O Sporting vai jogar pelo terceiro ano consecutivo a Liga dos Campeões, mas agora com um técnico que esteve na final de 2018. Thierry Anti é um dos treinadores mais cotados de sempre no nosso país e O JOGO falou com o francês.
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Thierry Anti, 60 anos, foi o escolhido pelos responsáveis do andebol do Sporting para substituir Hugo Canela, treinador que nos últimos três anos ganhou dois títulos nacionais. Com um currículo impressionante - campeão de França em 1988/89 pelo Créteil, quatro Taças de França e duas Taças da Liga -, no qual se destaca a presença na final da Liga dos Campeões pelo Nantes, em 2018, o experiente técnico francês confessa, a O JOGO, que este é um dos maiores desafios da carreira, pois está pela primeira vez fora do seu país, e reconhece que ainda sabe pouco sobre o campeonato português.
Escolheu o Sporting para a sua primeira experiência fora de França. Qual a razão desta escolha?
-Quando pensava em sair de França, havia dois países que me vinham à mente: Portugal e Alemanha. Na Alemanha, teria de ser um clube de topo para eu aceitar. Já no caso de Portugal, é um país onde o andebol está a mudar, com muitos bons jogadores jovens a surgir. Estava curioso para vir trabalhar cá e quero ajudar os jovens a evoluir. E o Sporting é um grande nome do desporto, não há muitos clubes na Europa como este, talvez apenas o Barcelona.
O Sporting começará a jogar a Liga dos Campeões a 15 de setembro, na Macedónia, frente ao Rabotnik. Savehof, Presov, Cocks e Bidasoa serão os restantes rivais
Ficou satisfeito com as condições oferecidas pelo clube?
-As condições são boas e o clube é organizado, até agora não tive qualquer problema. Todos os dias, os jogadores mostram-se motivados para trabalhar. Quem sabe no futuro se possa criar um campo de treinos, vamos ver.
É a primeira vez que deixa o seu país para trabalhar. É um grande desafio para si?
-Claro que é. Ao sair do meu país, quero ser campeão, como é óbvio, e quem sabe ganhar a Taça. Quero que o Sporting seja o clube número 1 em Portugal. Para que isso aconteça, tenho de encontrar as melhores soluções para que os jogadores possam evoluir.
Que conhecia do andebol português antes de aceitar esta proposta?
-O andebol português despertou-me algum interesse quando o ABC esteve na final da Liga dos Campeões. Depois, recordo-me da prestação da seleção portuguesa no Europeu de 2001, no qual foi uma equipa muito competitiva. Nos últimos anos, enfrentei Benfica, FC Porto e ABC nas competições europeias e começaram a aparecer alguns jogadores portugueses no campeonato francês, o que me deixou algo surpreso.
Que estilo de jogo pretende impor no Sporting?
-Em primeiro lugar, quero construir uma defesa muito forte e jogar rapidamente em contra-ataque. Criar algum rigor, para que os jogadores não cometam decisões estúpidas. Isto é como construir uma casa, primeiro constrói-se a base antes de colocar o telhado. Depois de as bases estarem construídas, tentar jogar um jogo bonito, porque temos de ter respeito pelos adeptos que pagam para ver um espetáculo no pavilhão.
Na Liga dos Campeões, é possível repetir a campanha do ano passado?
-Vai ser difícil, mas vamos trabalhar nesse sentido. Temos um grupo complicado e não será fácil chegar aos oitavos de final.
O plantel do Sporting já está fechado?
-Ainda não, gostava de ter pelo menos mais um jogador.
Pretende trazer algum dos jogadores que trabalharam consigo no Nantes?
-Agora não, mas pode acontecer daqui a alguns meses. Em França, a notícia da minha vinda para o Sporting foi muito divulgada na comunidade do andebol e já vários jogadores, não só do Nantes, falaram comigo para saber se havia a possibilidade de virem para o Sporting.
"Se sou parecido com Obradovic? Não o conheço muito bem, mas diziam que eu era o treinador mais sérvio de França"
"ERA IMPORTANTE TER RUI SILVA COMO MEU ADJUNTO"
Rui Silva foi um dos escolhidos para integrar a equipa técnica por Thierry Anti no Sporting. O treinador de 35 anos estava no ISMAI, mas já tinha trabalhado com Ljubomir Obradovic no FC Porto e é um velho conhecido do técnico francês. "Só estamos a trabalhar há cerca de um mês, mas já o conheço há dez anos e tem as mesmas ideias de jogo que eu. Considero-o um amigo e é importante tê-lo como adjunto, até porque conhece bem o campeonato e os jogadores. É um treinador mais novo e gosto de ter jovens a trabalhar comigo", explicou Anti.
"FC PORTO ESTÁ FORTE, MAS TUDO PODE MUDAR"
Ainda a conhecer as particularidades do campeonato português, Thierry Anti garante que não vai subestimar nenhuma equipa, mas considera que há demasiados jogos no Andebol1 para se decidir um campeão.
Do que viu no Torneio de São Mateus, qual dos rivais está mais forte, Benfica ou FC Porto?
-Agora, o FC Porto está mais forte do que nós, o que é natural, porque é o atual campeão. Mas ainda estamos no princípio da temporada e tudo pode mudar. Aliás, estamos a trabalhar para que haja essa mudança e para podermos dar grandes passos. Neste momento, temos muitos jogadores de fora por lesão...
Haverá outras equipas com capacidade para atrapalhar os candidatos ao título?
-A verdade é que temos de respeitar todas as equipas e não podemos dizer que um adversário vai ser fácil. Claro que, depois do jogo, se as coisas correrem bem, aí podemos dizer que não foi difícil. Mas eu acabei de chegar, ainda estou a tentar perceber como isto funciona.
Com base nos jogos de Torneio de São Mateus, o treinador leonino considera que, neste momento, o FC Porto é o principal candidato num campeonato com 36 jogos. "É muito, em França são só 26", diz
Só depois de defrontar todas as equipas, é que vai ter ideia sobre qual a real valia de cada adversário?
-Talvez, mas considero que ter de fazer 36 jogos para ser campeão é muito. Em França eram só 26 encontros. Há uma primeira fase e fica logo decidido o título. Considero que há muitos jogos em Portugal. Além disso, existem equipas que jogam competições europeias e jogadores que representam seleções nacionais, pelo que podem fazer até 70 jogos por época. Não pretendo criticar o formato, mas considero que são demasiadas partidas.
Ainda há uma grande diferença entre o campeonato português e o francês?
-Sim, há. Em França joga-se sempre a um grande nível. Preciso estar muito concentrado em todos os jogos e os jogadores não podem fazer passes ou remates quando não têm a certeza de que vão ser bem sucedidos. Um profissional de andebol tem de ter rigor nas decisões que toma.
"EM PORTUGAL HÁ MUITO TALENTO"
Thierry Anti acompanhou a fase de qualificação para o campeonato da Europa e ficou surpreendido com a vitória de Portugal sobre a França. O treinador também seguiu de perto os Mundiais de sub-19 e sub-21 e considera que os resultados das seleções portugueses não foram um acaso.
Portugal venceu a França na fase de qualificação para o Europeu. Ficou surpreendido?
-Tenho de confessar que sim. A França jogou muito mal, enquanto Portugal fez um grande jogo e atuou de forma inteligente.
Considera que a França subestimou o adversário nesse jogo?
-A França não subestimou o adversário, as coisas apenas não correram bem. Portugal é que fez um grande jogo e acreditou que podia ter um dia bom, o que acabou por acontecer.
"Portugal pode surpreender no Europeu? Vai ser difícil, mas irá depender do que fizer contra a França"
Acredita que Portugal pode surpreender no Europeu?
-Portugal está no mesmo grupo da França e também defronta a Bósnia Herzegovina e a Noruega. Vai ser muito difícil para a seleção portuguesa, mas tudo irá depender do que fizerem no jogo contra a França, que é, juntamente com a Noruega, a favorita a passar à fase seguinte.
Recentemente, as seleções jovens portuguesas conseguiram excelentes resultados nos Mundiais de sub-19 e sub-21. É um sinal de que o país vai estar mais regularmente nas grandes competições?
-Acredito que sim, em Portugal há muito talento e muitos bons jogadores jovens a aparecer. Também estou aqui para ajudar essa nova geração a evoluir. Os resultados dos sub-19 e sub-21 não foram sorte, mas fruto do trabalho e do talento que existe. É preciso constatar que só Portugal e Egito estiveram entre os quatro primeiros dessas duas competições, o que, em minha opinião, não aconteceu por acaso.