetir-se", responde o técnico maiato. "Acredito, no entanto, que a equipa tem valor para continuar a surpreender e, quem sabe, para podermos fazer um ano ainda melhor do que o passado, que foi o melhor de sempre para o voleibol português", atira.