Algarvios são a equipa mais "deslocada" da presente edição do campeonato de basquetebol, passando largas horas na estrada, num custo que consome mais de 75 mil euros do orçamento
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A terceira jornada da Liga Betclic vai oferecer, amanhã, um duelo entre os invictos Benfica e Imortal (17h00). Na ausência de equipas das ilhas no escalão máximo pela primeira vez desde 1997, os algarvios, que começaram a época com vitórias sobre CA Queluz (78-81) e Vitória de Guimarães (84-81), são a equipa mais "deslocada" da presente edição e a visita à Luz será uma das mais curtas (258 km para cada lado) que vão realizar durante uma época com demasiadas horas no autocarro.
Sem nenhuma viagem abaixo das duas horas e meia e várias acima das cinco (Ovar, Braga, Guifões, Guimarães, Porto), a formação de Albufeira vai perfazer cerca de 11 mil quilómetros nas 11 deslocações da época regular, mais as idas a Queluz e ao Porto na primeira fase da Taça Hugo dos Santos. O número subirá depois, mediante a presença na final a seis desta prova, o apuramento para play-off da Liga e os sorteios da Taça de Portugal. "É a nossa insularidade", resume a O JOGO o presidente Jorge Guerreiro, com a concordância do técnico da equipa sénior, Bernardo Pires. "Somos praticamente uma equipa das ilhas. Estou aqui há sete anos, sei bem quantos milhares "voam" para que isto continue a existir", diz Pires.
Deslocando-se sempre de autocarro, os algarvios optam por viajar de véspera quando jogam acima de Lisboa, o que, nas palavras do treinador, representa "um dia de treino perdido" e implica gastos com estadia. Também podem ir no próprio dia, se o jogo estiver marcado para o final da tarde. "Vamos de madrugada, voltamos após o encontro e são inúmeras as noites em que chegamos às três ou até às seis da manhã. No domingo, os nossos jovens vão à equipa B, precisam desses jogos para crescer e estão sujeitos a um esforço acrescido", relata o natural de Aveiro, lembrando que, em 2024/25, o Imortal só venceu um jogo fora de portas, pagando a fadiga de tantas horas de estrada - são pelo menos 20 nos dias de ida e volta ao Norte.Segundo Guerreiro, as deslocações dos seniores masculinos custam acima dos 75 mil euros, a que acresce a verba das seniores femininas, mais a dos escalões de formação, quando estes entram nos campeonatos nacionais. "É uma logística que acarreta muitos custos. Impede-nos ambicionar outros patamares e de cimentar o projeto", lamenta Pires, agradecendo o esforço da direção, que mantém o clube "sustentável".
Jogar na Luz com "irreverência"
Alentado por "criar um projeto que dê voz aos atletas portugueses, conquistar um troféu e atingir resultados, mesmo na periferia" - embora ache Albufeira "uma grande cidade" -, Bernardo Pires, de 32 anos e filho do antigo internacional Alexandre Pires, sente-se realizado no Imortal, prometendo mostrar na Luz a "irreverência de uma equipa jovem". "Temos noção das diferenças e dos objetivos distintos, mas vamos honrar o clube", assegura. Além disso, quer "um dia de celebração", já que a claque Raça Vermelha celebra amanhã 30 anos de existência. Os algarvios vão ainda jogar com um equipamento rosa, a ser depois autografado e leiloado, com o donativo a reverter para a Associação Oncológica do Algarve.
Apoios tardam em aparecer
O Imortal compara-se, no esforço das viagens, a equipas insulares como Lusitânia, CAB Madeira ou Galomar, que integraram a Liga Betclic nos últimos anos, mas estes conjuntos tinham a vantagem de serem suportadas pelos respetivos governos regionais para se deslocarem ao Continente. Em tempos, a formação algarvia, com "muito a perder e poucos apoios", segundo Bernardo Pires, chegou a realizar um contacto informal junto do Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ), na tentativa de receber alguma ajuda, mas a iniciativa não teve resultados práticos. Por outro lado, o clube depara-se com a mudança na Câmara Municipal de Albufeira, face à eleição de Rui Cristina para presidente. Havendo uma reunião com o novo presidente eleito, "esse será, sem dúvida, um dos assuntos a colocar", defende o técnico.
Juventude é motivode orgulho
Bernardo Pires é profissional, tal como os jogadores estrangeiros e o veterano Fábio Lima (37 anos), mas maioria do plantel do Imortal é composta por jovens. Boa parte é estudante, tendo "maior dificuldade em conciliar" as longas deslocações. A média de idades, de 22,3 anos, é motivo de orgulho, tal como a inclusão de André Silva (foto) e Luís Silva num cinco inicial da primeira jornada com três portugueses. "A lógica do projeto é o aproveitamento das camadas jovens e dos sub-23 para alimentar a equipa de sénior", explica Jorge Guerreiro, que o quer repetir nas seniores femininas.